04 | não tenha medo

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ㅡ HEY, VOCÊ. ㅡ Eu disse ao alcançar o menino, quase colocando todas as minhas tripas para fora. Ele virou para trás e ao reconhecer meu rosto, começou a correr. ㅡ FILHO DA MÃE!! ㅡ Continuei correndo atrás dele, basicamente sentindo sangue sair dos meus pés. Aquele ratinho era muito rápido, zarpava entre as pessoas e coisas das calçadas e fazia movimentos engenhosos e bem sucedidos de parkour. Tive que pedir arrego umas três vezes, ao contrário dele, que parecia nunca ficar cansado de correr. ㅡ PEGA LADRÃO!!! ㅡ Gritei eufórico, dois homens me ouviram e se prepararam para o agarrar e tentando o encurralar.

ㅡ ... Me fodi? ... ㅡ Se questionou, até que deslizou, bem rápido, no meio dos dois, como um vulto. ㅡ Acho que não, otários. ㅡ Só naquele momento, o menino tinha arrancado o colar alheio e o girava pelos dedos. Esse moleque só deve ser parente do Jackie Chan. ㅡ AHHHH!! ㅡ Mas fui mais esperto do que ele. Aproveitei a brecha e o encontrei na outra extremidade.

O agarrei pelo colarinho do moletom, tentando ter controle da minha respiração. O olhei nos olhos outra vez e tive outro flash de momento, do meu coração batendo forte. E aquela vez não era diferente. Senti algo estranho vindo de seus olhos piedosos.

ㅡ Você disse que ia embora hoje de manhã! ㅡ Ele falou com a voz fanha, segurando meu braço com as duas mãos.

ㅡ Cala a boa, me devolve meu relógio, seu ladrãozinho de uma figa!! Devolve, ou eu vou te linchar aqui mesmo!!

ㅡ 'Tá doido? Não roubei teu relógio. ㅡ Ele riu irônico. ㅡ Me solta, cara! Vai estragar meu moletom!

ㅡ Filho da puta, roubar as coisas do outros, que não te pertence... É crime, sabia? ㅡ O arrastei até o banco da praça, chamando uma pequena atenção. Os outros dois homens continuaram cercando a impedir uma fuga repentina.

ㅡ Acontece que acusar sem provas também é.

ㅡ Eu estou vendo a porra da prova no seu pulso! Me devolve, me devolve meu Rolex!! ㅡ Bati em seu peito, com as mãos fechadas em punho, quase querendo pegar a força, mas ele se defendia.

ㅡ Meu querido, quem disse que eu roubei de você?! Só três pessoas na Coréia conseguiu comprar um. Eu fui uma delas. Se você perdeu o seu, sinto muito, azar. ㅡ Cruzou as pernas parecendo bem sínico.

ㅡ Seu desgraçado, sem vergonha, verme! Para de me enrolar com esse papo e mE DEVOLVEE!! Liguem para a polícia!! ㅡ Falei pros outros dois. ㅡ Por que você não se contenta com essa porra de relógio aqui?! Esse que é o seu. ㅡ Tirei do meu pulso e o joguei contra seu corpo. Aliás, a multidão que se formou ao redor começou a jogar um monte de coisas nele.

ㅡ LADRÃO DESGRAÇADO!! CANSEI DE SER ROUBADO POR ESSE INSETO!! ㅡ Ele tentava se defender das latas e pedaços de madeira que voava, com as palmas bem abertas.

ㅡ ALGUÉM TEM QUE FAZER ALGUMA COISA, SE NÃO ELE VAI ESCAPAR E FAZER DE NOVO!! ESSE IDIOTA ROUBOU O COLAR DA MINHA FILHA!!! ㅡ O rodearam ainda mais. As pessoas começaram a o cobrir de insultos e estavam preparadas para o cobrir de pancadas.

ㅡ Hey, espera aí, vamos conversar. Vamos conversar! ㅡ Pediu um pouco desesperado. Seu tamanho era ínfimo, então ficou em pé no banco da praça tentando administrar a sua defesa. ㅡ ... Achado não é roubado!

ㅡ ... VAGABUNDO! ㅡ Jogaram tudo que encontraram ao redor em cima do garoto, que apenas soltava arquejos de dor. ㅡ VOCÊ NÃO ACHOU, VOCÊ ROUBOU MESMO!!! PILANTRINHA SAFADO!!

As coisas que jogavam fizeram ele descer do banco, senti meu coração ficando mais pesado e piedoso ao que ouvia tudo aquilo, lembrei outra vez dos seus lábios nos meus e no quão triste seus olhos pareciam. Fui até ele, o pegando pelo colarinho outra vez. Seu boné tinha caído me deixando ver, finalmente, seu cabelo. Seus olhos, suas sardas, suas orelhas pequenas.

ㅡ Por favor, não... Nesse olho não, que ainda dói. ㅡ Ele colocou a palma em frente ao rosto, temendo que eu o socasse.

ㅡ LINCHA!! LINCHA!! LINCHA!! ㅡ A multidão enfurecida falou. Peguei em sua mão olhando para trás e resolvi o tirar daquela situação.

ㅡ Vem! ㅡ Saímos dali às pressas, deixando a platéia um pouco decepcionada por ter perdido um show. Nossas mãos estavam bem juntas.

( ... )

Paramos em um beco qualquer, sujo e sem movimento. Ele se agachou respirando fundo e eu me encostei na parede oposta.

ㅡ Caralho. Perdi meu boné. ㅡ Tocou os cabelos, que pareciam ser bem sedosos e macios. Tinham pequenas mexas roxas atrás. Caralho. Não era só um batedor de carteiras e um arrumador de encrencas. Era o assaltante mais lindo que eu já tinha visto.

ㅡ Ah, você está preocupado com a porra do boné? Quer ir lá e perder sua vida? ㅡ Falei fora da respiração.

ㅡ Nunca perdi minha vida num linchamento. Não é a primeira vez que isso me aconteceu. ㅡ Ele disse como se não fosse nada. Tirou do bolso mais uma carteira de um desavisado. Catou só as notas e deixou a mesma por ali e me deu as costas.

ㅡ Hey, seu babaca! ㅡ Gritei. ㅡ E minhas coisas?!! Você não vai me devolver?

ㅡ ... Que coisas? ㅡ Saiu andando vagarmente como se nada tivesse acontecido. Bati meus pés puxando meus cabelos frustrado.

ㅡ Eu salvei sua vida. Que tal me retribuir me dando as minhas coisas. Meu Rolex, minha carteira e meu celular. Me faça uma boa ação.

ㅡ Eu não estou com suas coisas. Não tenho nada a ver com isso. Você deve ter perdido em algum lugar. Estava bêbado ontem, muuuito bêbado. Eu que deveria chamar a polícia pra você. Por ter dado em cima de um menor.

ㅡ ... Você é menor?!! ㅡ Me impressionei. Aquilo poderia explicar porque é tão ágil. Engoli a seco, eu realmente nunca mais iria beber tanto.

ㅡ Hmn, estou brincando! Eu não sou de menor. Mas a sua cara é tão engraçada, ha ha. ㅡ Entramos em um supermercado. Iria seguí-lo até ter minhas coisas de volta, nem que fosse pro inferno. Ele era bem fofo, de uma forma que até poderia me fazer esquecer que era um delinquente.

ㅡ Você está com dinheiro, não roube a loja. ㅡ Pedi tocando seu ombro ao ver que ele analisava alguns produtos. ㅡ ... Está com fome? ㅡ Perguntei por ouvir seu estômago berrar como um cantor de metal. ㅡ Você não tem o que comer? ... Okay, eu vou pagar uma refeição para você. Mas depois, pelo menos meus documentos, você tem que me devolver, combinado?

GOOD LIL' BOY | ATEEZOnde histórias criam vida. Descubra agora