DEZOITO

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— Finalmente! — Pestanejou Emma, uma vez que chegamos no estábulo. — Onde diabos vocês estavam?

— Estou um pouco lento, desculpe — desconversa Lowan. Em parte, era verdade.

— Vamos usar apenas três cavalos — anuncia, mudando de assunto. — É melhor que Lowan não cavalgue sozinho enquanto esse ferimento estiver sensível. Você vem comigo.

O garoto vai até Emma sem protestar, arriscando um olhar para mim antes de subir no cavalo. Meu coração erra uma batida, presa em seus olhos vermelhos e na memória inconveniente de alguns minutos atrás. Olho para baixo, repelindo o sentimento. Ara revira os olhos e bufa ao subir em outro cavalo.

— Olá Magnus — cumprimento baixinho enquanto acariciava sua crina, me lembrando de quando cavalguei na floresta interna pela primeira vez. Talvez eu não devesse me apegar a um animal.

— Precisamos ser discretos — Instrui a General, dirigindo-se especialmente à mim. — Se encontrarmos uma tribo ou qualquer outro espião, podemos acabar com tudo.

— Demora muito para chegar em Oriwest? — Pergunto assim que me acomodo em cima da cela.

— Dois dias, mas não podemos arriscar as cavernas como abrigo. Podem haver criaturas... ou fendas. Por isso as tendas verdes — orienta, apontando para dois grossos tecidos verde-musgo, enrolados e amarrados nos lados de sua cela.

Logo, todos estamos prontos, seguindo o cavalo de Emma e Lowan rumo à fronteira. Pegamos um caminho que nunca havia visto antes, chegando muito mais rápido na muralha que dividia Syfer de A Floresta. Conforme nos aproximamos, uma sensação peculiar — como uma densa onda de energia — passa por mim embrulhando o estômago e fazendo meus batimentos cardíacos acelerarem-se. Não é a primeira vez que isso acontece; o porquê ainda é desconhecido e me causa ansiedade.

Em frente, uma quantia significativa de guardas que protegiam as redondezas fazem posição de sentido ao avistarem Emma. Sinto um arrepio pela espinha.

Eles observam cada um de nós, se demorando em mim; provavelmente a única pessoa que não conhecem. Quando se dão por satisfeitos, parte deles vira as costas e aciona uma alavanca, abrindo uma das partes da muralha lentamente; dando-nos a vista de Powal. Faziam dois meses desde que eu entrei por esta muralha, e confesso que agora, saindo dela, me sinto diferente. Meus ombros tensionam. Sinto frio na barriga.

Tanta coisa mudou.

Algo na forma como as árvores crescem em Powal é diferente das florestas na Terra. Elas são, em parte, altas e verdes, mas o solo é viscoso e seus troncos diferem em nuances de marrom e cinza. Elas se agrupam de forma densa e variam de relevo, espessura e espécie conforme cavalgamos entre a vegetação. Há lugares com mais névoa, mais arvores sem folhas e espinhos, outros com grande quantidade de minérios coloridos ou fungos. Este lugar, acima de tudo, me lembra do dia em que vim parar aqui.

E para mim, o perigo poderia estar à espreita em qualquer canto.

Com o tempo, a floresta ia ficando mais escura, e em algum momento precisaríamos parar para montar as tendas. A noite seria fria, e acho que acabei por estar mal acostumada demais às cobertas quentinhas do castelo. Não precisava perguntar para saber que não era seguro acendermos uma fogueira no meio de Powal, enquanto íamos diretamente para um lugar onde não éramos bem vindos. Aquilo só chamaria mais atenção.

— Paramos por aqui — avisa a General quando se dá por contenta com uma parte escura e mais escondida da mata, que ficava próxima ao encontro de uma montanha manchada por musgo e um conjunto de minerais foscos.

Princesa das Trevas (em revisão)Where stories live. Discover now