02 | que péssima ideia, Isaque.

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"Você deveria ter me deixado cortar a corda. Sou muito doce, eu sou sua droga"

Mermaid – Skott

ISAQUE não dormiu o resto da madrugada inteira

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ISAQUE não dormiu o resto da madrugada inteira. Claro que antes mesmo de embarcar já imaginara que aquilo aconteceria, afinal, todo e qualquer contato que tivera com o mar depois de seu acidente o custara uma noite inteira de sono. Todavia, estranhamente, em seus pesadelos, não era a sensação perturbadora de seu pulmão em chamas que o mantinha desperto, mas sim os olhos esverdeados daquela sereia.

Isso acontecia com algumas pessoas, e se tratava, na verdade, de um sintoma preocupante. Afinal, sereias poderiam encantar humanos. Sabia-se isso, difundia-se isso, assim como sempre se soubera bastante sobre as sereias, antes mesmo de se tornarem reais.

O mito da mulher peixe nunca se tratara de um assunto desconhecido. Contudo, sempre fora apenas isso: uma lenda urbana. Do tipo que mães contam às suas filhas para as fazerem adormecer. Ou que garotos sussurram a moleques para inflarem sua luxúria. Mas então Lorenzo rasgara a barreira entre o sobrenatural e o que se pode ver, e agora, a lenda o dava sustento. Dava sustento a toda Mangata. E tudo que sempre julgaram saber sobre sereias se concretizara.

Bom, quase tudo.

Isaque não era um homem idiota e sabia que julgar conhecer algo por completo é se autodeclarar um arrogante. Ele não era arrogante, nem estava encantado, apenas fascinado. O que também acontecia com várias pessoas, mas que ele não poderia evitar.

Já vira sereias antes, afinal, como não ter o feito? Na sua certidão de nascimento estava a evidência que o entregaria, mesmo se mentisse: nascera e fora em criado em Mangata, a capital oficial das sereias. Mais que isso, lá pairava registrado o nome de seu pai. Preocupantemente nascera e fora criado pelo único fornecedor de sereias que se tinha conhecimento. Então, definitivamente, vira sereias. Muitas delas. De todos os tamanhos, cores e belezas.

Por toda a sua vida, vira seu pai atracar e retirar o aquário com mercadoria fresca de Scarlet. Por todo o tempo que morou junto a Lorenzo, o vira apertar a mão de Beto e o passar o domínio daquele ser fascinante com curvas femininas. Pelo amor de Deus!, ele mesmo fora, com seus dois enormes pés, ao aquário Maraberto, talvez duas vezes na sua vida adulta. O que era um recorde e uma lástima uma vez que aquele não era necessariamente um passeio que apreciasse. Não gostava daquele ambiente, nem mesmo seu pai o fazia. Mas ainda assim, gostava das sereias. Sem dúvida, as adorava. Como qualquer um.

Sempre gostara delas, mas nunca daquela maneira.

Aquela sereia era diferente, e ele sabia que estava acenando de sua lápide ao sentir aquilo. Sem dúvidas, deveria assinar seu atestado de óbito assim que se levantasse do colchão mole, limpasse o suor de seu rosto e se aprontasse para seu expediente.

O Caçador de MaresiaOnde histórias criam vida. Descubra agora