Lorenzo monopoliza o comércio de sereias.
Sendo o único pescador em Mangata a deter o conhecimento de como fisgar uma "mulher peixe", Lorenzo vive por exatos dez anos vendendo sereias para aquários.
É o negócio da família. É o que dá vida a cidade...
"Você acredita que pode andar na água? Você acredita que pode ganhar essa luta?" Walk on Water - Thirty Seconds To Mars.
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– LORENZO. Chega.
Ordenou Isaque, vergonhosamente estirado no sofá, com as pernas abertas e um saco de gelo no meio delas.
Seu pai havia chegado a seu apartamento há cerca de cinco minutos, e rido de sua cara desde então. Parecera ignorar por completo o fato de que a sereia desaparecida havia ido parar em seu apartamento, focando na premissa de que ele havia levado uma joelhada no saco. Muito maduro de sua parte. Isaque quase se arrependia de ter ligado.
Assim que a sereia escapou outra vez, ele conseguiu telefonar para Lorenzo, que, como de costume, dirigiu rápido e chegou em menos de quinze minutos. Nesse meio tempo, Isaque colheu o saco de gelos que precisava desesperadamente, mancando de maneira debilitada, tomando um analgésico forte e se jogando no estofado. Permaneceu desse modo desde então. Em choque, perplexo e dolorido. Sua enxaqueca também não o havia deixado, e seu pai achou aquilo hilário, tanto que ainda ria ao se defender:
– Ah, garoto, não tire de seu velho a única diversão que ele teve no dia.
– Ótimo saber que a invasão da minha casa e meu saco em chamas te alegraram tanto assim.
– Não seja dramático, Isaque.
– Uma sereia com pernas entortou meus ovos e você não quer que eu fale sobre isso?
Aquela sentença pareceu finalmente colocar os miolos de Lorenzo no lugar. Ele cruzou seus braços e suspirou, parando enfim de gargalhar.
– Ela tinha pernas mesmo, é?
– Sem dúvida nenhuma. E mãos de gente. Já havia pescado uma assim antes?
– Não. E não consegui achar respostas.
Isaque se remexeu, fazendo uma careta. Enquanto esperava Lorenzo chegar, havia feito uma busca, como a sereia havia incitado, e se surpreendido por ser tão óbvio.
– Eu tenho um palpite. Lua.
– Lua?
– Pesquisei no Google e há um mito de umas tal de "filhas da lua". Sereias que ganham pernas durante o dia. Ai – uma pontada o deixou preocupado. – Será que devo ir ao médico?
– Tenha dignidade, garoto, é só uma joelhada no saco. Filhas da lua então? – insistiu, com a testa franzida. – Nunca ouvi isso. Por que nunca pescamos uma antes?
– Não sei. Ta na internet e faz sentido, não? Ela se transformou durante o dia. Agora, talvez, tenha cauda novamente.
– Elas podem encantar homens na superfície?
Isaque se lembrou de seus toques e de como o fizeram sentir. Claro, não havia compartilhado aquela parte com seu pai, mas não conseguiu não se questionar: será que o havia encantado? Sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
