Capítulo Quinze

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Talvez eu devesse ter falado ao sr. Angel o que aconteceu, mas não quero causar mais danos, nem preocupar as pessoas com meus problemas. Se arrependo-me? Se sentir falta do Josh e chorar todos os dias por causa disso for arrependimento, sim, eu me arrependo. Jane trabalha para o Josh, e seria inevitável que ela descobrisse suas visitas, já que está explícito que estou sendo vigiada por aquela psicopata. Mas há uma pergunta que vem me dando dor de cabeça e aflição nessa última semana: Por que?

Espanto esses pensamentos e me concentro na música tocando em um pequeno rádio em cima do lavatório.

" It's probably what's best for you, I only want the best for you, and if I'm not the best, then you're stuck... I tried to sever ties and I ended up with wounds to bind...* "

Eu fiz o melhor para o Josh e minha família, eu fiz o certo.

Ouço o barulho da campainha. Deve ser minha avó! Mas ela tem a chave. Franzo o cenho.

Ouço o barulho novamente, e novamente, o que me irrita.

- Já estou indo! - grito para o ser impaciente.

Enrolo-me em uma toalha e vou correndo até a porta da frente molhando todo o chão. Maldito seja por ter que me fazer limpar isso depois!

Abro a porta sem olhar no olho mágico de tanta raiva, até que encaro uma figura loira de olhos azuis. Meu olhos se arregalam.

- Josh? - deixo escapar. - Josh, vai embora! - fecho a porta imediatamente. Meu coração dispara.

- Elizabeth, não pode fingir que não tem ninguém em casa! Eu quero respostas! Você saiu sem me deixar explicações! - ele grita e bate na porta ao mesmo tempo. Sinto que meu coração vai sair do meu peito a qualquer momento. Lágrimas teimosas insistem em descer, quando me dou conta já estou soluçando.

- Só vai embora, Josh! Pelo bem de todos nós, eu sou uma bomba relógio perto de você! Eu causei tudo aquilo! - falo sem pensar.

- Me explica, Elizabeth, e eu vou poder te ajudar! - ele grita com a voz embargada.

- Não, Josh, ninguém pode! - fico repetindo a ultima frase mentalmente.
Ninguém pode me ajudar, ninguém pode!

Giro a chave na porta e me sento com as costas apoiadas na mesma.

Depois de um tempo escuto barulho de um carro sendo ligado. Ele está indo e eu não posso impedir. Vou vestir-me e volto até a porta. Destranco-a e olho o lado de fora. Há tempos não piso na grama. O vento está forte e gelado. Viro-me para entrar em casa.

- Vai me deixar aqui? - uma voz grossa e rouca me assusta. - Está frio.

Viro-me novamente. Ele está apenas de camiseta e bermuda. Mesmo que eu possa acabar com tudo o que tentei fazer essa semana, eu terei que deixá-lo entrar. Verifico se não há ninguém na rua. Quando está seguro, o peço para entrar.

- Você pode sentar. Eu vou fazer comida. Está com fome? - falo sem olhá-lo. Sinto seus dedos gelados em meu cotovelo. Sinto um choque percorrer meu  braço e congelo.

- Por que está fugindo de mim?

- Eu não estou fugindo de você.

- Então olhe nos meus olhos e diga que não gosta de mim. - ele recua a mão do meu braço. Viro-me e olho em seus olhos. Aqueles olhos azuis me encarando, quase transparentes. A aflição estampada em seu semblante.

- Eu... eu... não... gosto mais de você, Josh. - digo, mesmo mentindo. Mesmo podendo perdê-lo. Mesmo correndo o risco de nunca mais vê-lo novamente. Então eu percebo nos seus olhos tristes que no momento em que ele me fitava, antes de me beijar, ele já me amava. E no momento em que batemos o carro, eu já o amava. Talvez eu sempre tenha o amado, penso.

LágrimasDonde viven las historias. Descúbrelo ahora