NIKKOLINA. Lembro-me bem da primeira vez que vi meu avô mergulhar nas peças de xadrez. Ele se afundava na estratégia como se fosse sua própria vida em jogo. Eu, observadora silenciosa, testemunhava seu ritual de sacrifícios e traições, sua dança calculada de peças. Ele dominava o tabuleiro com a frieza de quem não teme o confronto. O gambito da rainha era seu trunfo, uma artimanha cruel disfarçada de movimento nobre. Um peão caía como vítima, a fim de uma vantagem no decorrer do jogo. Eles me menosprezavam, zombavam da minha inteligência, pensavam que eu jamais compreenderia a profundidade dos acontecimentos. Mas eu estava lá, observando atentamente, absorvendo cada detalhe até enxergar claramente os peões que precisava sacrificar para emergir vitoriosa no jogo. Suas palavras ácidas apenas alimentavam minha determinação, minha vontade de provar que estavam errados. E quando finalmente declarei xeque-mate, o silêncio que se seguiu foi mais doce do que qualquer palavra de desdém. Quem poderia me culpar, afinal? Era apenas minha natureza. DAMON. Cinco malditos anos se passaram, um ciclo de sorte desmedida para ela. Sorte de respirar o ar que ainda lhe permito, sorte de escapar por um tempo da minha ira contida, por ainda me debater com tantos assuntos pendentes, que consigo, por ora, desviar meu ódio dela. Nikkolina Morozova, a traidora, pensou que podia fugir ilesa. Mas havia chegado-lhe a hora de pagar, não haviam mais desculpas pelos seus crimes. Por tanto tempo, me entreguei de corpo e alma, fui seu escudo, a barreira que a mantinha a salvo do caos ao nosso redor. Fiz por ela o que nem sequer fiz por mim. E como ela retribui? Me jogando no inferno da prisão, por algo que, no fundo, era culpa exclusivamente dela. Eu a subestimei, de fato. Ela era tão podre quanto o restante de nós. ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤravking © 2023 ㅤㅤㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ09. 09. 22.
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