Era uma vez em Hollywood - Bruna Lobato

2. O resto da minha vida

Achei que Brant Damon era o príncipe herdeiro da Inglaterra quando o vi pela primeira vez, porém a primeira vez que o vi foi como Ethan Robbins e Ethan não tinha nada de príncipe. De alguma forma, porém, parecia impossível sequer cogitar alguém melhor para o papel e foi assim que tive a ideia para minha primeira tentativa de roteiro. Um príncipe rebelde que fugia de seu reino para viver a vida sem amarras ou obrigações com a política, como sempre quisera. Acabei transformando a história numa fanfic por não conseguir imaginar o príncipe diferente de Brant Damon.

Eu tinha uma quedinha por ele. Bom, todo mundo, em algum momento, já teve uma quedinha por ele, então me dei um desconto por isso. Brant era ácido, complicado, mas assustadoramente apaixonante. Como Ethan.

Talvez, só talvez, eu não houvesse me livrado completamente dos sentimentos que costumava ter por ele, mas, de novo, eu não devia levar toda a culpa daquela situação. Nunca me aparecera alguém que conseguisse me distrair dele simplesmente porque eu morava no meio do nada e todos os garotos da minha cidade eram, no mínimo, entediantes. Chegava a ser surpreendente que eu sequer houvesse dado um beijo na boca antes.

De qualquer forma, passei horas vendo TL pela Netflix na noite anterior na esperança de transferir todo sentimento conflituoso que já tivera por Brant Damon para seu personagem, o que eu não achei que fosse ser difícil, levando em conta que Ethan era incrivelmente apaixonante, porém meu plano foi por água a baixo quando decidi checar o Instagram e Kate, uma das garotas do elenco, tinha postado uma foto no set há dois dias e era possível enxergar Brant num sofá no fundo, distraído com algo em seu celular enquanto ela mostrava a língua para a tela do celular numa selfie.

Brant vestia uma calça de moletom escura, cinza, gorro preto e moletom também branco e, mesmo que ele sequer houvesse notado que estava sendo fotografado, é claro que era o tópico em grande parte dos 3000 e tantos comentários na postagem. Kate representava April Dionise na série, a melhor amiga de Kristen, o par romântico de Brant representado por Adele Kane. April também era a paixão de Daniel Gibbins e, com a chegada de Ethan, os diretores conseguiram desenvolver o relacionamento dos dois de forma maravilhosa, transformando-os no que eu chamava de OTP, ou One True Pairing, que era apenas mais uma nomenclatura para casal perfeito.

Torci para que a possibilidade de vê-lo perambulando sonolento pelos corredores do set de filmagem da série me desse a determinação que precisava para aquela entrevista ao entrar no táxi para a emissora, por volta das seis. Eu estava extremamente sonolenta, já que só tivera entrevistas depois das dez na última semana, mas essa estava marcada para às sete e eu não queria correr o risco de me atrasar. Pensei em passar na Magnólia, comprar um achocolatado ou algo assim, mas acabei desistindo da ideia ao me imaginar com um copo de algo que mancha num carro em movimento.

Não era seguro.

Repassei porque eu queria aquele trabalho, porque eu achava que merecia mais do que qualquer um, fiz um breve texto mentalmente sobre minha paixão por cinema e sobre como sempre acompanhara aquela emissora e admirara os trabalhos de toda a equipe, que dera fama a grandes nomes do cinema e da televisão, então respirei fundo e assenti para mim mesma quando o taxista estacionou, em frente à emissora.

— Muito obrigada – murmurei. Entreguei o pagamento pela corrida antes de abrir a porta e já estava saindo quando o homem assentiu.

— Boa sorte, garota – desejou, fazendo com que eu o olhasse surpresa.

— Como você...?

— Você está nervosa, se esforçando para parecer bem e confortável nessas roupas chiques que não devem ser suas, e puxou as tiras dos saltos pelo menos umas cinco vezes desde que entrou no carro. Imaginei que fosse precisar. – Riu e eu corei, assentindo devagar com a cabeça antes de desviar o olhar para os saltos em meus pés, sentindo as tiras coçarem em volta dos tornozelos.