Capítulo 35

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Memória, você me intriga
o que colocas como parâmetro para esquecer o que vivi?
e continuar lembrando o que sofri?
já que não consigo controlar algo que está impregnado à minha existência,
como poderei, então, segurar meu passado que desliza por minhas mãos?
você ainda se lembra de todos os meus amores,
como se lembra de como os perdi, memória?
a sua insistência em trazer somente o que é doloroso à tona,
tem me feito refletir à cerca do que, realmente, considero dor.

Memória, o tempo está passando
o que você pensa em lembrar?
o que você se LEMBRA de guardar?
o passado do meu futuro tem me assustado.
constantemente, não consigo lembrar com clareza quem eu sou
quem eu realmente sou,
e isso é completamente apavorante.
não ter certeza do que fui e do que poderei ser amanhã,
não lembrar dos meus sentimentos, de minhas alegrias
de tudo o que ficou pra trás,
é como se algo viesse,
tivesse roubado tudo
e levado pra bem longe de mim.

Memória, você pode me dizer o que tem acontecido?
os motivos tenho esquecido, as certezas também.
não deixe que eu esqueça dos rostos, das chegadas
dos cheiros, e nem das partidas.
não me faça esquecer os afagos da minha saudosa avó
o sorriso de minha amada mãe
e do aconchego que meus queridos amigos me trazem.
se sinto saudade, é por quê me lembro, certo?
mas até que ponto me lembro da saudade?
um dia tudo irá embora? pra quê lugar aqui dentro?
por favor, me deixe memorizar,
filmar tudo e guardar.

Memória, por quê minhas lembranças estão indo e não voltando mais?
em que momento você deixou tudo se tornar um mero borrão?
os detalhes valiosos estão se perdendo,
vislumbro apenas pobres retalhos do que deveria ser meu.
o que ainda tenho?
como viver sabendo que o que me resta
um dia também irá embora?

Memória, me responda
você, por acaso, ainda consegue se lembrar de mim?
{autoral}

Textos de JúpiterWhere stories live. Discover now