𝑼𝒎 𝒇𝒊𝒐 𝒅𝒆 𝒆𝒔𝒑𝒆𝒓𝒂𝒏𝒄̧𝒂 ☘︎

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Sentimos ciúmes de tudo aquilo que consideramos nosso,e que não queremos arriscar perder. Certo?
Alguém me confirme, com urgência

Eu podia sobreviver a mais um dia qualquer da mesma maneira como venho sobrevivendo à minha vida, mas trabalhar, comer e respirar nunca foi tão maçante. O engraçado de se esperar por alguma coisa é a presença daquela sensação horrorosa de angústia, que te impede de achar que as horas duram sessenta minutos cada uma. Sério, parecia muito mais.

Esperei pela conversa que teria à noite com o Calvin como se ela definisse o total percurso da minha trajetória; de certa forma, dependendo do que ele me falasse, muita coisa mudaria. Juro que tentei conter as minhas expectativas (não podia ser tão inocente em achar que não sofreria decepções), mas era mais fácil conter um espirro do que a esperança que vibrava em meu peito.

A parte mais difícil foi quando cheguei a minha casa, acendi as luzes do jardim e constatei que tinha mais quatro horas pela frente (e nada útil para fazer até lá). Fiquei na esperança de haver alguma coisa nova na minha varanda, porém estava tudo igual: o vaso com as rosas vermelhas, as violetas, a lavanda (precisei procurar na internet durante um tempão para descobrir que aquelas flores cheirosas eram lavanda) e o cacto diminuto. Até que a entrada da minha casa estava ficando bem decorada.

Graças a ele.

Estava em meus planos comer macarrão instantâneo, mas aproveitei que havia feito compras para receber os meus pais e decidi preparar algo mais articulado. Liguei o som e dei um de cozinheiro, tentando inventar sabores que não existem (ou não são comestíveis) e cortando legumes com a maestria de um pinguim manco. Consegui me distrair por pelo menos duas horas nessa historinha de sujar panela sem necessidade para, no fim, ter o meu jantar reduzido a um risoto com cara de vômito.

Não estava lá tão ruim, vai. Claro que não o suficiente para eu ser considerado um homem apto a casar, mas isso não me preocupava. Se eu casasse com Calvin, estaria feito, certo? Errado, eu não devia estar pensando em casamento, muito menos com o safado do meu vizinho. Isso sim seria o auge da minha tolice.

Acabei fazendo uma mini faxina na cozinha e na sala de estar, mesmo que nem uma e nem a outra estivesse precisando. Olha, eu não tenho mania de limpeza, só queria me distrair mesmo.

Sobrevivi a mais uma hora completa, e utilizei mais alguns minutos para tomar um banho relaxante.
Lembrei-me do banho com o Calvin. Na verdade, quase não podia mais usar aquele banheiro sem me lembrar dele; e isso é estranho, pois acontecia até mesmo quando eu ia fazer o número dois.

Estava escolhendo uma roupa legal (acho que tinha levado aquela conversa muito a sério, mesmo sem saber do que se tratava) quando ouvi barulhos esquisitos no quarto ao lado. Uma porta se
fechou ruidosamente. Meu coração acelerou no mesmo instante, quase tive um infarto. Agucei os meus ouvidos.

- Não dá, Rose.. Vá embora - ouvi Calvin sussurrando baixo. O jantar sofreu um looping dentro do meu estômago, e me vi correndo até a parede da Clarice. Encostei meu ouvido em cima de uma das frases.

- Por que está agindo assim? Tento conversar contigo há tanto tempo, e você sempre me corta.- A voz meio chorosa de uma mulher ecoou. O nervosismo total já me dominava.
Ele tinha mesmo escolhido aquele dia para levar uma de suas vadias para casa? Puta merda,
Calvin!

- Não há o que conversar. Muito menos aqui, vamos para sala... - Calvin sabia que eu podia estar ouvindo. Levei uma mão à boca e rezei para ninguém ouvir a minha respiração ofegante de raiva e angústia.

 𝘖 𝘎𝘰𝘴𝘵𝘰𝘴𝘢𝘰 𝘋𝘰 105 ꧁☟︎︎𝕵𝖎𝖐𝖔𝖔𝖐꧂ Onde histórias criam vida. Descubra agora