Transformação

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​Ângela estava deitada na cama, enrolada em um cobertor se abrigando do frio. David, sentado na borda da cama a admirava, fitando-a com um sorriso, aliviado por ter contado toda a verdade.

​Cecilia já não estava no quarto. Saiu para descansar após uma longa conversa com os dois.
​Na conversa, David, havia falado de como conheceu Valquíria. De como a ajudou levando o galão de combustível. E de quando acordou, com dores inimagináveis por todo o corpo.

Sentia um gosto de sangue em sua boca, que não pereceu ter vindo de seus ferimentos, assim como a dor que percorria todo seu corpo, como se estivesse sendo queimado de dentro para fora. Estava em um quarto com pouca iluminação, completamente vazio e sem moveis. As paredes de pedras eram frias e húmidas, onde eu estou? Pensou, se esforçando para suportar a dor, e tentar reconhecer o local onde estava.

Uma porta se abriu. Alguém havia entrado na sala húmida. Ele se esforçou para reconhecer quem era.

- Valquíria? - Murmurou, reconhecendo o rosto, iluminado por uma lamparina que ela carregava - o que está acontecendo comigo? Eu preciso de um médico.

- Um médico não vai resolver o seu problema, mio caro. - disse a ruiva, jogando três bolsas plástica em sua direção, após ter cortado uma delas - isso vai!

Ao sentir o cheiro do que escorreu da bolsa com o pequeno rasgo, soube que era sangue, o aroma nítido e limpo, em seu olfato. Sentia cada molécula do odor que entrava em suas narinas. Percebeu que não era mais o mesmo naquele momento.

​- O que você fez comigo? - indagou.

​Ele pigarreava, sentindo sua garganta arder, tão seca que nem havia saliva para engolir.

​- O que fiz? - questionou valquíria, indiferente - eu apenas te salvei. Vi quando o carro saiu da estrada e colidiu com a arvore. Eu não sabia que era você. Fiquei surpresa quando te vi quase morto. E como eu tinha uma dívida, decidi lhe salvar - ela deu de ombros, antes de completar a frase - te transformando.

​- Me transformando? - ele tossia e falava com dificuldade, sentia seus ossos estralarem, como se estivessem trincando - do que você está falando? Me transformando em que?

​- Ao longo de séculos, já nos chamaram de diversos nomes, Guardiões, deuses, bruxos, Peste, Praga. Mas, nos últimos três séculos, os humanos inventaram uma nova palavra. Vampiro! Particularmente, eu amo essa. É bem mais... simples. Além de charmosa - Valquíria usava um tom casual, fazendo suas palavras não parecerem absurdas - A propósito, é melhor tomar logo essas bolsas de sangue. Só assim esses ferimentos irão cicatrizar, e você irá se livrar de todo esse desconforto. Demora um pouco com esse sangue ensacado, mas, logo logo, estará chegando o que vai te curar em um piscar de olhos. Não, melhor dizendo, em uma dentada - ela riu da própria piada infame.

​- Eu não vou colocar essa merda na minha boca! - exclamou rispidamente, se contorcendo e grunhindo ainda mais com as dores que o rasgavam por dentro.

​- Você é quem sabe - deu de ombros - mas se não tomar, seu corpo irá paralisar completamente. Ressecar até parecer uma múmia. Não terá forças nem mesmo para piscar. - Valquíria começou a caminhar em direção a porta que entrou - mas não se preocupe. Não deixarei que chegue a esse ponto. Tenho uma dívida com você, e vou arcar com ela.

​- Você não me deve nada! - Grunhiu.

​- Quanta gentileza da sua parte. Admiro seu coração, David. Mas minha família leva muito a sério essa coisa de dívida. - informou, abrindo a porta, fazendo os olhos de David arderem com a iluminação externa - até logo.

Antares, O Coração Do EscorpiãoWhere stories live. Discover now