quatro | hunt finley

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O bar em que minha banda e eu estávamos tocando esta noite estava lotado, os universitários — em sua maior parte, da Harvard — se mantinham espremidos na pista de dança com algumas garrafas de cerveja em mãos. Atticus e Ian sinalizaram para mim, indicando que era hora da pausa. Só que eu estava tão eletrizado que não movi as solas de meus coturnos para fora da plataforma de madeira. Ao invés disso, meus dedos instintivamente começaram a dedilhar alguns acordes. O som saiu limpo, ecoando por todo ambiente, fazendo as pessoas voltarem a prestar atenção em mim.

Engoli em seco, ignorando a dor nas juntas de meus dedos pelas quatro músicas seguidas que tinha tocado e focando no início da melodia do meu solo de Bohemian Rhapsody na guitarra. Meu peito subia e descia rapidamente pela adrenalina, forcei-me a controlar a afobação crescente em meu interior e inspirar e expirar profundamente.

O começo foi calmo. A música ondulava através do instrumento no ritmo de um mar sereno. No último acorde da primeira parte, antes de entrar no trecho em que as coisas começavam a ficar agitadas, eu sorri torto e fitei a pequena multidão abaixo de mim. Franzi as sobrancelhas quando um vibrador atingiu o palco num baque surdo e rolou até a ponta de minhas botas. Curvei-me para frente junto com a guitarra, incapaz de conter a risada e não parei de tocar por um milésimo de segundos, mesmo que estivesse desconcertado. Eu estava habituado com sutiãs e calcinhas — inclusive, tinha pelo menos dez peças atiradas aos meus pés naquele momento — , só que o pênis cor-de-rosa de borracha era novidade.

Depois que me endireitei, entrei no refrão, que era para ser tocado a todo vapor. As pessoas pareceram ser incapazes de manterem os pés no chão naquela hora. Então quando o estrondo dos tênis esmagando o piso encardido do bar num ritmo constante quase sobressaiu o som de minha guitarra, eu tentei subir as notas para que ficassem mais agudas. A bateria entrou no momento certo, surpreendendo-me. Lancei um olhar para trás sobre o ombro e fui recebido pelo sorriso malicioso de Atticus. Ian se juntou a nós no baixo um momento depois. Aquela foi uma das nossas melhores performances desde Boston. Quando acabamos, o público pediu para que tocássemos outra. Só que já estava tarde e tínhamos que ir embora.

Saindo do palco, puxei a barra da camiseta para cima, secando a testa. Meu tronco estava molhado por conta do suor. Passei os dedos nos fios de cabelo úmidos, Ian jogou uma long neck gelada para mim, estávamos num corredor que ficava ao lado do palco. Era discreto e escuro. Dava para ter privacidade ali porque tinha menos barulho. O burburinho ficou abafado.

— Vai para casa? — questionou-me, os olhos fixos nos meus.

— Vou. Estou morto. Hoje foi intenso. — Fiz uma pausa para abrir a tampa da cerveja com os dentes, descartando-a. — Precisa de uma carona? — indaguei enquanto dava alguns goles em minha long neck, o líquido amargo e gelado refrescando-me um pouco. Quase soltei um suspiro.

— Não, valeu, cara. Atticus vai ficar aqui mais um pouco. Marquei com alguém. Ele vai esperar e depois me levar embora.

Quando anunciei para eles que iria me mudar para Massachusetts, meus companheiros de banda nem ficaram apreensivos. Disseram que dariam um jeito de continuarmos com a banda desde que todos nós — exceto Ian — tínhamos meios de transporte, além de que o metrô sempre era uma opção bem-vinda, então desfazermos a banda por conta de distância nunca foi uma opção. A dona do bar veio até nós um momento depois com o dinheiro enrolado em maços nas mãos.

Me despedi de Atticus e Ian e fui embora pelos fundos. Saí sorrateiramente porque não queria ter que lidar com as pessoas que gostavam da minha música naquele dia, eu sabia que também haveria muitas garotas dispostas a me fazerem levar-nas para casa. Por mais que eu adorasse sexo, não estava a fim naquela noite. Eu só queria deitar em minha cama e recuperar algumas horas de sono para a aula do dia seguinte na Harvard.

Die For You (completo na Amazon)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora