Sombras sussurrantes
Seul, 31 de maio de 2098 - 08:15am
Yeonho via o noticiário pelo televisor da locomotiva, a caminho da faculdade. No aparelho, uma cena o chamara a atenção, um rapaz dançava em frente de um espelho, compenetrado nos próprios passos, imerso nos movimentos que seu corpo inventava em resposta a uma melodia que Yeonho não pôde ouvir pois os ruídos das conversas paralelas naquele vagão o impediam.
Resolveu olhar para outra direção, para a janela de seu assento.
Os prédios atravessavam depressa o seu campo de visão, altos e cinzentos, e em alguns deles algo lhe atraía. Apoiou as mãos na parede metálica do transporte público a fim de ficar mais próximo à janela, e viu o desenho rabiscado nas paredes de concreto dos prédios ao redor da linha da locomotiva. O mesmo desenho em tinta spray preta, onde abaixo surgia uma palavra escrita em tinta vermelha: "trovão".
Yeonho voltou a se sentar corretamente e evitou olhar para a janela e para o televisor. Não gostava do que via sempre a cada intervalo dos noticiários e aos programas de entretenimento, e tinha dúvidas quanto o que de fato os desenhos pichados pelos muros da capital significava.
Quando o metrô parou na estação, desceu com sua mochila nas costas e subiu as escadas.
As nuvens carregadas de chuva e a brisa estática anunciavam uma tempestade que provavelmente chegaria ao entardecer. Yeonho apressou os passos e ao atravessar os portões da Universidade, encaminhou-se para a sala de aula.
Avistou Kangmin sentado na última fileira do auditório, guardando-lhe um assento. Foi se sentar junto ao amigo.
– Chegou tarde, por quê? – Kangmin perguntou aos sussurros para não chamar a atenção do professor que estava de costas para os estudantes, escrevendo algo na lousa digital.
– Perdi o horário. – Yeonho se sentou. Tirou os livros e o bloco digital para anotações da mochila, deixando-os sobre a mesa. – O professor marcou a data da avaliação?
Kangmin negou com a cabeça; disse com um sorriso largo:
– Feliz aniversário!
Depois da aula, foram ao laboratório.
[...]
Enquanto todos no refeitório do campus dividiam suas atenções entre a bandeja do almoço e os aparelhos smartphones em suas mãos, incluindo Kangmin que assistia vidrado ao episódio diário de "O mundo de Kim", Yeonho tentava ler um livro, virando as páginas conforme seus olhos ditavam o ritmo da leitura, contudo, desviou a atenção quando uma luz forte bateu contra seus olhos.Ergueu o rosto à procura do feixe de luz que o fizera pausar a leitura. Viu alguém apontando uma caneta laser em sua direção e correr para o lado de fora do refeitório ao perceber que havia sido visto.
Yeonho não pensou muito, apenas se levantou e seguiu a figura toda de preto que corria pelos corredores vazios sem olhar para trás.
Apressou os passos, vendo a silhueta de casaco preto sumir ao dobrar à esquerda na saída do prédio onde funcionava o refeitório estudantil. Yeonho passou pela porta, ofegante, olhou ao redor e não conseguiu encontrar quem estava seguindo há poucos instantes.
Puxou o ar com força aos pulmões e resolveu voltar ao refeitório, mas antes que pudesse entrar, viu o desenho pichado na parede em cima da porta principal. Um raio rabiscado em tinta preta e a palavra "trovão" em tinta vermelha, e algo mais aparecia junto ao desenho. Uma pergunta.
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Além da Barreira
Science FictionA realidade, tal qual Kim Yongseung a conhece, não passa de um software de última geração capaz de decodificar estímulos psíquicos; já a realidade de Ju Yeonho se trata de um futuro distópico, onde um ser humano criado em laboratório tem sua vida ex...