[C2] Estranho familiar

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Mina chega no ensaio, o mais pontual do que Gab poderia esperar, porém demonstra um irritante desleixo ao esquecer suas falas, falas essas que ele a relembra pontualmente, até não conseguir manter-se passivo ao seu aparente descaso.

-Olha, não dá! Eu realmente tentei, mas, querida, você está péssima hoje.

Ela estava mesmo se sentindo péssima, sentia como se toda sua energia tivesse se esvaído naquela noite, naquele olhar.

-Tem certeza que está bem?

Indaga Luciana ao percebê-la distante.

-Uhum. Só preciso dormir um pouco.

Em suas primeiras pedaladas ela sente o desequilíbrio, Abel a segura bem a tempo de impedi-la de cair.

-Que tal a gente pegar um metrô hoje?

...

Ela se vê perdida sob a escuridão de uma noite sem estrelas. Mina tenta alcançar a figura que se distancia, seguindo em direção à luz. Seus passos diminuem e, ao lembrar da horrenda fera, ela deixa de acompanhá-la, de buscá-la. O espesso vermelho sob seus pés aos pouco a devora, como areia movediça. Quanto mais se move, mais é consumida pelo mar de sangue e ossos.

Seu corpo se agita sobre os lençóis. 

-Mina...

Ela se debate enquanto é afogada pelo vermelho oceano.

-Está tudo bem. 

Nate a toca e ela desperta, sugando todo o ar que seus pulmões poderiam suportar.

Ela o vê deitado ao seu lado, seus olhos cansados, preocupados.

-Foi só um sonho ruim.

...

Ela sabia que não estava tudo bem. Seus pesadelos o perturbavam o sono, seu estado abatido o preocupava. O estresse resultante à sensação de impotência e noites mal dormidas o atrapalhavam em sua rotina. Com dificuldades para criar e desenvolver novas ilustrações, Nate se vê obrigado a esticar prazos e, consequentemente, perder alguns trabalhos.

Vê-lo encarar uma tela em branco se tornara algo comum por um tempo.

Ela o estava fazendo mal, precisava resolver isso o quanto antes, foi o que pensou quando decidiu buscar alguma terapia que pudesse ajudá-la a se livrar de seus pesadelos.

Ao fim de um dia de trabalho, dia vago em seu curso, Mina segue para sua primeira consulta. 

A recepcionista checa seus dados no computador sobre o balcão, em seguida a encaminha para a sala onde seria atendida. Há duas poltronas brancas, estas paralelas à um divã. A luz alaranjada do crepúsculo transparece tímida através da fresta das cortinas, sendo ofuscada pela fluorescente luz branca que ilumina toda a sala. Aos pés da janela, um vaso de planta decora o ambiente, além do quadro impressionista na parede, os livros organizados em pequenas e quadradas prateleiras.

Rejane Silveira, foi o nome indicado por Luciana.

Rejane se senta em uma das poltronas e a convida a fazer o mesmo. Um incômodo silêncio perdura por alguns instantes.

O fascínio em seu olhar causa calafrios em Mina.

-É sua primeira consulta?

-Ficaria surpresa se eu dissesse que sim?

Um sorriso tímido se faz nos lábios de Mina, o olhar de Rejane permanece em seu fascínio quase infantil.

-Poderia começar pelo motivo que a trouxe aqui.

A Maldição da NoivaWhere stories live. Discover now