Capítulo 92.

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Rafaella.

Passou uns oito dias desde o dia da invasão, agora eu já vim pra Penha pra uma casa aqui, ela tá em um puta terreno que o Christopher falou que vai construir pra fazer uma casona pra gente. Ele quer começar as reformas o quanto antes, só não começou ainda porque tá tudo extremamente corrido.

Eu ia ficar na minha mãe, mas ele ficou com medo de me deixar desprotegida lá, até por ser favela de outro dono. Me trouxe pra cá, eu nem tô saindo muito porque ele ainda tá achando perigoso, tá esperando pra ver se ninguém vai armar alguma confusão e nem nada do tipo. Aqui ele tem mais controle na segurança e em tudo, resumindo o rolê todo.

Eu já tô gostando, amo de paixão São Paulo, mas tenho um carinho especial pelo Rio também. Sou cria daqui, tá no coração.

Aqui eu já pude conhecer o Rogê também, irmão do Chris. Eu nem sabia da existência dele, ele morava fora.

Me ajeitei no peito do Christopher e olhei pro rosto dele, pra ver se ele tava acordado ainda. Ele tava com os olhos fechados, mas só por não estar roncando eu já sabia que dormindo mesmo ele não estava.

-Bem?-Chamei e ele só resmungou "hum".-Seu irmão vai ficar aqui pra te ajudar a cuidar do morro?

Puxei assunto na intenção de descobrir algo. Tinha alguma coisa, eu já sabia, só não sabia ainda o que era. O Christopher só me apresentou o irmão dele, mas tudo muito superficial, não me contou o porquê dele ter ido morar fora, não contou sobre a cicatriz de queimadura que pega metade do rosto dele e que ele faz questão de esconder... Nada.

-Não, ele vai ficar um tempo só, depois vai voltar.

-Hum... Vocês dois são muito apegados, né? Eu percebi. Você tem muito mais intimidade com ele do que com os outros irmãos.

-Sempre fui mais apegado com ele.-Ele falou ainda com o olho fechado.

-Por que ele foi morar fora? Foi por negócios?-Perguntei e ele ficou em silêncio, do mesmo jeito. Se ele não falasse nada eu nem ia insistir, não ia ser invasiva também.

Deitei a cabeça no peito dele de novo, pensei que ele nem fosse responder, mas ele voltou a falar.

-Depois da cicatriz ele quis ir, pediu pro Vô pra ele ir trabalhar lá, quis sair do Brasil. Você já percebeu a queimadura no rosto dele, né?

-Percebi.

-Então.

-Como ele arrumou ela?-Ele ficou em silêncio de novo, acho que tava pensando se contava ou não.

-A gente era novinho, ele tinha vinte, eu tinha 19. Eu já tava envolvido, ele acabou entrando pro crime também, mas nunca foi um bagulho que ele gostava mesmo. Eu já gostava, já tinha ambição, ele não. Ele era o que fazia amizade de nós dois, todo mundo gostava dele, era o galã, todo mundo sabia quem ele era, as meninas todas caiam em cima. Isso sim era um bagulho que ele gostava, que deixava ele feliz.-Ele parou e passou a língua na boca, depois voltou a contar.-Em uma das nossas primeiras missões grandes aconteceu um imprevisto, nem era pra ele ir, ele foi de última hora pra cobrir um cara que não pôde. Aquela cicatriz que ele tem hoje foi tentando me salvar, a gente tinha ido roubar umas fiações de uma empresa, na época era um bagulho que dava muito dinheiro, pra gente que tava começando era grande, importante. Acabou tendo um incêndio, a maioria conseguiu sair, menos eu e um mano, ele já tava fora. O cara que tava comigo morreu, ele vendo que eu não tinha saído voltou pra me tirar de lá, caiu um fio aceso bem em cima do rosto dele. A carga de energia tava alta pra caralho, zuou metade do rosto dele, quase morreu tentando me salvar, os médicos tentaram arrumar, mas o estrago já tinha sido feito já. A autoestima dele morreu, era tão amigo de geral, acabou se isolando, não tinha mais menina em cima, todo mundo olhava com dó. Ele quis ir embora e eu ajudei, pelo menos lá ele tá feliz agora.-Ele terminou de falar e eu fiquei calada. Caralho, nunca nem imaginei.

-Essa queimadura na sua panturrilha é disso?-Ele concordou com a cabeça e eu fiz carinho no rosto dele, que continuava com o olho fechado.

-Você sabe que não tem culpa, né?-Ele ficou em silêncio.-Chris-

-Vamo dormir, vira aí.-Virou de lado e abriu o olho, mas nem olhou no meu rosto.

-Meu bem-

-Vai, Rafaella. Tô cansado, vira de costa aí. Vamo dormir.-Segurou no meu rosto me dando um selinho e já se cobriu até o pescoço. Soltei um suspiro baixo e virei de costa, fazendo ele me abraçar numa conchinha.

Eu nem imaginava, de verdade. É surreal isso, eu penso que eu conheço ele, mas sempre tem alguma coisa pra me surpreender. Quando eu penso que eu já vi de tudo na vida dele, aparece uma coisa nova pra me mostrar que realmente o Christopher é uma caixinha de surpresa.

-A culpa não foi sua... Você já passou por muita coisa, eu queria que você não tivesse passado por metade disso, mas agora você não tá mais sozinho. Eu tô aqui, você não precisa suportar tudo sozinho, Chris. "Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separa." Ouviu?-Virei um pouco a cabeça e ele me abraçou mais apertado, me puxando pra ele. Deu um beijo na minha nuca e sussurrou um "eu te amo".

-Te amo, vida.-Falei isso e fiquei quietinha. Acabei dormindo com ele fazendo carinho com o dedo na minha barriga.

Acordei no outro dia cedo, mas o Chris nem tava mais na casa. Me arrumei rapidinho e dei uma geral na cozinha, a casa já tava arrumada, minha mãe e minha madrinha vieram e me ajudaram a dar uma faxinona.

Olhei a hora e já mandei mensagem pro Rafael perguntando se eles já estavam chegando. A mensagem nem chegava, muito provavelmente o celular tava desligado durante o vôo.

Mesmo assim eu pedi pro Mk já ir esperar eles na pista de pouso, nada de aeroporto. Buscar eles e levar lá pra minha mãe, como a gente veio pra cá recentemente ainda não deu tempo de mobiliar, colocar cama e tudo mais. A Bruna e o Ra vão ficar lá.

Só a Raissa e o Eric que o Christopher fez questão de colocar em uma casa confortável, com o máximo de conforto e segurança aqui na Penha mesmo.

A mãe da Raissa foi viajar pro interior pra casa de algum parente distante delas, aí a Raissa aproveitou e já veio com o Eric. O Christopher tava querendo trazer ele sozinho antes de saber que a mãe dela tinha ido viajar, queria porque queria ver o filho. Quem disse que ela quis deixar? Aproveitou a viagem da mãe dela e falou que ela mesmo traria ele.

O Christopher tá maluco, fez comprarem um monte de brinquedos, ajeitar a casa no maior conforto do mundo pro filho dele. Tá super ansioso pra conhecer o Eric.

INDESTRUTÍVEL.Where stories live. Discover now