1. Piloto

39 2 0
                                    

Los Angeles era ainda melhor do que parecia nos filmes. E igualmente incrível. De tirar o fôlego.

Caramba, que lugar.

Sair de casa fora difícil, eu não pensei que seria capaz de fazer isso, deixar meus pais depois de ver minha irmã fazer o mesmo e me jogar a responsabilidade de ser tudo que eles tinham, mas agora, pouco mais de um ano depois de terminar o colegial, eu finalmente a entendia. Eu entendia porque também me sentia sufocada de pensar em passar o resto da vida cuidando da padaria da família, sendo alguém de quem eu nunca sentiria orgulho, alguém tão pequeno que desapareceria no mar de mesmice do lugar onde eu vivia com uma facilidade assombrosa. Esse alguém não era eu e eu não estava disposta a deixar que fosse.

Eu havia conseguido uma bolsa para a Universidade de Los Angeles, entre vários candidatos me escolheram. Eu era boa, sabia que não era um erro fazer o que tanto queria e vir viver com minha irmã no paraíso dos meus sonhos.

A vida sempre foi perfeitamente entediante, minha maior alegria estava nos filmes que eu via e nas histórias que eu adorava criar, em sonhar em dar vida a elas um dia e passar a noite acordada com minha irmã imaginando como seria ser tudo que sempre sonhamos, mas, bem, Maya foi embora e eu fiquei sozinha com meus pais e sua padaria, o legado da família que nós duas éramos obrigadas a carregar desde que aprendemos nossas primeiras palavras – posso te ajudar em alguma coisa? – e tudo pareceu ficar ainda pior.

Eu sempre quis deixar Ellicott City e fazer tudo que eu sempre sonhara em fazer, porém depois que Maya foi embora ficou mais difícil tomar a coragem necessária para informar a meus pais que eu pretendia fazer o mesmo, que não tinha qualquer interesse na padaria que eles tanto amavam e muito menos em ficar para sempre presa naquele interiorzinho em Maryland. Quando eu consegui, graças à bolsa da UCLA, é claro que, mesmo não sendo a primeira vez, não foi fácil para eles. Agora não tinha ninguém que pudesse ser seu sucessor no reino do pão e café. Meu pai se recusou a se despedir de mim e mamãe me desejou boa viagem com lágrimas nos olhos. Foi difícil e talvez eu nem estivesse pronta para aquela aventura, mas parecia mesmo que era o certo a fazer. Que era o que precisava.

De qualquer forma, naquele momento eu estava no elevador do prédio de minha irmã, rodeada de malas e tentando equilibrar nas mãos minha bolsa, meus cadernos, notebook, uma manta que eu usara no avião e a casinha de Zola, minha linda gatinha preta, com mais lindos ainda olhos verdes.

Eu me sentia exausta. Fora um voo cansativo, que falhara em me fazer esquecer os gritos de meus pais sobre eu ser uma cabeça-de-vento imprudente assim como minha irmã quando ele recebera a notícia, mas funcionara perfeitamente em me deixar ainda mais cansada.

Meu celular começou a tocar no instante seguinte e graças ao silencio que reinava ali por eu ser a única no elevador me assustei com o toque, pulando de susto e rolando os olhos para mim mesma em seguida.

— Céus, eu sou uma idiota – resmunguei, colocando a caixa/casa da gata muito lentamente no chão para conseguir pegar meu celular na bolsa, mas ao tentar pegá-lo, a manta que eu apoiava em meu ombro caiu sob minha cabeça, tampando minha visão, e eu soltei um gritinho, tropeçando em algo atrás de mim e caindo no chão bem a tempo de ouvir o elevador soar aquele barulho idiota que indicava que ele chegara ao andar solicitado e ver minhas malas caírem para fora como se estivessem sob aquele efeito dominó estúpido, isso sem contar com meu celular escorregando de minha mão direto para o corredor, por sorte, vazio à minha frente.

Bufei alto, juntando minhas coisas fora do elevador o mais rápido que pude e, por fim, pegando meu celular no chão, torcendo para ainda estar funcionando. Estava e eu suspirei de alivio.

Maya havia ligado, mas, como eu já estava em frente ao seu apartamento, guardei o celular no bolso ao em vez de retornar, buscando a chave reserva no esconderijo embaixo do tapete, exatamente como ela me instruiu por mensagem de texto. Me arrependi no instante em que a porta se abriu, soltando um gritinho de susto e virando as costas para a cena que encontrara. Maya estava em cima de um cara de cueca, com a língua em sua garganta enquanto as mãos dele apalpavam sua bunda e eu desejei mais do que tudo nunca ter visto aquilo.

Era uma vez em Hollywood - Bruna LobatoNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