In a hole in the ground there lived a hobbit.

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Ernest correu até o quarto do pai para pegar
os óculos do mesmo em cima do balcão. Uma tarefa simples. Pegar os óculos, descer as escadas, entregá-los a Louis e entrar no carro. Sua apresentação era hoje, não queria se irritar com nada e nem ficar preocupado. Veja bem, todos naquele dia o bajularam e fizeram suas comidas favoritas, deixando que ele assistisse o que quisesse na televisão sem ser interrompido e não o mandaram ficar calado quando precisou ensaiar algumas músicas.
 

Nada poderia dar errado àquela altura. Ele só precisava pegar os óculos do seu pai míope.
 

Talvez dar uma olhada na caixa de veludo ao lado do óculos, que basicamente estava no lado em que Harry dorme. Não mexa nas coisas do alheio, uma vozinha em sua cabeça disse. Seu coração bateu forte porque sabia o que aquilo significava, nem mesmo precisava abrir a tampa e espiar. Sentia o peso do metal entre os dedos, mesmo ainda na embalagem.
 

Mordeu o lábio. Pensou. Seu estômago embrulhou levemente, era como se ele não fizesse mais parte daquela casa, nem da sua família. Qual era o problema do seu pai? Porque não poderia ser apenas eles quatro? Styles, pai e filho, já moravam naquela casa que era dele. Céus eles teriam um filho em breve, iriam tornar oficial se casando e Louis nem mesmo pensou em contar a eles. Era demais. Esmagador. Ernest queria berrar com alguém.
 

- Ernie...

Doris o observava da porta, encolhida contra o batente. Nem mesmo havia percebido a presença da criança ali, mas pela forma que ela o encarava era perceptível que Ernest estava com alguma feição que a assustava. O garoto esfregou os olhos com o pulso, jogando a caixinha da aliança em cima da cama para pegar Doris em seguida nos braços, assim como os óculos que precisava entregar.
 

-x-

Agora com Ernest dentro do foco de seus olhos, Louis conseguia enxergar todas as suas pequenas feições irritadas. As sardas dançando de lá para cá toda vez que ele inflava as bochechas e soltava o ar extremamente impaciente. O rapaz encarou o seu mais velho pelo espelho retrovisor.
 

- Me desculpe Ernie, eu juro que não queria me atrasar mas--

- Não é isso, pai. - Disse secamente, se ajeitando no banco entre a cadeirinha de Doris, Freddie e Oliver. - Eu só estou nervoso.
 

- Nós precisamos de um carro maior. - Comentou Harry. Louis concordou, mudando de assunto e parecendo estar convencido com a explicação do filho para todos aqueles bufos e resmungos.

Para o azar de Ernest, as surpresas não pararam com a descoberta de um anel de noivado. Assim que chegaram na porta do colégio, além dos seus avós e avó Maura, Theo estava encostado na parede com um sorriso maior do mundo e, mais lindo do que era permitido normalmente. O garoto precisou segurar suas pernas para que elas não derretessem no chão e procurar lá no fundo toda a sua força de vontade para abraçar os parentes e passar reto por Horan, que céus, precisava cheirar tão bem?
 

Theo ficou prestes a chorar. Ele sabia que havia feito errado em magoar Ernest, mas poxa, já teria dado tempo do garoto perdoá-lo. Tudo aquilo parecia muito injusto. Aborrecido sentou-se nos bancos junto com os outros, ele daria suporte a Ernest em tudo, mesmo que o outro o estivesse odiando.
 

E ódio era o sentimento que estava predominando Ernest quando ele pisou no palco. Ele havia ensaiado, milhares de vezes por dia, sabia de cor as músicas, a coreografia. Ele era a Sandy perfeita. Ele tinha feito aquele musical às avessas acontecer, mudar a cabeça do seu professor de teatro. Mudou o foco de cima de Maybel e toda a história de fuga/sequestro. Porque então, quando ele abriu a boca, sua voz não saia? E só tinha espaços em brancos que eram preenchidos pelo seu coração quebrado, o marginal de cabelos azuis que fez isso bem a sua frente. Seu pai o olhando preocupado, mas ele também era parte daquilo. Ele quem jogou Ernest dentro daquela montanha-russa emocional que só ia para baixo.
 

the kids are alright ↺ l.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora