Parte dois

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2 anos atrás

Marselha, França

Setembro de 1848

Na rua La Canebière, a pouco mais de quinhentos metros do velho porto, havia uma casa grande e modesta de cor branca, cheia de valores sentimentais de um casal apaixonado, que não pôde aproveitar a vida juntos por muito tempo. Em meus oito anos, já não tinha mais uma mãe para ensinar-me os segredos da boa corte, então, aprendi a barganhar no comércio de peixes antes mesmo de saber bordar. Embora pudesse nos render alguns euros, o sonho do meu pai sempre foi ser um comerciante de itens raros, materiais que poucos tinham coragem de conseguir. Alguns diziam que ele era louco, mas eu o achava visionário. E foi assim que tempos mais tarde, após conseguir uma flor raríssima para o Grão-duque Park dar de presente no trigésimo aniversário de casamento de sua grã-duquesa, que os ares mudaram para nós; e dias depois para eles também, que sofreram com a morte da mulher que já estava doente. A sorte de uns é o malefício para outros, assim diziam.

Hoje os tempos são outros, a vida no comércio do porto também me deixou cedo, e agora posso viver confortável sem preocupações, como qualquer outra moça da minha idade. Entre as árvores e flores de diversos aspectos e cores do jardim no estreito quintal da minha casa, era onde eu adorava me esconder enquanto esperava impaciente meu pai, o marquês Blanchard, terminar sua conversa sobre negócios a alguns metros dali, próximo ao pomar. Este é o segundo melhor lugar para se ter tranquilidade e também um bom ponto para observar as redondezas, desde que o primeiro é exatamente onde o homem nobre e meu pai estão agora.

Seu andar é pomposo e a expressão no seu rosto é a mesma que já vi em um peixe morto no açougue do Sir Percy a algumas quadras de casa. Eles discutiam sobre o melhor preço para a encomenda de uma mercadoria difícil. Eu sabia só de olhar para o rosto do meu pai, o vinco entre suas sobrancelhas o entregava.

Desde sempre vivemos neste meio, onde não bastava ser um bom comerciante para obter clientes, as pessoas facilmente nos confiava seus desejos, se conseguimos vender à elas o que precisam e, às vezes, algo que nem mesmo cogitam ter, outras surgiam por meio de boas recomendações.

Meu olhar atento buscava detalhes que pudesse dizer mais sobre quem poderia ser, como as abotoaduras de ouro no pulso daquele homem, havia um D prateado como símbolo pertencente ao seu título, muito comum entre os nobres, ou seja, um Duque conversava com meu pai. Seu status é baixo comparado a um grão-duque, mas está acima de um marquês, e isso era motivo suficiente para seu queixo pontudo sempre erguido para cima, assim nos tornavam menores na sua presença. Seu pedido era bastante estranho, desde que jamais ouvi alguém querer uma pena de pássaro azul. Muito provável que nos renderia uma boa quantia de euros.

Eu jamais vi um pássaro azul, sequer poderia imaginar como meu pai conseguiria algo do tipo. O que significa que poderá levar muito mais tempo sua viagem. Essa era a pior parte do seu trabalho, não tínhamos muito tempo juntos, sem dizer que acabara de retornar de uma outra viagem. De repente, não parecia mais divertido pensar sobre a quantidade de euros que poderíamos ganhar com o pedido exótico. A ideia de dizer a ele para desistir veio tarde demais, suas mãos uniram com as do Duque concretizando o acordo.

Depois que o homem foi embora, deixei meu esconderijo para me aproximar.

- Aí está minha pequena. - O sorriso caloroso que me recebeu poderia amenizar um pouco a tristeza que mais tarde viria, e seus braços abertos convidou-me a ir até ele.

Mesmo com meus 19 anos, ele nunca deixou de me tratar como sua menininha, e não era de todo ruim. Segurando um pouco do tecido grosso do vestido entre os dedos, pude erguer a barra que tocava o chão para correr e jogar meus braços magros ao redor do corpo franzino de meu pai.

Lábios intocáveis - Park Jimin 🔞Место, где живут истории. Откройте их для себя