O Amor É Complicado

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Passei os olhos pelas roupas na arara, indecisa. Mordia os lábios e inclinava a cabeça, passando os dedos pelos diferentes tecidos e texturas, sem saber o que escolher.

– Anda logo, Sina, não temos o dia inteiro! – reclamou Heyoon, batendo um pé no chão repetidamente. – Qual o problema? Por que não se decide?

Não importava o quanto eu pedisse, ela nunca me chamava de Sina Maria. Dizia que meu nome era muito grande e ela desperdiçaria um terço da vida dela toda vez que precisasse me chamar.

– O problema é que eu não sei o que escolher – confessei.

Estávamos no Crisul Shopping Center fazendo compras para a festinha de aniversário do irmão da Heyoon, que seria no dia seguinte, e a criatura insistente estava me obrigando a comprar uma roupa nova para usar, já que, segundo ela, eu só tinha lixo no armário.

Vovô apoiava Heyoon totalmente e os dois conspiraram contra mim, dizendo que eu só podia voltar para casa depois de comprar algo decente pra vestir.

– Vamos, eu vou te ajudar – Heyoon disse, sorrindo pra mim com aqueles grandes olhos azuis e me empurrando para poder olhar melhor as roupas. – Que estilo você prefere?

Eu pensei sobre isso por um segundo e a resposta foi automática:

– O meu.

Ela rolou os olhos.

– Não querendo ser rude, amiga, mas seu estilo é péssimo – disse, olhando depreciativamente para minhas calças de moletom folgadas e para minha camiseta extra grande com estampa de patos.

De novo, não.

Ei, eu precisava ficar confortável para fazer compras, certo?

– Não foi isso que eu quis dizer – eu tentei explicar. – O que eu quero é algo que... bom, seja bonito, mas não roube minha identidade. Eu quero poder me reconhecer, não mudar e negar quem eu sou. Se for para comprar roupas novas, que elas tenham a minha cara.

Certo, eu estava vomitando besteiras, eu sabia. Mas aquele era meio que um assunto sério para mim.

Heyoon sorriu e assentiu. Eu já havia contado todo o drama da minha vida para ela e a garota entendia. Ela sabia o quanto aquilo era importante para mim, eu queria me orgulhar de ser exatamente quem eu era, sem precisar fingir ser outra pessoa. E eu queria que isso pudesse ser refletido nas roupas que eu vestia.

– Vamos lá, vamos escolher algumas coisas juntas – ela disse, puxando-me de volta para perto da arara de roupas. – As roupas não mordem, não precisa ficar com medo, Sininho.

Mais um apelido... é, eu sei, mas não tinha como dizer não para Heyoon.

Eu sorri e depois suspirei. Eu era ruim nesse departamento. Muito ruim. Mas estava na hora de parar de ser criança e deixar de ser insegura em relação a esse tipo de coisa. Eu era uma garota, não, uma mulher. Precisava começar a agir como uma.

– Relaxa, garota, você não tá indo pra guerra – murmurou Heyoon, rindo.

Assenti e me forcei a relaxar. Talvez eu ainda estivesse meio traumatizada com tudo o que aconteceu desde aquele fatídico dia em que minha irmã me arrumou para ir à festa do primo da Petra. Mas agora era diferente, eu não queria ficar linda ou ser outra pessoa, eu só queria ser eu mesma.

Depois de ficar repetindo isso na minha cabeça a cada minuto, as coisas ficaram mais fáceis e eu até me diverti. Heyoon era meio impaciente e teimosa, mas eu podia ver que ela estava se controlando ao máximo para não bater minha cabeça na parede a cada vez que eu não gostava de algo que ela havia escolhido.

O amor é clichê | NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora