Capítulo dois

112 15 13
                                    

Abrir os olhos ao acordar foi a pior decisão de Aurora. Sentir uma dor aguda, imediata, ricochetear a sua cabeça por inteiro lhe causava náuseas. Respirar profundamente parecia precisar de mais foco e esforço que o normal.

Apesar da tremenda dor de cabeça, por conta da ressaca, a garota franziu o cenho e tirou os pés da cama. Em poucos minutos, Esther, sua dama de companhia, estaria presente em seu quarto majestoso para ajudá-la a se organizar para o longo dia que teria. Mas, naquele momento o que a Princesa mais queria – e precisava - era de um banho gelado.

A ruiva dos cabelos levemente ondulados dirigiu-se a sua banheira particular. Geralmente quem a preparava era a sua própria dama de companhia, mas Aurora não era incapacitada ao ponto de não saber preparar um singelo banho.

Despida com seus cabelos presos em uma trança ela entrou na banheira; sentindo o choque da água gélida contra seu corpo quente, ela pensou, apenas por um instante, em recuar.

A sua cabeça ainda parecia estar pesada, mas sentia a sensação sórdida deixar seu corpo aos poucos.

Duas batidas suaves na porta do quarto da Princesa romperam seu pequeno piscar de olhos demorado. Esther entrou no quarto luminoso de Aurora, com uma bandeja de prata cheia de frutas, flores e sucos em mãos.

Alteza, desculpe-me a intromissão e o meu atraso — Esther baixou a cabeça, envergonhada.

Aurora olhou bem para os aspectos físicos da garota em sua frente.

O olhar cansado de Esther era comum. Mas os densos olhos escuros e opacos da jovem expressavam muito mais do que cansaço. E quando a própria olhou nos olhos da Princesa, ela sentiu paz. Paz por Aurora ser sua Princesa, paz porque sabia que Aurora nunca a castigaria por ter se atrasado apenas alguns minutos.

Esther passou as mãos nos cabelos espessos e escuros como a noite.

Aurora sorriu torto, preocupada. A jovem certamente tinha algum motivo para seu atraso e certamente não era bom.

— Aconteceu algo ruim para o seu atraso? — Indagou a ruiva calmamente, descansando seu pescoço a beira da banheira.

— Meu irmão mais novo está febril. E a Vossa Alteza conhece as condições em que a minha mãe se encontra. — Esther engoliu em seco.

Aurora sempre soubera que Esther era a única fonte de sobrevivência da família. A única que tinha condições de trazer o alimento para a mãe e o irmão de apenas cinco anos.

Antonella, mãe de Esther, luta contra uma grande doença celular que a deixou incapaz de realizar algum movimento. Apesar de Aurora ter solicitado ajuda aos curandeiros mais capazes do continente, a doença de Antonella pareceu ser incurável. Nem mesmo um tratamento intensivo a ajudou. E mesmo com tudo isso Esther continuou sorrindo e cheia de esperanças. Uma grande inspiração para a Princesa.

Aurora mordeu o lábio.

— Aqui está seu desjejum, trouxe a flor Mestiça para a cura de sua ressaca, Alteza. — Esther deixou a bandeja ao lado da banheira de Aurora. — Eu especulei que após a festa de ontem à noite a Senhorita precisaria da flor.

Antes de responder Aurora fez questão de mastigar a pequena flor avermelhada de pétalas aveludadas. Após ingerir a flor por completo e sentir o gosto amargo das pétalas em sua boca, ela bebeu um generoso gole do suco de maçã, que estava generosamente cremoso.

— Assim que eu sair de meu aposento você estará dispensada. Cuide de seu irmão e caso ele não melhore traga-o ao castelo. A própria médica real irá trata-lo — Aurora sorriu ao ver o olhar caído de Esther brilhar de felicidade.

A Promessa à EscarlateWhere stories live. Discover now