sete

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Marjorie Mildred

   Acordei cedo no dia seguinte e fui para aula. Foi quase impossível prestar atenção no que a professora de História da Moda estava falando na sala quase vazia enquanto meus pensamentos me levavam até a noite anterior e as palavras de meu pai que haviam soado como promessas. Você se transformará em uma arma. A mais letal que já existiu. Como Gracefall era minúscula e moda não era lá um dos cursos mais requisitados do planeta, não havia mais que quinze alunos ali. Observei o esquema no quadro negro e resolvi ignorá-lo enquanto fazia um esboço do punhal prateado no canto de uma folha de meu caderno.

Estava ansiosa para ir até minha casa e traduzir o segundo capítulo de Cacce Alla Spada. Então quando a aula acabou, sendo meu último período, segui para o estacionamento da faculdade com um pouco mais de pressa que o habitual. Entrei na minha picape e girei a chave na ignição. Como não precisava ir para livraria às segundas-feiras, dirigi para minha casa.

Assim que estacionei em frente ao chalé, desci do carro, batendo a porta. Ajeitei a alça da bolsa que atravessava meu tronco e estaquei os pés no chão ao notar a figura parada no deck de madeira, os braços cruzados em frente ao peito e um olhar sério. Suzanna deu um passo para frente, dizendo:

— Vamos começar o treinamento.

Franzi as sobrancelhas, lançando um olhar ao redor. O carro de meu pai não estava. Só então notara uma Mercedes estacionada do outro lado da estrada, presumindo que fora assim que Suzanna chegara até aqui.

— Não quero treinar. — Apertei meus dedos ao redor de minha bolsa com força.

— Seu pai deu as instruções, garota. — Ela deu mais um passo para frente. — Coloque algo mais confortável do que isso que está vestindo.

Eu baixei o olhar para minhas próprias roupas. Eu usava um cropped listrado e uma jaqueta jeans além de uma saia de couro e coturnos. Não parecia mesmo apropriado para a situação. Ignorando-a, atravessei por ela e entrei no chalé, entrando e virando a tranca da porta. Subi para meu quarto, chutei as botas para longe e soltei um suspiro pesaroso.

Meus olhos foram automaticamente para a caixa que guardava o livro. Não fazia sentido. Não era possível que minha mãe fosse daquele jeito. Por mais que eu tivesse convivido com ela por apenas doze anos de minha vida, sua memória era fresca em minha mente. Ela era o tipo de pessoa que era espirituosa e conquistava todas as pessoas ao seu redor. Não era uma caçadora de seres sobrenaturais. A não ser que ela assasse biscoitos para o clube do livro em que frequentava nos fins de semanas pelas manhãs enquanto saía para matar lobos à noite.

Folheei o livro de minha família outra vez. Segurei-o na mão. Fiquei longos momentos fitando-o. Passei meus dedos pela lombar, arrastando meu indicador até o topo das folhas e repeti o movimento pelo menos umas três vezes até notar algo incomum.

Havia um pequeno relevo sob o invólucro de couro preto desgastado. Peguei uma tesoura e abri uma fenda no ponto em que eu sentia que tinha algo escondido. Como eu suspeitava, um pequeno papel dobrado estava guardado dentro da lombar. Com o coração disparado, o abri.

Nem tudo é o que parece ser.
Quando o treinamento chegar, você não o questionará.
Apenas confie em mim,
Mãe.

Ela já sabia sobre o treinamento. Aquele fato me deixou um pouco perturbada. Mais do que eu gostaria. Hesitante, comecei a vestir uma calça legging e um top esportivo. Suzanna estava com uma expressão fechada quando voltei lá para baixo. Parecia irritada por eu tê-la deixado esperando por tanto tempo.

Quase dei meia volta e voltei para dentro. Mas então lembrei-me do bilhete de minha mãe. Confie em mim. Deus, eu iria enlouquecer em breve. Não sabia até onde poderia suportar aquele novo mundo esquisito e sobrenatural. Suzanna me levou até a floresta. Ela carregava uma mochila preta nas costas. Eu estava com medo mas apesar de tudo, sabia que meu pai não me colocaria em risco.

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