Capítulo 2

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Amarílis, Ruínas de Fiore - 6 de brumário.

Fiore... o lar do lendário mestre dos magos, Azael, o azul. A cidade agraciada com a mais bela das Torres de controle de toda Locande, agora era um monte de ruínas sem nenhuma alma viva para contar história, não havia restado nenhum nativo de lá todos havia sidos consumidos pela luz divina e tudo o que restava agora eram lembranças... Lembranças marcadas na mente de uma menina que sequer sabia o que iria fazer de sua vida, todos e quaisquer planos que teve um dia pareciam totalmente obsoletos diante de seu coração estilhaçado. Até mesmo o céu entendia sua dor, derramando suas lágrimas, acompanhando com seu abraço frio o corpo que se movia entre os escombros, forçando-se a carregar um cadáver através de toda aquela destruição, apenas para lhe oferecer um lugar de descanso final.

O peso que sentia em suas costas, não era apenas do garoto morto, mas também da morte de milhares de pessoas que com certeza teriam muito mais a oferecer do que ela. Freysantia, a garota abandonada na floresta ainda bebê, criada por um sábio mago, atormentada por um garoto mimado e salva por ele apesar de tudo... Cada insulto, cada farpa que trocaram todos aqueles anos, toda aquela briga infantil martelava em sua mente, forçando suas lágrimas, mas ela se recusava a continuar chorando. Sentar e chorar não traria ele ou Azael de volta, nada incluindo se lamentar iria trazer eles de volta, mas uma coisa sabia que poderia fazer, mesmo que custasse sua vida era matar o causador daquela tragédia.

Parou, e com os olhos vermelhos de tanto chorar olhou para o lugar que costuva ficar a Torre, sua casa. Algumas poucas pedras haviam resistido ao poder, pode caminhar ate a enorme área de pé e se lembrou exatamente de onde estava. O salão comunal, onde em dias de festival ou no inverno, Mors abria o lugar para oferecer comida quente e bebida, lembrava-se da música e das risadas altas dos homens conversando sobre suas aventuras mirabolantes, e do som dos pés dançantes das moças contra o piso de mármore. Em um daqueles dias alegres, Frey tentou dançar, mas era desengonçada demais para tal seu corpo nunca foi propicio para uma destreza tão dançante, a risada alta de Klay veio a sua mente, naquela noite ele a importunou o tempo inteiro. "Parece um pato selvagem", ele disse rindo da menina antes do punho dela acertar seu nariz.  Tantas vezes se enfrentaram que para Frey se tornou um hábito colocar Klay em seu lugar usando a força bruta.

─꫶ࣴ─᩠ᰱ─᳝ᨗ─̷̸࣭─᳝ࣴᨗໍ▸ Acho que nunca mais vou poder ouvir sua voz. ── resmungou com a voz baixa, e deitou o corpo pesado no chão. Seus músculos estavam doendo de tanto carregar o cadáver, mas ela não iria desistir até levar o corpo para  a pedra da pós-vida, ele merecia essa última homenagem que se presta aos mortos. ── Espere um pouco, apenas quero...

Seu corpo estava tão cansado que nem falou muito, apenas despencou no chão, sem mais forças. Sua respiração estava pesada, precisava de um descanso, afinal era uma humana como qualquer outra tinha seus limites, não dormia de um modo descente há quatro noites e os efeitos da negligência começavam a se mostrar fazendo suas pálpebras ficarem mais pesada e seu corpo adormecer mesmo diante da dor. Precisava de desncaso, mas não seria naquele momento, usou sua força de vontade para erguer seu tronco e ficar apoiada sobre as mãos e os joelhos.

sentiu o focinho frio da raposa molhada, seja olhos a fitavam com algum tipo de pena, o animal aproximou-se mais até tocar o cristal em seu pingente e a voz dele se projetar:

─꫶ࣴ─᩠ᰱ─᳝ᨗ─̷̸࣭─᳝ࣴᨗໍ▸ Você precisa descansar, não se preocupe com Klayze, irei fazer as homenagens fúnebres para ele, se é por isso que continua. ── sua voz era como de alguém que estava simplesmente uma mera obrigação, e aqueles olhos não lhe inspiravam nenhuma confiança. ── Pode acreditar em mim, não posso quebrar uma promessa.

Frey assentiu com a boca levemente aberta, já não puxava mais o ar pelo nariz, estava esquecendo-se até de respirar adequadamente. Sua mente estava dando voltas e voltas, e ainda sim ficou de pé. Caminhou até o centro do salão onde costumava ficar o poço da fogueira, agora só restava um buraco se abaixou abaixou perto dela e começou a fuçar ali, tirando as pedras que insistiam em ficar em seu caminho. E, como era de se esperar seu corpo não resistiu muito, seu próprio cérebro resolveu desligar-se para repousar.

Sentiu como se seu corpo caísse sobre um monte macio de pétalas de flores, até mesmo um aroma adocicado invandiu suas narinas relaxando ainda mais o seu corpo, era como se estivesse dentada na melhores das camas, envolvida pelo calor do sol e sendo acariciada por uma brisa primaveril e então, o som de uma flauta. Abriu seus olhos, escutando aquela melodia tão familiar, mas se surpreendendo com o belo lugar no qual estava com belas árvores de folhagem rosadas. Aqui é o paraíso, pensou, é mais belo do que eu pensava, levantou-se sentindo toda sua vitalidade renovada com o coração mais leve só de respirar aquele ar. Caminhou por uma trilha de pedras cinzas, observando cada uma das árvores, que balançava com a brisa suave e sua chuva infinita de folhas rosada que se amontoavam pelo chão ou sobre a superfície de um pequeno lago cruzado por uma ponte de madeira que parecia ter sido feita por um mestre artesão. Ao olhar mais para o alto viu uma imensa copa vermelha de uma árvore que balançava com a brisa como as demais, mas não desprendia uma pétala sequer.

Cruzou a ponte de madeira para continuar pela trilha e com o tempo viu-se em frente a enorme árvore de folhas vermelhas, mas sem dúvidas o que mais lhe abismou foi a criatura que viu dormindo ao redor dela, como se seu corpo fosse a proteção para ela, estava o mais raro da espécie dos dragões e não era apenas isso, a criatura era igual ao que viu no observatório ao lado de Azael, um dragão branco. Impossível não ficar boquiaberta, deu um passo para dentro no circulo de grama em que ele estava, mas antes mesmo que pudesse toca-lo se surpreendeu com a construção enorme mais ao fundo, o tipo de lugar que deixaria qualquer Torre parecendo um casebre, nunca tinha visto uma arquitetura como aquela, e ficou muito mais curiosa. Se afastou do dragão, teve que fazer uma imensa volta até consegui chegar perto da escadaria que dava acesso a estrutura de mármore branco que brilhava feito pérola.

Pisou no primeiro degrau, então escutou a melodia de uma flauta, era tão parecida com daquele homem... De súbito toda a paz que estava sentindo sumiu, dando lugar a ira, correu com velocidade na direção do som, cruzando um enorme bosque de árvores rosadas, não tinha certeza para onde iria, mas queria a todo custo encontrar quem estava tocando aquela melodia, queria matá-lo com suas próprias mãos. Seu peito estava em chamas, o ódio lhe movimentava como nenhum outro sentimento poderia ser capaz, entretando teve que se deter ao alcançar a cachoeira e em uma rocha elevado as margens do rio ver uma figura sentada tocando a flauta enquanto seus cabelos cor de sangue balançavam com a brisa. Tudo perdeu seu sentido novamente, diante daquele emaranhado de fios escarlates, seus pés começaram a se mover sozinhos para perto daquela rocha enquanto seus olhos estavam fixos em seus cabelos.

O tecido lilás e branco também seguiam o ritmo da brisa dando a ela um aspecto ainda mais místico. Seus cabelos estavam presos vários adornos de ouro com uma trança bem elaborada, dando ao seu rosto de traços tão delicados uma nobreza única. Ela era realmente aquela dama escarlate? Ali parecia ser alguém tão pacífica, alguém tão amável... Então os olhos dela se abriram, duas esferas de fogo que focaram diretamente em Frey, causando uma palpitação diferente em seu coração que lhe causou dor. Caiu no chão de joelho
sem entender o que foi aquilo. A música havia cessado, e agora a dama escarlate estava em frente a ela, lhe encarando de cima como se esta fosse alguma intrusa, mas ela não disse nada, apenas virou-se para ir embora. Frey não conseguiu se conter, lembrando das palavras de Azael sobre ela ser a unica capaz de salvar Locande, esticou-se ao máximo para tentar segurá-la, mas tudo o que conseguiu foi segurar no tecido de suas vestes, que rasgou e Frey caiu no chão, dessa vez mergulhando na escuridão profunda.

Príncipe dos MagosWo Geschichten leben. Entdecke jetzt