Parte final

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2 anos depois

Fevereiro de 1850

- Penso que, talvez, eu nunca possa voar como as pétalas ou como se eu tivesse asas. Sou um pássaro preso a uma gaiola aberta dentro de convicções que não acredito, mas acho conveniente aceitar do que lutar. - Arrasto o dedo sobre um trecho do livro de páginas amareladas que já li outras vezes. Identifico meu eu perdido naquelas palavras e me encontro no sentido que formam juntas.

Estou levando minha mente a devaneios enquanto olho pela janela o céu azul com poucas nuvens, sendo contrastados com a beleza da árvore de poucas folhas verdes, os frutos ainda são só flores, que estão longe da sua época. Deixo o livro no meu colo algumas linhas depois que, de maneira aleatória, começo a refletir sobre o plano que anseio concretizar essa noite. Mal reconheço quem sou, desde que estou prestes a colocar um homem desconhecido em minha casa. E mesmo que pareça loucura, em nenhum momento veio o arrependimento.

Não ainda.

- Lady Adeliz?

Viro parcialmente para ver Emeril diante da porta. Aceno para que entre, ela se aproxima com uma bandeja de prata equilibrando um bule de porcelana, uma xícara e uma carta repousada sobre um prato.

- Já havia me esquecido de que dia era hoje - murmuro, antes que me entregue e sirva o chá.

- A Lady se esqueceu? Não é nada bom. Anda abatida, mal come, nem mesmo dorme. Sua dor está a consumindo aos poucos. É triste assistir.

Deixo a carta em meu colo, sobre o livro, estendo a mão e seguro o pulso de Emeril, antes que me entregue o chá. Seus olhos castanhos revelam sua preocupação exagerada comigo, um sentimento que ao longo dos anos se tornou mais nítido.

Depois que Nannette se mudou para uma casa maior, que havia ganhado de um pretendente ingênuo, seus empregados também mudaram. Emeril foi deixada de lado facilmente pela megera. Tão logo a acolhi, por pena. Ao passar dos dias, sua companhia se tornou importante, consequentemente necessária. Descobri que havia uma moça gentil, atenciosa e solícita.

- Não se preocupe, estou só um pouco abatida, mas aqui está minha dose de felicidade. - Aponto para a carta.

- Entendo. Vou deixá-la em paz então. - Ela diz, apertando meus dedos, e oferece um sorriso reconfortante antes de deixar o cômodo.

O chá quente aquece minha garganta tão rápido quanto o sabor cítrico preenche minha boca, imediatamente já me sinto um pouco melhor. Repouso a xícara de volta sobre a bandeja, e acolho o pedaço de papel em minhas mãos com cuidado, apesar da impaciência para abrir. Logo no início, nas primeiras palavras, meus olhos estão marejados. Eu sabia que seria inevitável sentir a angústia roubando a vontade e o vigor de cada célula do meu corpo. A solidão me corroía dia após dia. A casa cheia de beleza tornou-se meu covil frio e sombrio, e o amargor daquelas duras palavras permeava por longos dias assolando minha alma, a cada nova carta.

"Doce Adeliz, sinto sua falta.

Ainda não posso retornar, como sabe, as dívidas do Grão-duque ainda são um empecilho. Desde aquela época, permaneço fugindo entre uma cidade e outra, mas não quero que se preocupe, eu estou bem. Conheci pessoas de todo tipo, boas e ruins, e agora compreendo mais sobre o mundo cruel em que, naquela época, não tínhamos qualquer mensura.

Entretanto, eu desejo, um dia, poder tirá-la dessa bolha e levá-la comigo para os lugares mais bonitos que também pude conhecer. Sonho com este dia, assim como também sonho com teus lábios, mesmo que não permita que eu fale sobre eles, estou sempre a sonhar.

Lábios intocáveis - Park Jimin 🔞Where stories live. Discover now