Pôr do Sol

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Depois de nos recuperarmos, e nos recompormos dessa foda alucinante banhada por notas de crueldade. Nós fomos passear pelo hotel, e procurar o restaurante pra comermos alguma coisa.

Já está tarde pra almoço, mas minha barriga está roncando.

Estou usando o vestido ridículo que Arthur separou pra mim e a sandália de salto, que estava usando antes com o vestido que eu vim. Não ficou tão terrível, não é uma roupa que eu escolheria pra mim, nem em um milhão de anos, mas até que eu fiquei bem gostosa nela.

O difícil é lidar com o olhar dos outros.

As mulheres me olham como se eu fosse uma vadia qualquer, sem o menor senso do ridículo e os homem me olham como se eu fosse uma vadia qualquer, que eles querem pegar e o fato de eu estar vestida assim, tem uma placa imaginária na minha testa escrito: Disponível pra você ser um babaca tarado comigo!

“Que sociedade fudida!” – penso, analisando o quanto é ridículo que o jeito com que nos vestimos, dá direito aos outros de traçar todo o nosso perfil e até o nossa índole.

Fico pensando nisso enquanto chegamos ao restaurante do hotel. Arthur segura a minha mão o tempo todo, acho que se pudesse estaria me puxando pela coleira, que aliás ainda está no meu pescoço. Ele não deixou que eu tirasse.

Vou ter que ficar a viagem inteira com essa coisa no pescoço.

Reviro os olhos pensando nisso.

Pedimos o cardápio e decidimos que vamos pedir uma pizza, um lanche reforçado, já que estamos famintos.

O restaurante está vazio, pela hora já avançada.

O garçom não tira os olhos do meu decote, não consegue nem disfarçar, o safado.

- Parece que você está fazendo um grande sucesso. – Arthur diz, depois que o garçom se retira com nosso pedido.

- Pois é, deve ser o meu charme e a minha simpatia – eu respondo fazendo graça.

- Com toda certeza é isso. -  ele responde irônico.

- Então...é a primeira vez que você vem aqui? – pergunto mudando de assunto.

- Não, eu já vim a uns três anos atrás. – Ele responde pensativo, como se alguma lembrança o tivesse encontrado nesse exato momento.

- Com outra vítima? – pergunto curiosa.

- Você não é vítima, só precisa de um corretivo de vez em quando, pra lembrar quem é que manda. – ele diz cerrando os olhos pra mim e não respondendo a minha pergunta.

- Mas olha, esse lance da pinça, foi muita maldade, até pra você. – digo sentindo um arrepio com a lembrança da dor.

- Você sobreviveu, e aliás você tinha como me fazer parar, não fez porque não quis. Acho que no fundo você curte uma dorzinha, só ainda não sabe disso, vamos ter que explorar mais esse lado. – ele diz calmamente.

- Vamos?? Nada de vamos, estou fora desse papo de explorar a dor. – digo enfaticamente.

- Veremos – ele conclui em desafio.

Eu o olho com olhos cerrados, enquanto penso no que vou responder. Mas sou interrompida pelo garçom que traz nossa pizza e o vinho que pedimos.

Foi muito rápido. “Que eficiência”

Decido aproveitar desse detalhe pra dar uma provocada no garçom e de quebra irritar o Arthur.

- Ual! Que rápido, o serviço aqui é sempre assim...tão incrível? – pergunto ao garçom, dando uma picadinha pra ele, que não esperava por isso e fica meio sem jeito por estar na presença do Arthur.

Domine quem for capazOnde histórias criam vida. Descubra agora