05 | Meu nome não é Maicon

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Já era quase meia noite quando terminei de fazer o último ajuste na matéria, acrescentando as informações que as três haviam dado. Parando para pensar, até que não havia sido tão ruim assim, e a matéria havia ficado bem mais fluída. Mesmo admitindo que o professor tinha razão, lhe encaminhei a matéria por e-mail com uma carranca recorde, tendo pelo menos a certeza de que minha personalidade insuportável seria a cereja do bolo da última edição do jornal. A resposta veio em seguida.

Pelo visto você se divertiu
Me agradeça depois ;)

"Claro, eu vou agradecer com a minha mão na sua cara", foi isso que pensei antes de dormir, exausta e sentindo cada músculo do corpo gritar contra o colchão. Estava dormindo sempre tão tarde e fazendo tantas coisas durante o dia, que já havia me acostumado em sentir dor e acordar atrasada. E aquilo aconteceu mais uma vez, quando meu despertador gritou com desespero e me fez sentar na cama abruptamente. O relógio denunciava meus vinte minutos de atraso. Aquilo tinha que parar de ser uma rotina. 

Pulei da cama com aflição e corri em direção ao banheiro, escovando os dentes e enxaguando a boca com aquela água insuportavelmente gelada logo de manhã. Passei uma água no rosto, lavei os olhos e me olhei no espelho. Meu cabelo estava horroroso e cheio de nós, minha cara parecia ter sobrevivido a uma guerra e eu estava morrendo de vontade de fazer xixi. Ignorei o último e corri para a penteadeira, passando a escova com agressividade nos fios enquanto tentava escolher uma roupa adequada. Um coturno velho, uma calça marrom vintage e um cropped antigo que tinha um dos melhores tecidos que eu já tinha experimentado. Tudo isso com um coturno preto e gasto que calcei por último, antes de puxar a bolsa e sair correndo pelo corredor dos dormitórios.

Sai do prédio e voltei a correr pela calçada, chamando a atenção dos alunos que passavam por ali, ou que descansavam nos bancos e conversavam com seus amigos na grama. E enquanto minhas pernas participavam da maratona do desespero até o prédio do outro lado da quadra, meu cérebro repassava as informações inúteis que eu havia adquirido durante a matéria. Ou ele era tão irônico quanto eu, ou eu só era solitária o suficiente para tentar ocupar a minha mente com trabalho, sem uma vida social a qual pudesse me ocupar pensando. Mas aqueles pensamentos desconexos logo foram preenchidos pela confusão de ver os alunos rindo e conversando com papéis e mais papéis nas mãos, como se fossem o conjunto de um jornal.

Olhei no relógio de pulso, vendo que agora já contabilizavam trinta minutos atrasada, e resmunguei como se fosse adiantar de alguma coisa. Até chegar do outro lado da quadra seriam mais dez minutos, e eu assistiria um total de dez até a aula acabar. Não valia a pena continuar correndo daquela forma, pensei comigo, desistindo para olhar para cima e respirar fundo. Precisava de uma pausa.

Olhei ao redor outra vez, observando os alunos com atenção e curiosidade. Um garoto de camisa jeans desabotoada com uma mochila se matava de rir, dividindo a atenção entre o copo de café e o jornal. Um grupo de garotas segurava os papéis entre si, sussurrando como se contassem segredos umas para as outras, com os olhares julgadores e satisfeitos. E em seguida eu via mais um aluno, depois outro, e mais outro, e mais outro, até que o campus estivesse cheio deles, sem me dar a ideia do que estava acontecendo. Era como se estivesse acontecendo uma falha na matrix e eu fosse a única que estava vendo. Afinal de contas, o que caralhos o campus inteiro fazia lendo o meu jornal?!

As risadas em uníssono de um grupo de garotos perto de mim me fez sair do transe, os observando conversar e gargalhar com o dedo apontado sobre as letras. Dois estavam sentados com skates em mão, enquanto outro se sentava nas costas do banco e mais dois permaneciam em pé ao redor deles. Era uma pequena gangue de arruaceiros, que se divertia horrores com as frases escritas em um papel.

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