Capítulo 21

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Ainda que minha vida seja, em sua totalidade, curta,
o desejo de abreviá-la ainda mais me cerca
Como uma pequena ilha em meio a ondas destrutíveis,
assim me sinto em meio a tanto caos.
Não me peça pra parar,
eu tive tempo suficiente para tentar parar,
permita-me a dádiva de ter outra vida mais adiante,
terei mais tempo para continuar tentando,
terei tempo para viver.

Porque embora,
de todas as formas,
tente ficar bem,
eu nunca consigo.
É doloroso não conseguir suprir as expectativas que eu mesmo impus.
Onde está a alegria que eu dizia ter?
apenas um mero fingimento,
fraco e desgastante fingimento.
Forço-me a sentir algo, mas tudo está um verdadeiro torpor,
“não vou mais me deixar vencer por isso”
minto no chão frio do meu quarto em mais um fim de tarde.

Não vou me amar hoje,
não há um respingo do que acredito ser eu no reflexo do espelho
por favor, deixe-me odiar quem eu sou por algumas horas,
amanhã porei uma máscara no rosto e volto a me dar um falso amor.
quem poderia ver o que há por baixo dela,
se nem eu mesmo reconheço o que há lá?
fingimentos nunca foram tão verdadeiros,
pra quê mostrar a destruição que há por trás?
tentarei, mais uma vez sem bons resultados, ficar bem amanhã,
hoje vou me permitir sangrar.

Passo os meus dias mais frios sozinho
como uma arvore sozinha num vale,
suportando o frio por longos dias e noites,
me suportando dia e noite,
quantas temporadas  ainda me restam?
continuarei aqui até o inferno partir.
o que está caindo por meu rosto?
será o chuvisco ou as lágrimas de exaustão?
o que ainda resta?
somente o frio.
Por que eu deveria continuar tentando algo
que talvez nunca tenha sido meu?
o futuro
sonhos
lembranças
qual a certeza de que tudo é meu?
não me sinto na obrigação de ficar,
quando o que me puxa está do outro lado.
O desconhecido não me assusta,
esta tarefa já pertence a seu oposto.

Não escrevo mais nada,
porque não sinto nada
o que deveria colocar nestas linhas?
o nada que se encontra aqui dentro?
pois foi só isto que restou
depois de tantas recaídas.
A vida não se contentou em me dar
os dias felizes
e nem os dias tristes,
ao invés disso
ganhei o vazio.
Me faça sentir,
mesmo que seja a dor mais agonizante,
ao menos irei perceber que ainda estou vivo.

Textos de JúpiterWhere stories live. Discover now