3. Garota da cozinha

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— Ei, você! – alguém exclamou, segurando-me com mãos geladas pelos ombros e eu olhei assustada para trás, dando de cara com uma mulher loira, de óculos de grau e expressão urgente. Desviei o olhar para seu crachá. Teddy Mariano. Montagem. – Estagiária?

— Anh... Sim.

— Imaginei, você parece perdida – falou. Eu ri, sem graça. Estava mesmo perdida, aquele lugar era enorme. Eu ainda não achara o local onde estavam filmando agora e cada vez que pedia informação me sentia mais confusa. – Damon está gravando uma sequência de cenas agora e precisa de café. Com muito creme – Teddy avisou, batendo em meu ombro e saindo no instante seguinte, não me dando a chance de responder.

Lembrei-me do que Brant dissera sobre conseguir café para ele no dia da entrevista e me perguntei se havia uma ligação entre o pedido de Mariano e sua condição, decidindo, no entanto, que não importava. Levar o café para Brant era uma ótima desculpa para encontrar o lugar onde filmavam.

Passei cerca de um minuto encarando a máquina de café da cozinha, me perguntando como algo que devia existir para simplificar a vida podia ser tão complicado e foi só na terceira tentativa que consegui o café com creme que Brant queria. Subi as escadas, segurando o café longe do rosto, mas não na frente dos pés, assim eu veria por onde estava andando e não teria que sentir o cheiro forte de cafeína perto demais. Antes, no entanto, que eu pudesse realmente olhar em volta para procurar alguém para me dar informações sobre a gravação, outra pessoa apareceu, um homem grandalhão com um crachá que o identificava como parte da equipe de som.

— Ei, isso é para o Damon? – perguntou. Assenti, então ele pegou o copo da minha mão e saiu andando, assim, sem mais, nem menos. Bufei, me perguntando o que diabos eu devia fazer agora. – Ei, estagiária! – O rapaz voltou em seguida e eu arregalei os olhos, virando para encará-lo. – Mais três cafés! Puros!

— Mas...

— Vou mandar alguém buscar! – acrescentou, já dando as costas como se eu sequer houvesse aberto a boca. Bufei e dei meia volta em direção a cozinha, encontrando mais três copos e enchendo com café.

— Kane acabou de gravar agora e precisa de cookies e uma Pepsi no camarim dela – alguém gritou ao passar pela cozinha e eu pisquei, sem nem saber de onde aquilo viera. Onde era o camarim de Adele Kane, afinal?!

Adele interpretava o par romântico de Brant na série, Kristen Cooper. Kristen vivia tentando equilibrar a crise do casamento dos pais para que um dos dois não simplesmente escapulisse e fugia da própria realidade com as drogas. Era uma personagem sensacional e Kane era uma atriz e tanto por conseguir trazê-la a vida como fazia. Embora eu não acompanhasse sua vida como teimava em fazer com a de Brant, lhe admirava muito por seu talento.

— Preciso dos três cafés puros! – o grandalhão exclamou em seguida, fazendo com que eu desse outro pulo de susto ao ouvi-lo, simplesmente porque havia acabado de me virar para limpar o café do chão. Ele riu ao notar a bagunça que eu fizera. – Primeiro dia? – questionou com humor e eu assenti, constrangida. Ele riu mais. – Você se acostuma. Me chamo Paul, aliás – falou, indo fazer o café que faltava enquanto eu limpava o chão.

— Obrigada, eu acho – murmurei, sem jeito. Ele colocou as bebidas numa bandeja, afastando do rosto como eu fazia e eu sorri, surpresa, ao notar isso. – Ei, você também não gosta de café?!

— Tá brincando?! Esse cheiro dá náuseas! – respondeu, com um sorriso no rosto, apesar da repulsa, e eu sorri ridiculamente pela surpresa.

— Eu sei! – exclamei e ele riu, acenando com a mão livre antes de sair da cozinha.

Uma vez sozinha, olhei em volta, perguntando-me onde diabos eles guardavam os cookies. Eu não viera para isso, definitivamente não, mas Kane era boa demais para ficar sem seus cookies e decidi que iria levar seus cookies e sua Pepsi e então tentaria descobrir onde estavam acontecendo as gravações.

Era uma vez em Hollywood - Bruna LobatoOnde histórias criam vida. Descubra agora