04 | não sou seu peixinho dourado.

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"Cale sua boca e me percorra como um rio." River – Bishop Briggs.

ISAQUE tomou a iniciativa de se dispensar mais cedo de seu serviço naquele dia

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ISAQUE tomou a iniciativa de se dispensar mais cedo de seu serviço naquele dia. Sentia uma enxaqueca terrível, que palpitava, como soquinhos de um encrenqueiro em sua nuca. A luz amarelada de cima do balcão piorava a queimação e o falatório triplicava sua vontade de sumir.

Não teria condições de permanecer mais tempo ali, daquele jeito. Portanto, comunicou a seus funcionários que largaria o bar mais cedo, deixou a chave com Sabrina e dirigiu até seu apartamento.

Estacionou a caminhonete um pouco colada demais ao meio fio, mas não teve vontade nenhuma de a arrumar, trancando a lataria e adentrando o prédio de quatro andares usando sua chave do portão.

O prédio onde morava não tinha elevador, porteiro ou beleza em seu saguão principal. A caixinha onde as contas eram entregues era basicamente o único enfeite da recepção, mas o apartamento em si era grande, arejado e longe o suficiente de qualquer foco de água. Para ele, aquilo era tudo que importava.

Apesar de ter saído mais cedo, o sol já começava a descer, o que o deixava um pouco culpado. Largara o bar justamente no horário em que ele mais enchia. Inspirou profundamente, sentindo a dor se ramificar para seu pescoço. Mas não teria mesmo condições de trabalhar daquele jeito.

Que droga. Fazia um bom tempo que não tinha uma crise de enxaqueca como aquela, e sabia que a causa era seu contato mais cedo com o que mais tinha medo: a água salgada.

Recolheu algumas contas de sua caixinha e subiu as escadas lentamente. Morava logo no terceiro andar, mas, mesmo assim, pousara ofegante em frente à sua porta de entrada. Um pouco embolado com as contas e a chave, enfiou-a na fechadura, mas não conseguiu girar.

Já estava destrancada.

Franziu sua testa. Havia a trancado mais cedo, não havia?

Buscou em sua memória, mas não conseguiu encontrar a resposta para a sua pergunta. Saíra com tanta pressa que poderia facilmente ter se esquecido. Já fizera aquilo algumas vezes antes. Droga. Lorenzo o xingaria se soubesse, e teria toda a razão. Mesmo estando em uma cidade como Mangata, precisava passar a prestar mais atenção naquilo. Ainda mais com a temporada de turistas se aproximando. A partir de dezembro, estranhos passariam a vagar pela cidade com frequência, o que o obrigaria a se tornar mais atento.

Todavia, turistas naquele ano seriam o menor dos seus problemas.

No fim, ele abriu a porta, conformando-se com sua falta de atenção, e foi então que levou um susto.

Havia uma gaivota pousada no sofá logo abaixo da janela de sua sala de estar. 

Era uma gaivota robusta, totalmente branca, a não ser pela ponta de suas asas: acinzentada, e com alguns respingos amarelados. O sol que entrava tornava suas penas ainda mais cintilantes. Isaque juntou suas sobrancelhas. Ótimo, agora bichos voadores invadiam seu apartamento!

O Caçador de MaresiaWhere stories live. Discover now