Chapter 8

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   Fiquei nervosa pensando no encontro já fazia tempos que eu não chamava alguém para sair. Eu não queria estragar tudo, se eu fizer algo errado posso arruinar qualquer tipo de chance de ter um segundo encontro ou de continuar tendo a amizade dela, a amizade para mim já basta.
   Yoohyeon entrou no quarto e de forma impressionante ela conseguiu derrubar tudo que estava em seu caminho.
   — Ainda bem que a cabeça tá grudada, senão eu não sei o que seria de você, prima. — Haha! Muito engraçado, Bora. O que você está fazendo com essas coisas? — Um presente.
   — Sabe que vendem pronto né?
   — Qual a graça de dar um presente que eu não fiz? — Economizar tempo?
   — Do que me serve o tempo se eu só usar ele para fazer coisas fúteis?
   — Alguém acordou de mau humor.
   — Não estou de mau humor. — Tá bom, talvez eu esteja de mau humor. — Quer me dizer que espécie de presente precisa  de penas?
   — As penas são uma parte importante, Yoo. — É um brinco de penas? — Não! Claro que não! Isso seria muito simplório! 
   — Da para dizer logo o que é essa coisa então? — Não é uma coisa. É um presente para Siyeon.
   — E para onde você vai levar a madame?
   — Pierrot Strike.
   — Vai levar a garota pra jogar boliche? Boliche, Bora? 
   — Qual o problema com boliche? — eu pessoalmente gosto muito de jogar boliche. — Nada, só esperava que você fosse levar ela em algum lugar romântico. Tipo Paris.
   Qual a parte do fingir que não tenho dinheiro que ela ainda não entendeu?
   — Ela nem sabe que eu tenho dinheiro e essa daí não é exatamente minha ideia de romance.
   — Sem querer estragar o seu clima mas amanhã as eleições começam de verdade e você ainda não fez nada a respeito daquela folha. — Yoo, eu deixei cair. Não tem mais como encontrar já se passaram meses. — Não está preocupada com o  desvio de dinheiro? — Estou mas tem muita coisa acontecendo tá bem?
   — Você quer dizer tem uma garota! Acontecendo! — Agora você vai implicar com Siyeon? — Não é isso Bora! Só que tem coisas mais importantes! — Você não pode comparar a garota que eu gosto com um problema escolar! — Ao menos admitiu que gosta dela!
   Eu admiti, no calor do momento, admiti. Por que fiz isso? Eu não sei, a raiva nos faz dizer tantas verdades, sejam elas para o bem ou para o mal.
   Me calei durante duas horas, duas horas refletindo sobre o que eu disse e me preparando para a aula. Eu e Yoohyeon fomos para a escola em silêncio e nos separamos quando chegamos.

