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— Se continuar assim, vai repetir o seu último ano, srta. Brown. — com bastante esforço, abro um sorriso azedo para a moça de meia idade a minha frente.

— Sei que minha ida está sendo difícil, diretora Beauhart, mas, com toda certeza, a senhora não verá esse rostinho lindo no próximo verão. — ergo minha última prova do ano arregalando os olhos ao ver uma grande letra "F" desenhada no canto superior da folha com caneta vermelha. — Isso é sério?

— Espero que no próximo verão não, mas neste...— sorriu perversamente para mim. — Pegue seus horários na secretaria. Tenha um bom verão com as aulas de reposição. — acenou assim que me dirigi para fora dali o mais depressa possível.

Quando penso que me livrarei dela e de todos os professores nojentos desta escola, eu consigo reprovar em física pelo terceiro ano seguido. Após me sujeitar a beijar o professor estagiário de Educação física, – o que não foi nada mal já que ele é um gatinho – e me lançar para o depravado do professor de química e matemática, pensei que não teria problemas em ao menos prestar um pouco de atenção nas aulas de física e me esforçar para consegui tirar um "C" na prova final, mas o babaca deve ter se ofendido quando ele foi o único que Maddison Brown não se ofereceu descaradamente para garantir sua nota, e por vingança terei que passar metade das férias tendo aulas e fazendo provas extras.

Miserável.

— Oi, de novo, Maddison. — Larry, me entrega os horários da recuperação. — Espero que seja a última vez que pega horários de reposição comigo, garota.

— Achou que ia se livrar de mim tão fácil? — zombo me virando para ir, mas paro assim que noto algo diferente. — Quem é esse? — aponto para o nome que substituía o babaca do meu professor da matéria.

— O Sr. Hills recebeu uma proposta de emprego em uma escola em Boston. Esse é o Carter, seu substituto. — abro um sorriso ao receber a notícia que alegrou o meu dia. Apesar das aulas extras, não terei que lidar com o babaca nojento do Hills outra vez. — Ele só iria começar a dar aulas para os calouros no ano que vem, mas você fez seu trabalho aqui se adiantar.

E de repente, uma oportunidade de fazer as aulas e provas extras serem mais proveitosas e menos tediosas se abre como uma luz celestial vinda dos céus.

— E...ele é bonito? — me aproximo no balcão interessada em saber mais sobre o tal substituto.

— Ainda não o vi pessoalmente, mas sei que o filho dele estuda aqui. O Aiden. — franzo a testa.

— Quem? — faço careta achando aquela informação irrelevante para a minha solução. — Me conte mais sobre o...como é o nome dele? Tem alguma foto? — sorrio descaradamente enquanto a mesma não demonstra qualquer reação.

— John. — respondeu em um suspiro. Larry conhece perfeitamente minhas estratégias para conseguir minhas notas azuis desde que entrei pro ensino médio.

Ela poderia contar à diretora, seria uma bela oportunidade de me ver bem longe daqui, mas Larry, no fim de tudo, diz ser apenas uma secretária que não tem voz na escola.

— Que se dane, ele é um velho conservado, tem cara de gay. — entortou o bico de lábios grossos e me mostrou a ficha do meu futuro professor substituto. Vejo uma foto dele de outra ficha ser erguida para mim.

— Que nada. — retruco analisando a foto — Essa carinha provavelmente gosta de um belo par de peitos. Obrigada pela ajudinha. — lhe mando um beijo no ar.

— Vê se não faz cagada, ouviu, Brown?

— Eu nunca faço cagada, Larry. — pisco para ela dando mais uma olhada nos olhos azuis e penetrantes do Sr. Carter os gravando perfeitamente e saindo dali priorizando minha lista de afazeres nas próximas semanas. — Esse tá no papo. — sorrio o ler, mais uma vez, seu nome em meu horário.

Abro a porta enferrujada da pequena e mal cuidada casa onde moro. Suspiro encarando as peças de roupas penduradas nas cadeiras da mesa da cozinha e nas várias latinhas de cerveja jogadas na pia e no sofá da sala. Pelo visto, meu pai não mandou o dinheiro da pensão, outra vez.

Saio catando as roupas que encontro pelo caminho até a cozinha as jogando dentro do cesto de roupas sujas entupido de mais e mais peças. Empilho as latas vazias nos sacos plásticos ao lado da pia.

— Mary! — exclamo ouvindo suas reclamações do quarto no segundo andar. — Mary, levanta! — grito novamente subindo os degraus.

— Me deixe morrer sozinha! — grita de volta, mas se arrepende assim que a dor da ressaca em sua cabeça volta com o próprio grito.

— Vamos, está tarde. — abro as cortinas daquele quarto escuro a livrando, logo em seguida, das cobertas na cama. — Você está atrasada pro seu turno. — jogo seu uniforme do Clube dos marmotas, uma hamburgueria construída para os fanáticos por baseboll, mais especificamente pelos Marmotas, o time famoso da cidade.

Não passa de um bando de ogros barulhentos comendo grandes baldes de asinhas de frango gordurosas enquanto mandam cantadas para as garçonetes de vestidos curtos.

— Que dia é hoje? — Se senta na cama com a voz embargada.

— Segunda-feira, dia de pegar o seu turno no CDM. Vamos! — saio puxando-a pelo braço até o banheiro.

Mary, minha tia e guardiã legal, uma vez deu atenção para uma dessas cantadas ridículas. Ao final de tudo, ela acabou alcoólatra e amargurada da vida quando ele roubou todo o seu dinheiro e a deixou sem aviso prévios. Talvez o passado de Mary seja o principal motivo na minha falta de confiança nos homens, o que, consequentemente, me deixa cada vez mais longe de ter um namorado.

— Como foi na escola? Pegou seu boletim? — aceno com a cabeça confirmando enquanto procuro seus sapatos entre a bagunça debaixo da cama. Eu não iria ter essa conversa com ela, não agora. — Está tudo certo? — confirmo outra vez sem olhá-la nos olhos — Maddison, não minta.

— O professor de física não gosta de mim, tá legal? — me levanto impaciente — Terei que fazer algumas provas nas férias.

— Merda, Maddison! — eleva a voz.

— Relaxa, tá bom? — retruco da mesma forma — Eu vou passar. — jogo seus sapatos próximo aos seus pés.

— É bom mesmo! — abafo seu grito ao sair dali e me trancar em meu quarto.

Tia Mary me recuperou no convento dois dias depois que meu pai me largou na capela enganando a pobre cabeça de uma criança avisando que iria orar em outro lugar pela morte da mãe. Essa foi uma das idéias mais brilhantes que meu pai já teve.

Outro babaca que não soube me amar.

Desde então, Mary vem sendo meu único porto seguro e o outro motivo na qual eu não desisti do meu diploma e até mesmo de uma possível faculdade. Ela insiste em me obrigar a terminar o ensino médio e procurar algo em que eu me atraia e, enfim, fazer a minha vida valer a pena. Ela não quer que a filha da única irmã acabe também como uma garçonete alcoólatra e eu sei que ela se esforça, mas eu não tenho planos, eu mal me esforço para ter algum.

Mal sabe ela que meu destino provavelmente será atendendo ogros com as bocas cheias de asinhas de frango gordurosas igual ela.

CONTINUA...

Já vai adicionando o livro à biblioteca, como avisei, estarei postando todos os dias dos capítulos do conto.

Espero que gostem da história da Maddison.

Correto demais (Contos de Riverside)Onde histórias criam vida. Descubra agora