Capítulo VIII - Amor Marginal

202 49 175
                                    

Por fim, o dia mais odiado da semana chegou trazendo consigo uma legião de pessoas mal humoradas que caminhavam sem muitas esperanças por todas as avenidas.

 Enquanto os intitulados homens de bem tomavam suas posições a caminho do trabalho, alguns jovens bêbados ainda estavam tentando encontrar o caminho de volta pra casa depois uma madrugada inteira festejando.

Perdido entre toda aquela multidão, estava Erick acompanhado de duas criaturas divinas que estiveram ao seu lado ao longo de toda a sua vida mortal, mas que agora estavam cada vez mais próximos de descobrir qual deles iria deixar a guarda daquele garoto de uma vez por todas. Porém, aquelas criaturas não pareciam estar no clima para despedidas, ambos estavam confiantes até demais das suas apostas.

Ao contrário do que todos estavam esperando, aquela segunda-feira parecia estar sendo apenas mais um dia normal na vida de Erick, ele seguiu toda a sua rotina chata sem ser atrapalhado, assistiu as aulas tediosas da faculdade e no intervalo seguiu até o refeitório onde já havia decorado todos os salgados caros que havia, mas nesse momento uma cabeleira loira o chamou atenção.

Quando olhou ao redor tudo o que conseguiu ver fora um vulto, isso podia não significar nada, mas ele tinha certeza de que aquela era a Michelle e a sua primeira reação foi correr atrás da garota. Depois de três passos seu corpo simplesmente congelou no lugar. A atitude estranha que Erick estava tomando podia facilmente ser explicada por Gael e Lavínia que tentavam influenciar aquele humano ao mesmo tempo, coisa que eles nunca haviam feito antes.

Os olhos efervescentes da demônio cruzaram com os do anjo que parecia igualmente enfurecido. A energia dos dois estava tão massiva que nem mesmo se deram conta da expressão de dor que o pobre humano estava fazendo, antes que as coisas saíssem de controle o casal se afastou, machucar Erick nunca havia sido a intenção.

Ainda assustado com a queda de pressão graças as energias daqueles dois, Erick continuou seu caminho sentindo uma leve tontura, apenas queria tomar um pouco de ar fresco, mas o caminho que ele havia traçado o levou para uma cena que mais parecia uma piada feita pelo destino.
Pela primeira vez desde que se conheceram, Michelle estava sorrindo de maneira sincera, ela parecia genuinamente feliz daquela forma, com os braços entrelaçados ao pescoço de Levi enquanto se aproximava apenas alguns centímetros para selar seus lábios.

Nem Gael ou Lavínia sabiam como reagir com aquela cena, muito menos Erick que encarava a cena com uma dor no peito. Para ele finalmente fazia sentido o porquê Levi havia ficado tão bravo com a cena da festa, e era coerente, aqueles dois pareciam pertencer ao mesmo mundo.

Mas para Lavínia aquilo era algo que nem mesmo o diabo gostaria de ver, os olhos negros mostravam bem a raiva que ela estava presenciando, e sua aura estava tão densa que isso influenciou o humano mesmo sem a intenção de fazê-lo.

— Então era por isso? Desde o começo você começou a vir aqui por ela?– A voz nervosa de Erick se sobressaiu, chamando a atenção do casal parado ali.

Sem dar atenção para a loira, Levi se afastou da mesma, olhando diretamente para o garoto que sempre estava desajeitado.

—Erick, não! Não foi isso o que aconteceu, você não entendeu...– A voz firme de Levi parecia levemente alterada, como se ele não controlasse sua própria garganta.

A decepção estampada no rosto de Erick era clara, mas sua cabeça doía apenas de pensar no assunto, e sem olhar para trás ele saiu daquele bendito lugar. Levi tentou chamá-lo, até mesmo correu atrás, mas não conhecia a universidade bem como o estudante dali, e com isso acabou perdido nos inúmeros corredores.

Levi parou por alguns segundos tentando pensar racionalmente, mas era impossível, na sua cabeça aquela cena estava se repetindo várias e várias vezes como se fosse uma punição. A expressão triste que Erick tentava esconder quando lhe deu as costas, isso ele não conseguiria esquecer de maneira nenhuma e tão pouco se livrar da culpa.

EfêmeroWhere stories live. Discover now