Um

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Não estava acostumada a ter alguém encostado na grande porta de vidro de seu chefe, com as mãos nos bolsos o homem olhava para frente enquanto mastigava um palito de dente.
Passou mais tempo do que deveria em um relatório criminal, estava de saco cheio daquela grande pilha que estava pendurada na ponta de sua mesa avisando que estava começando a se atrasar, a ressaca fazia sua cabeça explodir de minuto em minuto.
Cansada, massageou suas têmporas e respirou fundo algumas vezes, talvez tivesse que passar horas a mais no escritório naquele dia. Não precisava voltar para casa cedo já que não tinha ninguém que a esperasse, com seus vinte e sete anos, Sakura havia perdido seus pais em um acidente de carro por volta de oito anos e desde então vem se virando sozinha.
Mandou seu relatório devidamente redigido e verificado para sua impressora, e um grande barulho mostrando o engasgo que ela havia sofrido comendo todo o seu documento.

— Merda! — Estapeou aquela máquina maldita que vivia lhe dando problemas.

Com pressa, mandou o documento para a sala de impressão do outro lado do prédio. Um riso seco fez seus olhos levantarem para o homem que tinha a sombra de um sorriso em seus lábios enquanto segurava aquele palito nojento.

— Algo engrado? Me diga, adoro uma boa piada.

Ele apenas balançou a cabeça em negação e continuou olhando para o fundo da porta, Sakura bufou irritada em ser o motivo da graça e correu tentando não deixar com que seus saltos pretos a fizessem cair como um saco de batatas. Sua saia teimava em não ficar sob seus joelhos e tentava manter ela o mínimo decente, puxou seus cabelos rosados e curtos para atrás de sua orelha e voltou caminhando devagar para sua mesa.
Hora ou outra sentia o algo queimar sua pele, se sentia ser observada mas ao subir os olhos o homem que parecia um grande poste de cabelo preso permanecia impassível e ereto como um posto.
Podia ser sua imaginação e o restante de sua ressaca maldita que acabava lhe pregando peças mas deixou pra lá. Se sentou pegando uma nova pasta pesada cheia de informações para simplificar e redigir para seu chefe, as vezes odiava seu trabalho.

— Estou indo almoçar, não deixe de comer não quero chamar a ambulância novamente, Sakura. — Seu chefe passou e logo foi seguido pelo alto poste.

— Cuide de sua vida, Minato. Isso aconteceu apenas uma vez. — Resmungou enquanto puxava sua xícara cheia daquele delicioso líquido preto que estava ajudando a amenizar sua maldita ressaca.

Ele riu e as portas do elevador se fechou, a algum tempo atrás, Sakura tinha tanto trabalho que seu amado chefe adorava pedir que fizesse e se esqueceu de comer. No meio de uma reunião se espatifou no chão com força,  acordou no meio da noite com quinhentos médicos em cima de seu corpo tentando achar uma explicação para o que havia acontecido enquanto seu chefe se sentia culpado no canto da sala roendo as unhas.
Aquele cabeça oca sabia que se a perdesse estaria em apuros já que perdeu várias secretarias por não aguentar a quantidade de trabalho que ele dava. Já podia se dizer que era uma grande escrava, mas ele pagava bem.

— Vai me dizer quem era aquele pedaço de mal caminho que tinha parado na porta? — Estava tão entretida nos próprios devaneios e no documento que não notou a loira da recepção dobrada em cima de seu balcão a encarando com grandes olhos azuis.

— O grande poste se chama Shika-alguma coisa e é o novo segurança do meu chefe.

Não precisou levantar os olhos para saber que Ino mordia os lábios imaginando qualquer coisa safada que podia naquela cabeça de vento.

— Tão interessante que nem sabe o nome do cara inteiro? — Ela riu desacreditada.

— Se um dia eu tivesse um relacionamento ele seria uma grande pasta cheia de papéis, por que do jeito que ando uma hora serei engolida por uma delas.

