sete | evelyn rose

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Era sábado de manhã, dia de coleta. O que significava que eu tinha que levar o lixo até lá embaixo. Coloquei a cabeça para fora da porta, espiando o corredor. Tudo silencioso como sempre era em meu mundo, só que também estava vazio e parecia que não tinha nenhuma alma rondando por aí.

Desci as escadas e ao invés de seguir para o saguão, fui para a porta de saída de emergência que dava para os fundos do prédio. Após jogar o saco dentro da caçamba, subi o lance de degraus de volta para meu apartamento.

Eu o avistei antes que ele tivesse a oportunidade de me ver. Hunt estava de costas para mim, entrando em seu apartamento. Prendi a respiração involuntariamente e parei de me mover.

Recuei com os pés para trás, na intenção de sumir de seu campo de vista. Só que ele se virou para fechar a porta e me pegou no flagra, o que fez com que eu me sentisse culpada como se realmente estivesse fazendo algo de errado.

Se ele fosse um vizinho como qualquer outro, teria acenado para mim e fechado a porta em meu rosto. Só que estávamos falando sobre Hunt Finley, o cara excêntrico que pintava as unhas de preto, sexy e que dispensava garotas de maneira rude. Todas esses complexos que faziam parte dele me ocasionava ficar intimidada e pronta para dar o fora. Só que o último, em especial, me deixava perplexa porque significava que ele era um imbecil arrogante. E imbecis arrogantes eram tudo o que eu sempre tinha evitado.

Meu escrutínio em Hunt começou por seus pés. Como sempre, coturnos gastos e com os cadarços estropiados e desamarrados. Jeans escuras e uma camiseta preta sem estampa alguma, os braços expostos marcados pelas diversas tatuagens. Ele parecia meio acabado, o rosto estava pálido e suas sobrancelhas bagunçadas.

O cabelo despontava para todos os lados, não daquele jeito estranhamente atraente mas, sim, desleixado. Parecia que tinha levado um choque. Também havia olheiras sob seus olhos.

Concluí que ele tinha virado a noite em algum lugar e chegado só agora.

Hunt pareceu ficar feliz em me ver ali, parada em sua frente. Ele até mesmo abriu um sorriso torto e charmoso que me fez suspirar involuntariamente. Acenei para ele e retribuí o sorriso - de uma forma mecânica - e dei um passo em direção a minha porta.

Achei que daria certo até ver que ele estava falando comigo. Suas mãos começaram a se mover e eu engoli um gemido em frustração, virando-me novamente para encará-lo.

- É bom saber que você me trata como se eu tivesse uma doença extremamente contagiosa. Do tipo que passa através de um único olhar. - Hunt puxou um maço de cigarros do bolso e acendeu um em seus lábios, mantendo contato visual comigo.

- Bom dia, Hunt. - Foi tudo o que sinalizei de volta.

Não dava para negar que eu estava evitando ele. Hunt já tinha percebido há um tempinho, o que me deixava ainda mais confusa já que eu estava claramente dispensando-o (o que parecia deixá-lo ainda mais motivado a vir atrás de mim).

Troquei o peso de uma perna para outra, os calcanhares sendo retesados confortavelmente em minhas pantufas. Só naquele momento me dei conta de que estava de pijama e que era um daqueles que Hunt costumava me caçoar por usar, para variar.

Ele tragou o cigarro e soltou a fumaça, o cheiro horroroso de tabaco impregnando em meu nariz.

Suas íris desceram por meu tronco de uma maneira íntima e um tanto desconcertante. Depois de terminar a sua análise, notei que estava tentando conter um sorriso em sua boca.

Um dos cantos de seus lábios estava puxado quase que de maneira imperceptível para cima. Foi difícil esconder a careta de desgosto enquanto ele fumava bem na minha frente. Na verdade, acho que estava com cara de poucos amigos no momento.

Die For You (completo na Amazon)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora