07 | o bang da bala

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Caminhamos mais um pouco até chegarmos no pior dos piores casebres da região. A lâmpada estava quebrada, a porta torta e a parede cheia de pixações. Ele riu abrindo a portinha do jardim da frente, me dando espaço para entrar.

ㅡ Bem-vindo ao meu Hotel 5 estrelas. Desculpa pela bagunça, mas... Realmente, não posso fazer nada. ㅡ Sorri bobo e fui rumo a porta de entrada. Se as pessoas soubessem o que San fazia por aquelas pessoas, talvez os odiassem menos. ㅡ OH MIN GI?!!

ㅡ Quem é Min Gi?! ㅡ Perguntei ao que ele tinha gritado alto no pé do meu ouvido quase me matando de susto. Entrando na sala, um jovem bem alto emperrou os olhos miúdos para ver quem havia chegado, se erguendo de um colchão fino do chão.

ㅡ Trouxe sopa pra você. ㅡ San foi até ele e se ajoelhou, enquanto eu sentia um aperto no coração de novo. A casa era simples, mas, pelas minhas inferências, dava de viver bem. ㅡ Sobrou muito hoje, as tias me deram um pouco. Cuidado, está quente. Vou pegar uma colher pra você.

ㅡ E quem é esse homem, é polícia é? ㅡ Min Gi continuava com os olhos emperrados em minha direção, fazendo o menor sorrir.

ㅡ Desculpa, ele não enxerga direito. ㅡ Sorri com as sobrancelhas quentes. ㅡ Min Gi, esse é um amigo meu. Disse que queria conhecer a cidade e me prontifiquei para isso.

ㅡ Ah... Entendi... Passa a grana. ㅡ Min Gi ficou de pé, tirando um revólver da cintura, mas mirando para a própria televisão. Mesmo assim levantei minhas mãos em susto. San abaixou seu braço sorrindo.

ㅡ Não, não vamos assaltá-lo. ㅡ Até porque o mais novo já está com tudo que eu tenho. ㅡ Ele veio nos fazer companhia no jantar. Ele é nosso amigo, okay?

ㅡ Ah... Então 'tá bom. ㅡ San pegou o revólver da mão dele e a trocou pela colher para a sopa e o sentou no sofá velho delicadamente.

ㅡ Não fica com medo, é de brinquedo. ㅡ A jogou em qualquer lugar. ㅡ E mesmo se fosse de verdade, meu irmãozão é bem ruim de pontaria. ㅡ Era perceptível. Tudo que eu conseguia pensar era em fugir dali no mesmo minuto, mas ao mesmo tempo ficar um pouco mais. Ele tirou um amontoado de roupas do varal no caminho, dando acesso ao corredor aos quartos.

ㅡ San... Quando isso de roubar começou? Em que contexto? ㅡ O segui em direção ao quarto que era dele. Também era bem simples, abriu apenas um pouco da janela de ferro porque também estava torta devido as pedradas. Haviam algumas telhas quebradas, mas nada que denunciasse calamidade. Tomou a direção do guarda-roupa pequeno e tirou uma caixa de sapatos de lá.

ㅡ Nosso pai nos ensinou a roubar, desde cedo. ㅡ Ele disse, trazendo a caixa nas mãos e com um sorriso pequeno. Sentou ao meu lado e a abriu. Esperava ver um montante de celulares roubados, mas ali só tinha papel e contas vencidas.

ㅡ Ah... Ensinaram um jeito de sobreviver, não foi... ㅡ Me sensibilizei.

ㅡ Não, ele realmente nos ensinou a roubar. Nos levava nas mercearias para pegar pão sem pagar, quase sempre eu servia de distração para uns desatentos no metrô. ㅡ Toquei minhas orelhas de novo pra ver se ainda estava com as argolas. San era mesmo, muito distrativo. ㅡ Ele era um revoltado. Minha mãe estava grávida de mim mas era muito frágil pra sustentar a gravidez. Foi uma gestação de risco e precisava de uma cirurgia urgente para que não morresse junto comigo no parto. Mas eles não fizeram. Não fizeram porque não tinhamos condição de pagar. Nós sempre vivemos nessa linha de pobreza... Não sei porque eu sobrevivi, mas... 'Tô aqui! E foi naquele momento... Quando o coração da minha mãe parou... Meu pai sentiu o desespero tomar de conta. Cuidou de nós do melhor jeito possível, mas ele estava completamente sozinho. Por isso que acabamos desse jeito. ㅡ Apontou para Min Gi, falando sozinho na sala como se estivesse esperando alguém a invadir.

ㅡ ... E o que aconteceu com seu pai? Foi preso?

ㅡ Morreu num assalto. A polícia atirou nele. ㅡ Ele disse com tanta naturalidade, como se estivesse me contando uma piada. ㅡ Jung Wooyoung, não é? ㅡ Assenti. Ele abriu uma carteira e a entregou para mim. Todos os meus documentos estavam lá, até mesmo meus 700$. Quase pulei de alegria. ㅡ Eu não fico com as coisas que roubo, a não ser que sejam extremamente úteis. Descarto logo, antes que a polícia venha atrás de mim e eu pare no chão que nem meu pai.

ㅡ Ah é? Então por que você rouba? É bem mais fácil evitar isso se não roubar. ㅡ Ele disse, remexendo mais a caixa, bem fácil procurando meu celular.

ㅡ Ah, sei lá... Acho que peguei costume. Eu me aproveito mais do dinheiro. Ah! ㅡ O observei subir em um banquinho, para alcançar o mais alto do guarda-roupa. Empurrou algumas roupas velhas para trás e finalmente pegou de volta meu iPhone.

ㅡ Aigoo!! Muito obrigado pela sua gentileza, menino! Eu sabia que você não era tão encapetado assim. ㅡ Ele riu com as sobrancelhas franzidas e começou a tirar a jaqueta. ㅡ E meu Rolex?

ㅡ ... Que Rolex? ㅡ Estendeu a jaqueta em um fio de varal voltando a ser bastante sínico.

ㅡ Choi San, tem tratamento pra isso, sabia? Talvez você só seja um cleptomaníaco. Mas é bem mais comum do que imaginamos. Você deveria prestar atenção nisso, nessa compulsão aí.

ㅡ Hey, eu não tenho um transtorno! Quando eu quero parar eu paro. Só o faço porque é divertido mesmo, e não tenho nada pra fazer. ㅡ Encostou na janela pensativo.

ㅡ Mano, tem um milhão de coisas pra você fazer e você escolhe roubar pessoas?! Isso não faz sentido pra mim. ㅡ Emperrei meus olhos e suspirei. ㅡ Tudo bem, vamos fazer um trato. Pelo Rolex, huh? Eu te levo para Seoul, tipo uma viagem, faço você se divertir e comer e em troca você me devolve, o que acha? É uma boa ideia, não é? Hmn?? ㅡ Afundei meus dedos em suas covinhas saltitantes.

ㅡ Caralho, você é insistente num relógio.

ㅡ Você quem é, o relógio é meu!! ㅡ Berrei.

GOOD LIL' BOY | ATEEZWhere stories live. Discover now