Ela riu tomando o restante de café que havia em sua xícara, recebendo um olhar mortal a loira ergueu as mãos em rendição e saiu com sua xícara até a copa. Podia bagunçar seus documentos, mas tocar em sua xícara era sentença de morte. Começaria a colocar uma corrente na alça daquela linda porcelana verde, não era a primeira vez que abusavam da boa vontade de seu café.

— Não faça essa cara, sabe que sempre reponho seu café.

— Frio e sem açúcar, — Bufou. — Não presta nem pra isso.

A loira mostrou a língua e saiu rebolando seu vestido rodado preto, poderia perguntar sobre qualquer cara da empresa porque ela já havia pego todos eles, incluindo o bobão do seu chefe que vivia morrendo de amores pela loira. Ino era desinteressada então depois de provar do que queria dava um belo pé na bunda do macho que havia pego e possivelmente o grande poste que ficava de frente para sua mesa seria o próximo.

— Esses são de amanhã. — A morena deixou mais uma pilha de pastas em cima de sua mesa.

— Eu te odeio.

— Ainda não superamos isso?

Sakura bufou e riu, seus braços doíam mas não era a toa que sempre foi a melhor de sua área naquela empresa.
Deitou sua cabeça na mesa, seu corpo precisava desesperadamente de algo sólido para se manter em pé.

— Farei com que saia arrastada pelos cabelos até o refeitório, Sakura. — Abusado e mandão, o infernizaria se não parasse de tentar tratá-la como uma criança.

— Não seja mal, ou farei Ino nunca mais atender suas ligações. — Disse cerrando os olhos para o loiro que colocou suas mãos nos bolsos de seu terno caro.

— Está demitida.

— Sim, como nos últimos anos, pare de enrolar tem cliente daqui a trinta minutos. — Ele bufou e entrou no seu grande aquário deixando o poste novamente do lado de fora.

Cansada, se levantou arrastando seu pobre corpo para o elevador. Logo estaria em um grande saco preto se não comesse, deixou as portas abrirem e se obrigou a pegar um dos sanduíches que estavam dispostos em cima das mesas, as horas eram diferentes nos andares. No refeitórios as horas pareciam segundos e em seu cubículo, cada minuto era uma demorada hora.
Desceu com um pouco mais de força, com uma nova pilha em sua mesa abriu as pastas uma por uma e separando os tipos de casos. De uma grossa pasta azul um envelope endereçado ao seu nome caiu em seu colo, a morena do outro lado da sala gostava de pregar peças então Sakura abriu rindo.
Aos poucos o sorriso morreu e sem se quer lembrar de que pasta se tratava releu o nome do acusado, o sangue que circulava em seu rosto sumiu como se fosse possível evaporar.

*"Se não fosse pela tão prestativa secretaria, não estaríamos nessa situação e pretendo cortar o mal pela raiz.*
*Bem vinda a sua sentença, você será a primeira."*

Empurrou sua cadeira giratória como uma louca e invadiu a sala de Minato, a olhando confuso colocou o papel em cima de sua mesa.  Ele leu com cuidado e a olhou com os olhos arregalados.

— De quem é o caso? — Perguntou se levantando.

— Gaara.

Um ótimo criminoso, não deixava pistas de suas execuções. Trabalhava em perfeito silêncio e habilidade, foi pego numa emboscada enquanto tentava assassinar um dos conselheiros do estado.
Sakura havia assinado os documentos de sua prisão como seu chefe sempre pedia, talvez esse criminoso a conhecesse mais do que imaginava.
Tremendo, respirava com dificuldade apertando firme o encosto de sua cadeira de couro branca.

— Se acalme, Sakura. — Disse seguindo para a porta. — Colocarei alguém para te proteger até que ele esteja atrás das grades realmente.

— Parece que passaremos um bom tempo juntos. — O homem disse enquanto ela tentava recobrar o mínimo possível de fôlego enquanto se virava.

Teria como segurança contra assassinato um grande poste, se sentia completamente ferrada.

Na Sua Mira - ShikaSakuWhere stories live. Discover now