[C7] A Verdade

8 2 0
                                    

Nada foi capaz de aliviar a tensão em seus ombros, nem mesmo o gélido líquido que a afaga, que transcorre em seus longos cachos. Nenhum banho poderia livrá-la do sangue que impregna suas mãos, das cinzas a penetrar-lhe a pele. Mas, talvez, os estilhaços pudessem ajudá-la a expurgar o mal que percorre em suas veias, fora o que ela pensou ao ver a crescente rachadura no vidro do box, ao sentir os cacos se espalharem pela cabine rasgando-lhe a pele. Seu corpo, no entanto, se recusou a expelir o sangue do demônio. Não importava o quão lacerados deixava os pulsos, as fendas sempre se fechavam.

-Mina, por favor, não...

Ela não o ouviu chegar, seus passos sobre o vidro quebrado, mas também não tinha certeza de que ele sempre estivera ali. Seus dedos passeiam sobre o vermelho tentando alcançar o fragmento que Mina envolve nos dela.

-Você mentiu pra mim.

Sua voz custa a sair no instante em que o repele, que o fere. Vlad afasta a mão, em resposta à ardência do corte em seu dedo. Mina o encara, seus olhos brilhantes irritados pelas lágrimas, olhar perdido em tortuosa lembrança.

-Disse que não a matei.

-E não matou...

Ele diz em resposta, sendo interrompido mais uma vez.

-Eu a tirei tudo, até a última gota. Eu... eu...

Seu olhar se volta às mãos sujas de sangue, em desespero, e Vlad então repousa sua mão sobre a dela em mais uma tentativa de alcançar o fragmento de vidro. Após enfim capturar o objeto de sua posse, com a toalha que retira de sobre os ombros, ele limpa o sangue revelando a marca deixada pela prata que Mina outrora comprimia em sua palma. A pequena queimadura em forma de cruz.

...

Seus negros fios, ainda húmidos, caiam sobre a camisa social branca em qua Vlad a vestira. Seu olhar permanece perdido em algum lugar do assoalho enquanto, imóvel, seu corpo repousa sentado sobre brancos lençóis. Mina não nota o momento em que Vlad enxuga a água que ainda escorre em seu rosto, o momento em que ele tenta encontrá-la através de seus castanhos olhos.

-Há muito me perseguem, desde que se deram conta do monstro que criaram...

Ele diz ajoelhado ante Mina.

-Eu a tirei tudo...

Ela divaga ao encontrar os melancólicos olhos que a encaram.

-Essa culpa não é sua.

Ele aperta o punho sobre o colchão em que o apoia.

-Eu fui o monstro.

Ela diz em resposta, seus olhos perdidos em profunda angústia. Cabisbaixo, Vlad recolhe o pulso observando-o durante um considerável tempo, tateando-o pouco antes de finalmente se erguer. Seus passos se tornam cada vez mais distantes até que ele deixa o quarto. Ao ouvir o trancar da fechadura, Mina envolve os braços ao corpo em um auto abraço e, reclinando-se, deixa as lágrimas ainda presas em seus olhos escorrerem livremente. O líquido frio toca sua pele enquanto ela afunda ainda mais na escuridão de sua dor. Enquanto se afoga desejando em seu íntimo ser dispertada de mais um maldito pesadelo.

Mina...

-Nate?

Ela ergue o olhar, vislumbrando a parede branca refletindo o sol. Seus castanhos olhos passeiam ao redor encontrando o bonequinho de madeira em meio a materiais de desenho e pintura. Encontrado o olhar espantado do jovem à porta.

-Nate!

Mina se levanta em um salto, atando-o em seus braços. Ele retribui o abraço.

-Onde esteve? Eu liguei mas só dava fora de área...

A Maldição da NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora