Capítulo 8

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Como o ciúme maltrata essa coitada.

— A comédia dos erros

Sam estava em todos os lugares para onde ela olhava. Não a pessoa

real e persuasiva, pois era esperto o suficiente para não aparecer.

Mas sua imagem sorria de todas as paredes, com fotografias que

documentavam a transição de um menino sorridente e descabelado

para um adolescente desajeitado. Depois havia o homem, com o

queixo esculpido e os dentes brancos, o cabelo cuidadosamente

caindo na testa. Como ela não havia notado isso antes? Todas

aquelas fotografias nas mesas laterais e penduradas na parede

estavam na villa o tempo todo, mas ela só percebeu quando Sam

chegou a Varenna.

E agora sentia como se estivessem zombando dela. Lembrando-

a de que aquela era a casa dele, que ele poderia expulsá-la quando

quisesse. Cretino arrogante.

Ele estava ali havia quase uma semana, e ela ainda não

suportava vê-lo. Toda vez que se falavam, a coisa parecia se

transformar em uma discussão acalorada e irritada, deixando

ambos sem fôlego. Era cansativo.

Suspirando, ela pegou o caderno e o chapéu, decidindo que

preferia passar a manhã na praia particular da villa a ficar presa na

casa com Sam. Eram pouco mais de onze horas. A sombra de Cesca

era pequena e a seguia por todo o pátio. As sandálias batiam de

encontro às pedras antigas enquanto caminhava para a trilha. Ao

virar no caminho, ela pôde ouvir os jardineiros conversando em

um italiano rápido, suas vozes em tom alto enquanto rompiam o

relativo silêncio do jardim. Ela sorriu ao ouvi-los, incapaz de

entender as palavras, mas se impressionando com quanto pareciam

bonitas. Os homens eram velhos e corpulentos, mas suas vozes

eram maravilhosas. Profundas e guturais, e as sentenças subiam e

desciam como música. Cesca deixou que eles a vissem enquanto se

aproximava.

— Buongiorno, signorina — o jardineiro mais velho falou. Ele

vestia calça comprida escura e camiseta cinza, o cinto tão apertado

que a barriga escapava por cima. Seu rosto era profundamente

bronzeado, graças a uma vida exposta ao sol, e as bochechas

estavam pontilhadas de manchas de terra, onde ele estava cavando

no solo. Cesca levantou a mão e acenou, consciente de que deveria

saber o nome dele, mas não conseguia lembrar. Sandro os

apresentara no seu segundo dia lá, explicando que os jardineiros

iam à casa três vezes por semana. Como gafanhotos, eles chegavam

em um enxame, atacando a vegetação. Eram capazes de arrumar

Um Verão Na Itália - As Irmãs Shakespeare Vol 01Onde histórias criam vida. Descubra agora