Noite Feliz

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Rafa

Comecei a gostar mais do Natal quando eu conheci ela. Antes costumava ser uma droga pra mim. Minha mãe obrigava a gente a passar a noite na igreja, o que eu detestava, e de manhã íamos pra casa, nenhum presente. Ela dizia que eram "futilidades comerciais" e que o Natal era apenas sobre "a festa do Senhor". O resto do dia era como qualquer outro, não fazia muita diferença, eu não sentia falta das tradições, já que não costumava ter.

Mas quando Bia começou a falar tão animada sobre o quanto gostava do feriado, fez uma enorme diferença pra mim. Era a melhor coisa do mundo vê-la feliz por pequenas coisas. E foi com esse pensamento que surgi com um plano de tornar o Natal dela ainda mais especial e pela primeira vez o meu também.

Preparei tudo para essa noite e mandei uma mensagem dizendo que eu queria levá-la a um lugar depois da ceia com a família, em segredo. Foi difícil convencê-la.

"Rafa, eu não tenho certeza. É noite de Natal, não quero fugir da minha família."

"Você não tá fugindo. É depois da festa e eu vou te devolver antes das seis da manhã."

Ela respondeu com um emoji pensativo.

"Bi, bebê, vamos. Eu te prometo que vai valer a pena."

"Tudo bem, eu vou."

"JURA?!"

"Juro. Você vale a pena."

"Eu amo você."

Nada mais importou pra mim pelo resto daquele dia. Eu fazia as coisas no automático porque os pensamentos na minha cabeça estavam há algumas quadras daqui, na garota por quem eu estava loucamente apaixonada.

Em segredo, é claro. Minha mãe nunca poderia saber enquanto eu vivesse com ela, ou isso poderia se tornar o maior alvoroço desnecessário. Ao contrário dos meu irmão e da minha prima que eram meus grandes apoiadores. Portanto, precisava contar o meu plano para eles.

– Tenho que sair da igreja depois da primeira missa – falei em cochicho quando minha mãe foi pra cozinha.

– Legal, qual o nosso plano? – Renato perguntou animado, inocentemente imaginando que eles estivessem envolvidos na minha "fuga".

– Na verdade, é MEU plano. Eu preciso que vocês cubram pra mim.

– O que quer dizer? Vai abandonar o barco? – Flavina, que já morava conosco há anos, desde que seus pais faleceram, protestou indignada.

– Eu tenho que ver a Bia.

– Você não é uma boa soldada, Kalimann, não é uma boa soldada – meu irmão brincou.

– Eu recompenso vocês, prometo.

Renato apenas balançou a cabeça, dando o veredito que eu queria.

A minha ansiedade corria junto com os ponteiros do relógio. Parecia que aquele dia iria durar para sempre, a noite não chegaria nunca. Eu odeio a forma como o tempo trabalha, todo cheio de brincadeiras idiotas.

- Rafaella... Rafaella! - Minha mãe me chamou enquanto eu a ajudava na cozinha. Eu estava distraída demais para ter ouvido da primeira vez. - Por que você não para de olhar esse relógio?

- Hum... eu só não quero que a gente se atrase - geralmente eu era muito boa em mentir, mas minha mãe me deixava nervosa. Tentei ser mais convincente, dizem que adicionar uma frase à mentira faz parecer mais real. - Eu acho importante não perdermos o começo da missa.

- Tem razão. Pode tomar banho e depois mande Renato e Flavina irem também.

Eu não acredito que funcionou. Pensei e ri, enquanto subia as escadas apressadamente.

Um Beijo Sob O Visco - Contos de NatalWhere stories live. Discover now