Capítulo 08 - Parte 2

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Alfonso amaldiçoou o tamanho da casa e entrou na biblioteca, parando ao ver que estava vazia.
Anahi não estava no quarto, nem com Kelly. Deixando a biblioteca, foi para a ala oeste da casa, um lugar pouco usado, construído para abrigar hóspedes e empregados. Subindo a escada, começou a procurá-la, já entrando em pânico. E se estivesse machucada, se tivesse caído num dos corredores escuros? Começou a chamá-la, baixinho, e quando não obteve resposta, abriu uma porta atrás da outra, tentando encontrá-la.

— Anahi!

— Estou aqui!

— Aqui, onde? Que droga de lugar! Mais parece um labirinto! A risada dela era baixa e suave, e parecia encher o ar quando ele abriu a porta.

— Disse que eu podia usar o quarto amarelo, não disse? Sentada numa cadeira, estava de costas para ele, com um cavalete a sua frente e o pincel sobre a folha de papel presa a um painel.
— Não disse?

— Sim, agora me lembro. — Não costuma andar muito pela casa, não é?

— Não por aqui. Meu Deus, eu me senti um tolo.

— Estava preocupado?

— Sim. Este lugar é muito grande e antigo, e...

— E sempre muito escuro — completou ela, virando-se levemente, mas sem fitá-lo. Ela olhava para o chão, e Alfonso percebeu que fazia isso por ele, embora houvesse pouca luz no aposento.
As cortinas estavam afastadas e o luar entrava pelas janelas.

— Está pintando no escuro, Anahi.

— Você é mesmo esperto, Herrera.

Ele riu, balançando a cabeça e aproximando-se.
Anahi sentiu-o mover-se atrás dela, sentiu o perfume da loção pós-barba, e tentou imaginar como seus sentidos haviam se tornado tão apurados. O calor do corpo dele parecia tocar-lhe a pele, e subitamente ficou consciente do roupão fino e do pijama que usava. Queria vê-lo, não por curiosidade, mas para que ele confiasse nela o suficiente para deixar que se aproximasse. Tudo que conhecia de Alfonso era a imagem que vira nas fotos, tiradas cinco anos antes.

— Não é uma vista incrível? — perguntou, fazendo um gesto na direção da cidade abaixo deles, brilhando ao luar. A casa de Alfonso ficava no alto, pairando sobre a vila como o castelo de um ogro, que aterrorizava a todos. Não era de admirar que tivessem medo dele, admitiu Anahi.

— Achei que você gostaria.
Ela respirou fundo, sentindo-o mais perto.

— Mas pintar no escuro?

— Era a imagem que eu queria captar. A ilha adormecida — disse ela, assustando-se quando ele colocou as mãos nas costas da cadeira.
Ele observou a pintura semi-acabada.

— Bem, você conseguiu.

A voz dele, tão perto do seu ouvido, suave e gentil, era capaz de prendê-lo em um encantamento poderoso.

— As nuvens continuam a se mexer, encobrindo tudo.

— Há uma tempestade tropical na costa da Flórida. Pode ser que tenhamos algum efeito dela por aqui.

— A Mãe Natureza às vezes nos surpreende, mas aqui estamos seguros. A casa já resistiu a mais de vinte anos de tempestades.

Um longo silêncio pairou entre eles, quebrado apenas pela respiração de ambos.

A Bela e a Fera -AyA-Adaptada  - FinalizadaWhere stories live. Discover now