10 - full house

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ANY, 

NOVA YORK, EUA.

Any sentia como se finalmente as coisas estivessem se encaixando, apesar de não saber se propriamente tudo havia voltado ao status quo, já que ela preferiu ter ficado afastada de suas redes sociais por toda aquela semana. Quem poderia imaginar que o seu vídeo sendo terrivelmente atingida por uma crise alérgica teria tantas visualizações? Se bem que, quando pensava nisso, se recordava levemente de cair nos braços do garçom bonitinho. Por que ela estava pensando nisso? Ele provavelmente a odiava, já que dias depois do incidente, Any encaminhou-se para o mesmo restaurante, mas estranhamente o garoto não estava lá. O sentimento de culpa a assolava porque não queria acreditar na possibilidade dele ter sido demitido, principalmente se parte de sua demissão tivesse acontecido por causa dela. Ela tentou não considerar essa hipótese e passou uma borracha sobre isso como alguém que apenas erra um traço de um desenho.

Any deveria estar esbanjando felicidade, afinal estava vivendo um dia importante em sua vida e por isso focou-se em sorrir.

Depois de algum tempo, ela não achava que sorrir seria algo tão cansativo. Sorriu quando recebeu o diploma. Sorriu quando aplaudiu os colegas que também receberam seus diplomas. Sorriu até mesmo quando Amanda Clarke subiu no palanque como oradora da turma e fez um discurso bastante meia boca.

Enquanto usava o traje acadêmico de graduação, que consistia apenas em uma batina azul e uma faixa branca nos ombros por cima do seu vestidinho branco, ela começou a considerar a hipótese de rasgar o traje ali mesmo e quebrar a máquina fotográfica defeituosa de sua mãe. A maioria das pessoas estavam se reunindo com a família para tirarem fotos juntos, mas até aquele momento elas não tinham conseguido capturar uma única imagem decente delas. Ela tentou não surtar tanto por isso, afinal o melhor momento do seu ensino médio tinha acabado de acontecer, ela finalmente estava formada e poder dizer adeus para nunca mais ter que olhar para a cara daquelas pessoas era algo satisfatório demais.

— Por que não tiramos a foto no meu celular? — ela tentou jogar a sugestão para Priscila, apesar de que a mulher tinha mais apego com aquela câmera velha do que com as próprias filhas. — Mãe?

Priscila olhava concentrada para a máquina, Any não entendia porque era tão importante para ela ter aquele momento registrado naquela velharia.

— Sabe, essa foi a câmera que registrou os seus primeiros passos, os de Belinha também. Seus vídeos ensaiando canto com a sua tia, os ensaios das aulas de teatro.Tudo está aqui. — Ela olhou com admiração para o objeto, Any achou que a mulher poderia chorar. — E é aqui que estará as fotos do seu casamento, querida.

Any quase se engasgou com a própria saliva e estava pronta para contradizer a mãe quando Richard Clarke se materializou em sua frente.

— Any? — chamou-a com um sorriso gentil. — Meus parabéns! Quem poderia imaginar que minha filha e você estariam na mesma turma?

Any sorriu, provavelmente Amanda nunca teria mencionado sua existência para o pai e isso não era exatamente uma surpresa. Richard estava elegante como sempre, usava um terno azul escuro de algodão e mantinha o cabelo, cada vez mais grisalho, perfeitamente arrumado em um topete discreto.

— Srta. Any, depois nós precisamos conversar. — Ele disse, logo depois alternando o olhar para onde sua mãe estava. Any realmente não queria ter percebido isso. — O que estão tentando fazer?

— Tirar uma foto, mas a máquina de mamãe não funciona.

Richard retirou uma máquina fotográfica do bolso que parecia tão antiquada quanto a de sua mãe. Ele rapidamente se ofereceu para tirar uma foto delas, e apesar da relutância de Priscilla, Richard conseguiu capturar uma imagem bonita delas.

Lonely Hearts | noanyOnde histórias criam vida. Descubra agora