   O sinal do fim da última aula tocou. Eu desci as escadas correndo para falar com Handong.
   — É daqui a pouco! — poucos minutos e eu já estava indo a loucura, estômago queimando, minhas mãos estavam um pouco suadas. — SuA, é só um encontro. — Não é só um encontro! Nem é um encontro! — Ontem você me disse que era. — Tá! Talvez seja! Mas é um encontro de amigas! — É tão difícil assim pensar que talvez ela também goste de você? — Por que eu? Ela tem tanta opção melhor. — Não acho que o amor se baseei nesses critérios.
   "Não acho que o amor se baseei nesses critérios" pois então me diga, quais são? Quais são os critérios do amor? E o que é o amor em primeiro lugar? Uma obsessão? Um cuidado? Seria o amor eu sentir vontade de sorrir quando estou perto de Siyeon? Ou será que vai além? Será que talvez, só talvez, o amor tivesse relação com uma ligação física e emocional com alguém por quem você provavelmente daria a vida, o amor que é lindo mas ao mesmo tempo pode ser tão egoísta, esse sentimento que nos faz ser egoísta a ponto de querer alguém só para nós mas ao mesmo tempo deixaríamos essa pessoa ir só para vê-la feliz. Será que o amor é apenas uma incógnita? Será que nós que trazemos significado para o amor? Ele realmente existe ou apenas inventamos um nome para um sentimento que achamos ser especial de alguma forma.
   — SuA? Acorda! — Desculpa. — Olha apenas se dê uma chance hoje, está bem?
   — Eu vou tentar...
   Apertei a campainha e fui recebida pela senhora Lee.
   — Bora! — ela me abraçou forte tão forte que Siyeon poderia ter dado o azar de descer e encontrar meu corpo vazio e meu sangue todo no chão. — Oi, tia... — Sabe o quanto eu estive sentindo sua falta? Falta de ver você e...
   Ela não conseguia dizer o nome de Heejae desde o acidente.
   — Entra, querida. Vou chamar Gahyeon. — segurei no braço dela. — Na verdade... Estou aqui para ver Siyeon.
   — Oh! Você e Siyeon já se conheceram?
   — Somos da mesma turma, acabamos nos tornando amigas. — Então irei chamá-la. — Não precisa, tia. Eu vou lá falar com ela. -— Está bem então.
   — Ah e Sra. Lee...
   — Sim? 
   — Ainda não contei a Siyeon que sou uma Kim, a senhora poderia guardar meu segredo?
   — Por quanto tempo você pretende manter essa mentira? Não percebe que isso está afastando você dos seus amigos?
   — Eu não sei até quando só, não estou pronta.
   Ela respirou fundo.
   — Vou te ajudar mas acho que você devia contar para Siyeon.
   — Obrigada!
   Contar para Siyeon? Não! Talvez ela deixasse até de sair comigo, sei lá!
   Eu abri uma brecha na porta.
   — Toc, Toc.
    — SuA? Como entrou aqui?
   — Pela porta da frente.
   — Não pulou uma janela dessa vez? Estou em estado de choque! — ela colocou a mão na cabeça dramaticamente. — Haha. Palhaça.
   — Bora, acho que todos sabem que você quem é a palhaça da turma. — Então a palhaça vai voltar para o circo, adeus.
   Virei de costas para ela.
   — Espera! — ela me abraçou por trás, senti uma palpitação forte no peito, um sentimento diferente. Parecia que eu ia explodir mas a sensação não era ruim. — Acho que me equivoquei um pouco, não volta pro circo ainda não, fica aqui.
   — Vou pensar no seu caso.
   — Minha tia te recebeu bem?
   — Como se eu fosse da família. 
   — Está pronta? —  Não pareço pronta?
   Siyeon estava toda maquiada e bem vestida.
   — Parece mas as vezes faço perguntas estúpidas, me desculpa. — Não pede desculpas e não são perguntas estúpidas, falta eu fazer uma coisa.
   — Espera, eu preciso usar o banheiro, me espera lá fora, Lily.
   Enquanto ela se arrumava eu fiquei em dúvida se deveria ler alguma coisa antes do nosso encontro.
   Não me contive, fui até o quarto,  peguei a carta número 2.
   — "Bora! Estou tão chateada com você! Até quando pretendia esconder? E o que houve com sem segredos entre nós? Okay, talvez eu não seja a melhor pessoa para dizer uma coisa dessas, talvez eu esteja sendo hipócrita já que não te contei sobre meu pai mas quando você ia me contar que é lésbica? Sei que essas coisas não se apressam mas você ao menos planejava me contar algum dia? Não me entenda mal, eu apoio você e sempre vou apoiar independente de se você ama um homem ou uma mulher mas sinto que você nem confia mais em mim. E não precisa se preocupar, não irei contar nada aos meus pais e nem a Gahyeon.
   — "Sua, já se passou 1 mês desde que descobri sobre você e ainda não sei como reagir bem a isso. Honestamente ainda é difícil digerir tudo, é um pouco estranho para mim, mas eu juro que tô tentando. Mas o que mais me intriga, o que mais me chateia é que você começou a sair com aquela garota, Minji. E você escondeu! Escondeu isso de mim! Eu sempre te conto tudo SuA! Você não pode me contar o que tá acontecendo na sua vida?"
   — Eu não sabia como contar, Heejae, eu não sabia! — eu sei que ela está em coma, eu sei, mas não é justo! Isso é algo pessoal de uma forma diferente, ela não sabe como é, não sabe como é não estar preparada para a reação de alguém, o medo deles mudarem com você, o medo de ser humilhado, de ser julgado! Eu sei que ela sofreu mas eu também sofri! Nem ao menos posso conversar com ela sobre isso.
   Peguei minha mochila e fui para a sala.
   — SuA unnie, está tudo bem?
   — Só estou com um pouco de sono, tá tudo bem.
   — Tem certeza que é só sono?
   — Uhum. 
   Nós pegamos o ônibus, Siyeon parecia bem distraída, me perguntei o que ela estava pensando, parecia ser algo bom, ela sorria de vez em quando.
   — Boliche? — ela perguntou feliz. — Sim, por quê? Não gosta?
   — Gosto! Mas... por que não deixar mais interessante? — Interessante como? — Que tal uma aposta? — dinheiro fácil na minha conta. — Está bem, quem ganhar escolhe onde vamos jantar.
   — Gostei da proposta, prepare-se para a maior derrota da sua vida Kim Bora.
   Senti arrepios, me assustei quando ela disse meu nome assim, me perguntei como seria quando ela descobrisse.
   Siyeon jogou a primeira bola, strike!
   — Ops! Boa sorte! — convencida. — Boa jogada mas agora é minha vez. 
   — Um spare, nada mal. — O-Outro strike? — Eu disse. A maior derrota da sua vida. — Hard Rock Cafe Seoul. — O que? — É lá que vamos comer. — ela tinha razão no fim realmente foi a maior derrota da minha vida.

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