TRINTA E UM

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Elay. Verão de 2018.

Não estou surpresa por dar de cara com Thalles, afinal de contas, estou na casa dele e tive total consciência dessa possibilidade (talvez até um pouco de expectativa, devo confessar)

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Não estou surpresa por dar de cara com Thalles, afinal de contas, estou na casa dele e tive total consciência dessa possibilidade (talvez até um pouco de expectativa, devo confessar).

            Mesmo assim, meu coração faz o favor de dar uma cambalhota e eu preciso fingir estar assustada para manter a dignidade intacta. Coloco as mãos sobre o peito e sinto meu coração martelar a caixa torácica. Thalles está completamente travado.

            ― Oi ― cumprimento, soando patética.

            Ele não responde, ainda em estado de torpor. É engraçado vê-lo dessa forma, mas eu não rio porque não quero arriscar despertar seu lado indiferente. Suas bochechas estão vermelhas, os lábios entreabertos e os olhos verdes vidrados em mim. Ele não pisca e nem parece respirar.

            ― Eu vim ver Cat ― me explico, tentando fazer com que ele reaja.

            Ele pisca e dá um longo suspiro.

            Cat me chamou para jogarmos conversa fora. Nunca fomos muito amigas, ela era muito novinha quando eu morava por perto, mas agora é fácil conversar com ela. Temos muitas coisas em comum.

            ― Hum ― ele murmura, descendo o olhar para os meus pés. Ainda estou usando o uniforme da Rabisco & Disco, que não tem nada de especial.

            Na noite passada, Thalles e eu chegamos o mais perto de uma reconciliação desde que voltei. Foi como se o peso de cinco elefantes houvesse sido retirado das minhas costas e eu achei que fosse ser um pouco mais normal encontrá-lo depois disso. No entanto, aqui está ele, agindo como se eu fosse algo absurdo.

            Esse pensamento me motiva a tocar seu ombro direito, tentando trazê-lo de volta para a realidade. Não posso dizer que funciona, mas ele pelo menos diz alguma coisa:

            ― Bom te ver!

            Seu tom é tão desesperado que eu solto uma risadinha. O ato o faz piscar algumas vezes e se afastar do meu toque. 

            ― É bom te ver também ― retribuo o comentário, sorrindo feito boba.

            Thalles está agindo estranho, mas algo nisso faz ele parecer fofo. Nunca imaginei que essa sua nova versão pudesse agir assim. Fala sério, ele está até corado.

            Fico esperando que ele diga ou faça alguma coisa, mas ele continua preso no modo surpreso. Quando já parece tempo demais para ficarmos nos encarando, decido facilitar.

            ― Preciso ir embora.

            Vários vincos se formam na sua testa, como se eu houvesse citado um problema matemático complicado.

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