Cabelos longos e orbes jabuticaba.

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• O porta-voz e o início do pesadelo •

E, ao que fevereiro anunciou sua friagem ao congelar a ponta dos dedos dos moradores de Sokcho, os colégios tiveram seus portões abertos mais uma vez. A pausa anterior de dois meses, para Seungmin, foi tão lenta e maçante quanto o tique-taque do relógio que ficava na sala, mas conseguia fazer com que seu ruído ecoasse por cada cantinho da casa. E um dia que é composto por vinte e quatro horas se transformou, de alguma maneira, semelhante à quarenta e oito horas. Talvez isso dá-se à realidade monótona que ele se adaptou. De fato, houve um momento o qual nem mesmo os sentimentos mais ocultos em seu âmago e as lembranças mais singelas foram deixadas de lado, e ele expulsou tudo do seu íntimo ao ver as paredes como platéia. Mas acabou. E, depois disso, a única coisa que remanesceu foi o ato de encarar o teto branco e sem graça.

Houve também um dia que, farto do vazio, esquentou-se com o primeiro agasalho que encontrou e saiu em passos apressados até a brisa que o agredia o rosto, e buscou por qualquer loja que abrigava adesivos de estrela. E ele encontrou. No fim, correu de volta para o quarto desagradável e o preencheu as paredes com o universo que fantasiou em sua mente. Não haviam galáxias ali, nem planetas. Invés disso, o universo inteiro passou a morar nos olhos do garoto todas as vezes que era presenteado com o lume dos adesivos nas noites de trevas. O quarto que antes era preenchido pela cisma do atormentamento e ansiedade que flutuavam pelo nada, se tornou apenas o pequeno grande espaço de Seungmin. Aquele espaço onde apenas ele era o dono, e apenas ele conhecia de cor cada asteroide que empurrava de seu coração. E, mais uma vez, todas as preocupações se esvairam enquanto ele encontrava mais motivos para continuar fazendo o que tanto amava. E, desde então, ele não cantou para as paredes sofridas, mas para as estrelas fluorescentes.
Vez ou outra eu estava ali, e pode parecer suspeito dizer, mas houve vezes em que o cintilar do quarto do garoto era mais atrativo do que o cintilar que coloria o céu escuro. Talvez porque o que realmente importa não é a beleza do que se enxerga, mas o poder que tem sobre o coração inquieto. Mas é claro, as estrelas da rua Twinkle continuavam tendo o seu charme do seu próprio jeitinho.

E não tardou para que, animadamente, Seungmin fosse o primeiro a despertar de seu sono naquela manhã de fevereiro. De pouco a pouco, as noites de intensa insônia e pesadelos se transformaram em noites confortáveis embaixo dos cobertores que o acalentava o corpo. E, com as pupilas mal acostumadas ao crepúsculo matutino e as pálpebras ainda pesadas, encaminhou-se até o quarto de Jeongin.

• A PRIMEIRA IMAGEM CAPTURADA NA MANHÃ •

O quarto era como um museu com quadros feitos pelo próprio caçula. Quadros de cores quentes, mas outros de cores frias escondendo as paredes de desenhos abstratos e cores distintas. No canto, um cavalete segurava uma tela com esboços.
E, enfim, o único cacto que Jeongin por tanto zelava.

— Primeiro dia de aula, acorde! — Seungmin fez com que a preguiça se afastasse de seu corpo ao agarrar um dos travesseiros do irmão, arremessando-lhe ao ordenar. — Vamos logo, Jeongin. Não tenho culpa se você dorme tarde e não é capaz de acordar cedo, não sou seu despertador!

O caçula apenas murmurou, tendo os olhos ainda fechados e arco-íris nascendo em seus sonhos. No entanto, ao mais rápido piscar de cílios, Seungmin agarrou os pés desnudos do irmão e os puxou, e, apavorado com o movimento repentino, Jeongin despertou com o coração pronto para fugir pela sua boca, mas não aconteceu. Ao contrário do que imaginou, este o enforcou a garganta à mínima exclamação que ousou liberar, e logo encontrou o mais velho entretendo-se diante ao seu susto.

— Já estou acordado, chega!

Então os dois se separaram ao que a ocupação da manhã os acordou, de fato. Lembro-me de que, naquele dia, Seungmin não se preocupou com as tatuagens. Oras, aquilo não poderia ser considerado um problema em dias congelantes, pois era possível usar roupas largas e quentes livremente, mas, em dias calorosos, por exemplo, deveria de ser pensada uma desculpa muito bem elaborada para o uso de tais vestimentas.
E, ao admirar a paisagem pela janela de seu quarto, o garoto enxergou os flocos de neve que dançavam no ar e escondiam a grama do quintal e todo o asfalto da rua. Mas, ao liberar um suspiro, percebeu que o tique-taque do relógio já não era emitido tão lentamente, e ele precisava deixar a casa. Dessa forma, apenas procurou por Jeongin uma última vez após finalizar tudo o que era pendente para ambos. E não importava o dia, tampouco o clima, eles haviam a tradição de caminhar até o colégio mesmo que os fosse permitido utilizar o ônibus escolar. Este, entretanto, apenas lhes era útil em casos extremos, como atrasos ou cansaço. E, dessa forma, despediam-se eles da rua de estrelas cintilantes.
Pode parecer estranho para uns e um tanto comum para outros, mas, ao primeiro passo dado, os irmãos mal conectaram as orbes umas às outras ao que seus respectivos fones de ouvido bloquearam todo o som externo, e casacos quebraram um pouco do frio daquela manhã. Era impossível fazer com que o ar gélido de fevereiro se afastasse, e por isso Seungmin ainda tiritava embaixo dos tecidos.
Outros estudantes também caminhavam ali perto, e muitos eram dominados pela pressa ao amassarem a neve pelúcia com seus sapatos. Alguns deles até mesmo colidiam com os dois irmãos, sem paciência para pedir, educadamente, que eles se afastassem para que pudessem passar. Mas eles não se importavam com aquilo. De qualquer forma, eles nem escutariam os pedidos, tampouco as desculpas que não os foram distribuídas. E foi dessa forma que eles chegaram ao local não tão desejado por Jeongin, mas um tanto considerável para Seungmin.

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⏰ Last updated: Aug 27, 2021 ⏰

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