Príncipe dos Magos

Capítulo 3

Amarílis, Ruínas de Fiore - 8 de Brumário

Uma melódia calma e cheia de magia fluía preenchia todo ambiente, despertando pouco a pouco a consciência que por muito tempo encontrou-se presa a trevas. Frey não tinha uma noção exata de quanto tempo havia se passado, mas não se importou nos primeiros instantes pois tudo o que queria saber era de onde vinha aquela melodia tão hipnotizante e cheia daquilo que a vida nunca poderia lhe dar: paz, alegria e conforto. Apurou sua audição percebendo que estava em um local mais fechado permitindo ao som uma concentração maior ali, forçou-se a abrir os olhos que estavam grudados com a remela, quis limpar, porém seus braços pareciam presos por algum tipo de corda, mantendo-os no lugar.

Uma luz alaranjada se projetava no que deveria ser o teto de uma gruta, estava quente e aconchegante ali, embora fosse esperado umidade e um odor insuportável. Piscou algumas vezes, então baixou o olhar para seu peito vendo a figura branquinha dormindo enrolada em suas muitas caudas, e ainda sim não pesava em absolutamente nada em seu peito. Lembrava-se da raposa que havia lhe ajudado, aquela estranha raposa mística, uma kyoui, longe de sua alcatéia ─ algo estranho para criaturas tão apegadas a companhia de suas espécies ─ ajudando-a somente porque Klay havia pedido... Klay. Ele voltou como uma lembrança dolorosa, e não somente ele como os flashes de todo aquele desastre em Amarílis. Quis chorar, mas as lágrimas deveria ter secado após tanto tempo sem comer ou beber.

Ela ainda se perguntava como conseguia manter a consciência após tanto tempo.

Pressionou a ponta dos dedos contra o chão sentindo, o tecido macio como veludo que cobria enquanto folhas de bananeira serviam de colchão. Ficou sentada após algum esforço, a kyoui em seu peito acordou mau-humorada, mas logo sorriu ao ver que a jovem Frey encontrava-se sã.

Frey observou atentamente cada canto daquele lugar, estava realmente em uma gruta e ela sabia exatamente qual era. Costumava chamar de Gruta Celeste, pelo modo como a água parecia cheia constelações. A água estava calma, e uma fogueira havia sido acesa há alguns metros de ambas, tornando o lugar quente e ainda havia algo sendo assado num graveto, sua boca salivou, estava realmente faminta. Quis levantar-se e ir até lá pegar o que estava sendo preparado, mas seus olhos se detiveram numa figura de costas largas e bem definidas que parecia entretida com o que tocava em sua flauta de bambu.

As imensas tatuagens em suas costa e ao longo dos braços não passaram despercebidas, aquelas linhas lhe eram familiares, mas não sabia dizer ao certo de onde as conhecia. Quando a última nota soou, aquela imagem desapareceu como se fosse uma fumaça dourada levada pelo vento. Uma visão encantadora.

Segurando-se na parede da gruta conseguiu manter-se de pé e dar alguns poucos passos antes de suas pernas falharem, por ação rápida de um par de mãos grandes e quentes ela não foi ao chão. Seu olhar cruzou com um par de esferas incandescentes mais encantadoras que poderia ver em toda sua vida, e o dono daqueles olhos parecia feliz em ver Frey.

─꫶ࣴ─᩠ᰱ─᳝ᨗ─̷̸࣭─᳝ࣴᨗໍ▸ Você dorme que nem uma pedra, já estava pensando que havia morrido. ── disse com um largo sorriso soltando Frey quando ela não estava com seus pés ainda firmados. ── Sabe, eu até gosto de visitar outro planos, mas eu preciso voltar para minha senhora antes que algo aconteça. Coma algo, e recupere logo suas forças, preciso que reabra o portal que me trouxe.

Frey soltou um leve grunhido quando caiu no chão, olhando para o homem que lhe encarava sem o menor pingo de empatia. Respirou fundo, e buscou colocar-se de pé mais uma vez. Ficou escorada na parede por alguns instantes antes do moreno de olhos flamejantes entortar a cabeça para o lado esperando que ela fizesse o que havia sido pedido.

─꫶ࣴ─᩠ᰱ─᳝ᨗ─̷̸࣭─᳝ࣴᨗໍ▸ Normalmente sou uma pessoa muito paciente, e que vai de acordo com o tempo de uma dama, mas eu realmente preciso voltar. ── ele ficou mais sério.