Capítulo 41

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O relógio já batia às 23h e nada do James chegar. O que era bem estranho porque seu expediente se encerrava as 19h. Eu andava de um lado para o outro, extremamente, preocupada sobre o que poderia ter acontecido. Olhei para o teto e entrelacei as mãos, pedindo a Deus a graça de meu marido chegar em casa bem. Assim que terminei minha prece, a porta se abriu e ele entrou com o blazer jogado no ombro, a gravata frouxa e o cabelo um pouco bagunçado.

— Graças a Deus! Eu achava que tinha acontecido alguma coisa e já ia começar a ligar para a polícia.

— Pra que esse alarde? — ele perguntou retoricamente e caminhou em direção a geladeira. — Você fez janta?

O insensível nem se importou com o meu estado de nervos.

— Sim, tem um prato feito no micro-ondas. — Ele não disse mais nada e apenas se serviu. Eu, porém, não podia deixar as coisas daquela maneira. — James Bonde, aonde você estava até essa hora?

Ele não me disse nada e continuou comendo.

— James, não me irrite ainda mais!

— Eu estava por aí, Amber! Saí do trabalho e fui andar um pouco para esfriar a cabeça. — Ele se levantou da mesa, deixando o resto de comida no prato.

— E por que não me avisou? Sabe como essa cidade é perigosa.

Ele fixou-se em mim e os seus olhos pareciam ter um brilho obscuro naquele momento, todavia, eu não me deixei ser tomada por aquilo.

— O pessoal da igreja perguntou por você. O pastor queria confirmar se ainda vai ajudar no retiro.

— O povo da sua igreja é muito interesseiro. — Ele caminhou até mim. — Sabe o que eu acho engraçado? É que quando eu quero dar alguma sugestão pra algo, nunca me dão ouvido, e sou o maior exemplo de uma vida redimida. Porém, se estão precisando de uma ajuda batem na porta desta casa, e acham que ainda estão me fazendo um favor. Um bando de hipócritas! Nunca me aceitaram de verdade.

Eu pisquei freneticamente ao ouvir aqueles absurdos que James pronunciava. De onde vinha tanta amargura?

— Por que você está agindo assim? — Cruzei os braços. — No início era sempre tão prestativo e fazia com o coração as coisas, agora vive reclamando da igreja.

—  Abri meus olhos para ver a verdade. Eu sinceramente acho que não precisamos de uma comunidade. — Ele olhou bem nos meus olhos e disse: — Podemos muito bem ter nossa própria crença e ficar em casa.

— Está louco?! — berrei.

— Vou ficar se continuar andando no meio desse povo. — James declarou isso e deu as costas para mim.

Nem fui atrás dele para que a nossa briga não ficasse mais séria. Mas, o que estava acontecendo, meu Deus? Passei a mãos pelo meu cabelo, tentando compreender toda aquela irritação que irradiava dele. De repente, meu celular tocou, anunciando uma nova mensagem, era do irmão Olavo, nosso novo diácono. Ele queria saber se eu e James ajudaríamos com uma quantia para o novo projeto de missões da igreja, e ficamos conversando por um tempo, pois eu precisava explicar algumas coisas.

— Quem é Olavo? — A pergunta foi feita na mesma velocidade em que meu celular foi retirado das minhas mãos.

Meu marido olhava para a tela e a conversa que eu estava tendo, há poucos minutos. Seus olhos criaram um brilho de raiva que me arrepiou.

— É o novo diácono, James, ele só quer saber se vamos contribuir com as missões. — Tentei tirar o telefone da mão dele e foi inútil.

— E isso é hora de se mandar mensagem para uma mulher casada? — Sua voz carregava uma ira contida que estava prestes a explodir.

— Pra sua informação, ele também é casado e trabalha o dia inteiro. Na verdade, ele nos informou no culto que só enviaria as mensagens a noite, contudo, não precisávamos responder imediatamente. — Eu alterei a voz porque já estava cansada daquele surto de ciúmes sem precedência.

— Então é você que está com intenções, não é? — Aquela insinuação me fez querer esmurrá-lo. Como poderia pensar algo nesse nível sobre mim?

— Você preste atenção com quem está falando! — Apontei o dedo pra ele e o mesmo se aproximou mais, ficando frente a frente comigo, mas não me intimidei. — Sou sua esposa e não uma vagabunda.

James estreitou o olhar pra mim e seu maxilar enrijeceu, parecia engolir com muito sacrifício as palavras que estava prestes a soltar.

— Não quero você conversando com nenhum homem, Amber. Você sabe que eu não gosto e parece que faz pra afrontar — declarou, de modo ríspido.

— Me poupa, James! Acha mesmo que vou me isolar do mundo por causa desse seu ciúme tolo e sem cabimento? — Dei as costas pra ele, porém, ele me segurou pelo braço com força e me puxou novamente.

— Não dê as costas para mim quando estiver falando. — Ele apertou os lábios e rangeu os dentes.

Não, aquele homem ali na minha frente, não era com quem eu havia me casado.

— Me solta! — Balancei o braço fortemente e soltei-me dele. — Hoje você deve ter tido um dia muito difícil e por isso vou relevar esse seu péssimo humor e comportamento.

Afastei-me dele, e sua breve desatenção me deu a chance de tomar meu celular.

— Pode ir dormir — eu ordenei e, por incrível que pareça, ele não retrucou.

James saiu da sala e bateu a porta do quarto com violência. Eu terminei de responder ao diácono e fiquei sentada naquele sofá até umas 2h da madrugada, ainda pensando sobre toda aquela discussão. Após um tempo, eu me levantei e segui para o quarto, o encontrei dormindo profundamente. Sentei na beirada da cama, ao lado dele, toquei-lhe no cabelo, e dei um beijo em sua testa.

— Eu amo tanto você, James!

Eu ainda sentia todos os meus sentimentos fluírem, quando observei a luz do celular dele piscar, anunciando uma nova mensagem. Eu peguei-o e li. Meus olhos se arregalaram por saber de quem era e qual o motivo da conversa.

Pão: “Céu, nossa reunião foi muito boa. A rapaziada ficou empolgada com seus novos comandos. Até amanhã!”.

Como assim, James, estava dando ordem de novo no morro da Luz?

*

QUEM RESSURGIU DAS CINZAS? SIM, FOMOS NÓS! E PREPARAM-SE PARA OS CAPÍTULOS FINAIS DESSA HISTÓRIA!!!

P.W.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãWhere stories live. Discover now