F R E E S P I R I T

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— A cápsula do tempo da segunda-série. — Safira riu, se sentando no chão de madeira da velha casa na árvore que ficava no quintal de Hood. — Você encontrou.

— Eu esperei os dez anos para desenterrá-la. — Ele se sentou do lado dela. — Eu e os garotos já abrimos, mas tem algumas coisas suas aí então... Achei melhor guardar para quando voltasse, se voltasse.

Cohen sorriu, abrindo a pequena lancheira de metal enferrujada e pegando todas as coisas que estavam lá dentro. Seu antigo gloss favorito de morango estava ali, assim como sua camisa do time de futebol da escola e uma pulseira de amizade que havia dado para sua melhor amiga naquela época. Ela suspirou pegando item por item, coisas que foram de imensa importância para ela um dia e, como uma brincadeira do destino, viu a pequena foto polaroid que estava grudada em velhos post-its cair em seu colo. Lá estava ela, ela era uma garota de apenas oito anos montada em Storm, seu cavalo favorito e, ao lado dos dois, estava sua pessoa favorita.

Mordeu os lábios ao ver a foto da mãe sorrindo, como se tivesse medo de que aquilo abrisse uma ferida que ela pensou já estar curada, mas, felizmente, isso não aconteceu. As lágrimas que surgiram em seus olhos eram apenas lágrimas de gratidão, ela estava feliz por ter reunido todas aquelas memórias e por ter aproveitado sua mãe o máximo que pôde até a noite do acidente.

— Eu sei que foi difícil para você quando ela morreu. — Calum quebrou o silêncio. — Mas espero que os lugares que visitamos te faça lembrar que a cidade não é só feita de lembranças ruins.

Safira olhou-o por um tempo e ele ficou calado novamente, esperando uma reação. Ela pensou no que ele havia falado, sabia que era isso que todas as pessoas da cidade assumiram como o motivo principal que a fez se mudar para Nova Iorque e, bem, não seria diferente com ele. De toda forma, tudo que ela conseguiu fazer foi rir, rir de como a imagem dela havia sido moldada para todos, rir de toda aquela situação.

— Eu disse algo errado...? — Calum perguntou confuso.

— Eu não saí da cidade por causa da minha mãe. — A voz de Safira saiu levemente falha por conta da emoção. — Não sai da cidade por causa do meu pai, nem por causa da Madison ou qualquer pessoa estúpida daquela escola! — Ela suspirou, sorrindo e fechando os olhos, finalmente deixando as lágrimas caírem. — Eu saí da cidade por mim, Calum, eu saí da cidade porque precisava me encontrar, eu precisava viver. — Gesticulou. — E eu sei que essa não é a resposta que você queria para o final dessa aposta que fizemos, sinto muito que isso não seja o que você queira, mas é o que eu quero, é a minha vida, cowboy. — Safira segurou no rosto dele, que ainda tentava processar tudo que acontecia. — E caso você mude de ideia e queira explorar o mundo um dia, eu vou ser a pessoa mais feliz que já existiu em mostrar ele para você.

Calum ficou calado, piscando algumas vezes enquanto a encarava. Não sabia descrever o que tinha acabado de acontecer, nem ao menos explicar tudo que sentia ou o desespero que atingiu seus sentidos, tudo que ele havia pensado pareceu perder todo o sentido. Cohen era um espírito livre e não um espírito perdido como todos, inclusive ele, haviam imaginado que fosse e foi vendo-a se despedir de sua família — e também dele, pela segunda vez na vida naquela semana que ele percebeu isso.

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