A morte diz "Olá!"

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• A morte em tons. •

Em primeiro lugar, as cores. Depois os seres humanos. A materialidade deles. É dessa forma que eu enxergo. Para alguns a morte é amedrontadora, é paralisante. Talvez seja para você. Com toda a sinceridade, você vai morrer. Há aqueles que desejam não acreditar em mim, ou ao menos não pensar sobre, mas eu também consigo ser amável. Sei ser agradável. Diante as amarguradas frases sobre mim ou dirigidas a mim, tento ser otimista. A realidade é que todos temem a mim, mas não percebem que o meu único trabalho é carregar suas pobres almas em meus braços, e, por vezes, o culpado do trágico fim da vida é o homem. O ser humano. E então voltamos à primeira frase; as cores vêm em primeiro lugar. A claridade. O cintilar branco que separa a vida e a morte, e só então a materialidade humana. Isso te assusta? É apenas uma apresentação, um começo. Você me conhecerá melhor em algum ponto da história, onde me erguerei sobre você tão suavemente que ao menos notará, e então entenderá que posso ser misericordiosa quando adequado. Entenderá que não tenho descanso, e quando acabo de recolher uma alma aqui, esbarro com outra ali.
Há muito tempo atrás, fui pega aos prantos enquanto carregava uma criança em meus ombros. Aos prantos porque a pior coisa que já me aconteceu foi ser obrigada a fingir que aquelas pessoas eram apenas vapor, e aqueles corações eram apenas de plástico. Corações não são de plástico. Contudo, me acostumei com a cor branca, e com almas. Hoje sou acostumada com os tons, sejam brancos ou pretos. Me acostumei com o céu azul e nuvens límpidas de certos países, mas o céu marrom de outros. Marrom pela bondade revestida de poeira que se dissipa no ar quando as guerras humanas dão um fim à humanidade em um estalo de dedos. E como já disse, não sou a culpada disso. Digo novamente; por vezes, o culpado do trágico fim da vida é o homem.

Mesmo acostumada com o fim, lembro-me da última vez em que chorei por conta disso tudo. O fim de Kim Seungmin. É para ele que ainda não suporto olhar, e muitas vezes procuro alguma distração para esquecê-lo — embora seja falho em muitas ocasiões. E isso me traz até aqui. Me traz até o assunto que tanto procura hoje, independente da cor ou do horário.
Esbarrei com Seungmin no mínimo três vezes.

Primeiro, a claridade. A cor branca da forma mais ofuscante. Ofuscante como o sol aconchegante que queimava os olhos de dois profissionais no final de novembro. Na verdade, aquilo não era sem motivo. Tudo se iniciou quando o som do telefone ocupou a sala do Departamento de Polícia com o seu barulho estridente, e, ao ser tirado do gancho, uma voz em tom desesperado encontrou os ouvidos do Delegado Park DongSun. Alyssa Collins era quem contava, desesperadamente, que havia encontrado o corpo de Seungmin no final do bosque. Como você poderia supor, ele estava morto.
Alyssa é uma boa garota, mas também a encontrei diversas vezes embora nunca tenha depositado total atenção à ela.

• UM LEMBRETE •
Sou um tanto quanto observadora, mas não sou maldosa. Sou apenas consequência.

A única coisa que consegui perceber foi o Delegado Park e o Investigador Bang se despedindo do Departamento. Tudo ocorreu muito rápido, e logo eles estavam na viatura. A tarde era gelada naquele dia, mas também conseguia ser agradável devido ao sol que pouco esquentava a cidade.
Vi o pavor dançar em suas orbes e senti seus corações perderem a calmaria. Os dois homens não tinham certeza sobre o que Alyssa dizia, então para não desesperar a cidade, resolveram por não ligar a sirene ou chamar outros profissionais da área. E, só após alguns minutos, eles foram capazes de chegar ao bosque de Sokcho.
A pouca luz solar os acariciou a pele enquanto flocos de neve dançavam no ar, e, de alguma forma, seus corpos transpiravam embaixo das fardas ao que eles precisaram deixar a viatura para adentrar o local. Talvez aquilo tudo devesse ao nervosismo que se instalava. E, ao esmagar a neve pelúcia com seus sapatos pesados, o nervosismo adentrou suas veias e correu pelo seu corpo. Vi as mãos de Chris tremerem enquanto ele andava ao lado de DongSun, pisando em algumas folhas secas que caíram das árvores em algum mês anterior. As árvores ali eram diversas, cada uma com o seu próprio tom esverdeado enquanto vestiam uma camada do branco que caía. Muitas tinham suas folhas unidas e isso fazia com que as copas impedissem que os raios ultravioleta adentrassem o interior daquela floresta. O cantarolar dos pássaros também era adorável e por algum momento me fez pensar que eu tinha voltado à vida. Eu enxerguei as cores novamente, mas não foi o branco amedrontador. O lugar era fascinante. Encantador. Ou qualquer outro adjetivo semelhante ao extraordinário. Era uma pena que escondia uma tragédia.

Death Says Hello • hhj + scb + ksmHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin