01 | Os paradoxos de Sócrates

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Skyler Howell - mais conhecida como moi - uma pessoa solitária, mas não insociável ao ponto de não haverem boatos sobre a personalidade workaholic e o vício violento em questões abstratas e ideológicas. Conhecida como Howcrates por colegas de classe maldosos que não compreendiam uma personalidade combativa quando viam uma.

Odiava seguir as coisas cegamente, por isso passava horas com livros que me deixavam mais inteligente e menos manipulável, elaborando opiniões sobre questões filosóficas, morais e políticas, ao som de alguma música de uma playlist dos anos 90. Essa era minha forma de lidar com a fome insaciável de mudar o mundo. Mas opiniões demais sempre irritam alguém, principalmente quando essas pessoas acreditam em qualquer coisa que lhes contem. Discordando profundamente de Sócrates, "esses idiotas propagam o mal voluntariamente".

Sócrates e eu não tínhamos muito em comum além de um shipper mal feito e um desagradável atrito quanto à sua crença de encarar o amor de uma mulher como mais perigoso que o ódio de um homem. Aquela provavelmente era a convicção de um coração partido, tentando se vingar da sua antiga paixão através de palavras infundadas numa pedra. 

Para ele, os sábios eram aqueles que reconheciam os limites da própria ignorância; para mim, ela só havia sido uma benção na época do ensino médio - eu percebi que a habilidade de distinguir pênis desenhados nas mesas era dispensável. Que se fode-se os limites da minha ignorância! - havia saído da casa da minha mãe há dois anos, para morar nos dormitórios da universidade de Nova York, e com 21 ninguém ainda havia me ensinado qual o truque para sobreviver à vida adulta. A ignorância era uma desgraça. Principalmente quando minha mãe pagava minhas despesas, como qualquer pai americano tradicional, com minha poupança da faculdade. A única voz gentil que ecoava na minha mente àquela altura dizia "você não consegue emprego, lá-lá-lá-lá!".

O mais próximo que conseguira de um emprego foi exercer o papel de advogada do diabo - embora algumas alunas demonstrem mais interesse na função que eu. Mesmo assim, continuava sendo a aluna favorita de Hepburn, um dos professores que havia entrado para o Guinness Book na categoria de "professor mais novo ", logo abaixo de "homem mais carrasco que já existiu". E apesar de concordar com a piadinha que os garotos do turno da noite haviam inventado sobre o Guinness Book - e também com as garotas que suspiravam toda vez que o assistiam dar aula -, não poderia deixar de admitir: sua ideia de criar um jornal para a universidade era genial; mais genial ainda quando me indicou como seu braço direito no projeto. E apesar de detestarem mais a mim que o "professor carrasco", os alunos compraram a ideia; principalmente aquelas que acharam que passariam mais tempo com ele e tirariam uma casquinha.

Foi assim que os primeiros alunos começaram a sair, e o restante, ao perceber que o projeto era um completo desastre - ninguém do campus lia -, o restante também foi embora. Os alunos não buscavam mais fontes de informações, nem livros teóricos, muito menos buscavam ficar mais inteligentes. O mais próximo que chegavam de leituras cultas e fontes de informações eram Cosmopolitan, People e Twitter. E como futura jornalista, me doía ter que citar o Twitter entre elas. 

Mas essa era a verdade: a tecnologia havia acabado com qualquer esperança de evolução política e moral que poderíamos ter desde a abolição da escravatura e o sufrágio universal - hello-o? Ainda temos bastante coisa para mudar na sociedade, pessoal. Vamos começar com o fato de que ainda acham que cintura baixa está na moda. Isso deveria ser penalizado severamente, já que não há nada mais brega do que uma tendência que só favorece um tipo de corpo. Mas os tempos eram outros: era mais importante ter cem mil seguidores no Instagram do que levar uma vida saudável e com propósito - nem que os cem mil seguidores fossem apenas uns nomes estranhos do outro lado do mundo; se ninguém descobrisse, ainda seria considerado fama.

A vida era uma droga combinada de infelizes circunstâncias. Se tivesse nascido uns anos atrás, estaria protagonizando, correndo pelas ruas ao som de buzinas impacientes, com um preciso café ao gosto narcísico da chefe arrogante de uma revista famosa. Com sorte tropeçaria em um homem atraente. O café quente molharia nossas camisas e eu descobriria mais tarde, com o blazer que deixou sobre os meus ombros, tratar-se de nada mais, nada menos, do CEO da revista. Mas ao invés disso eu estava aqui, esboçando matérias às pressas para publicar num jornal que sequer era lido, enquanto as crises existenciais faziam perguntas cruéis como "se ninguém mais se importa com veículos de comunicação, sua graduação em jornalismo é uma piada".

Todas Contra HawkinsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora