Perdida, eu?

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"Branca"

Dr. Davis se aproxima. Logo atrás dele estão Dr. Williams e uma senhora morena de pele clara e aparência elegante. Ela está de suéter de seda preto e um vestido do mesmo tecido. Sorrio para Renan, e ele passa por mim direto para o elevador. Não responde ao meu aceno. Minha atenção cai sobre a morena com os olhos redondos, os mesmos que vi em Richard. Eles param à minha frente.

- Então você é a Branca? – diz suave. Olho sem entender. Eu posso até fingir não saber minha identidade, mas meu nome com certeza não é Branca. A surpresa estampa o meu rosto, o que faz Richard interromper a interação. Ele sorri como se lembrasse de algo.

- Mãe, ela não sabe que a chamamos de Branca – explica – fizemos isso porque não sabemos o seu nome – seu olhar me pede desculpas. Balanço a cabeça em concordância – espero que não se incomode com o apelido – mostra os dentes perfeitos para a mãe.

- Branca, é um prazer conhecê-la – toma minha mão Katarina– sei que as coisas estão confusas, mas você está em ótimas mãos – olha para o filho com admiração. Ele balança a cabeça como se não reconhecesse o elogio. Percebo no entorno que as pessoas nos avaliam, ou melhor, observam o médio charmoso à minha frente. Vejo em seu dedo um anel de noivado, enquanto bagunça os cabelos.

- Senhora....

- Katarina – diz interrompendo minha fala – não precisa me chamar de senhora. Embora eu tenha idade para ser sua mãe, não preciso de tantas formalidades.

Abro um sorriso e continuo:

-Sim, Katarina – pauso para encontrar as palavras cuidadosamente. Se eu disser alguma coisa, poderei despertar curiosidade. E isso é definitivamente o que não preciso – estou me sentindo muito bem. Fico muito grata pelo que fizeram por mim – enfim, olho para Richard, que permanece sério.

Ela observa para o filho como se tivesse pensando em algo, mas ainda não tivesse dito em voz alta.

- Esse tempo em que você se recupera poderá ficar em casa, comigo – ela olha para Richard em busca de aprovação, o que não tem. Ele balança a cabeça se a ideia fosse ruim, e se mantém calado. Eu não posso envolver essa família na minha escuridão.

- Mãe, não é fácil. Você tem que cuidar do papai – apoia sua mão gentilmente sobre os ombros de Katarina, que tem uma postura imponente. Ela se vira para o filho.

- Está decidido – olha para mim – vou levá-la comigo. Ficará em casa até se sentir melhor.

- Se chamarmos a assistência social será melhor - tenta argumentar. Ela abre a mão no ar, impedindo que o filho termine a frase. Eu endosso a negativa de Richard.

- Katarina, acredito que a equipe de assistência social realmente me ajudará a encontrar meus familiares. Será melhor que eu fique com ela – minto. Digo da boca para fora. É obvio que ficar com os profissionais do governo estadual não seria uma boa ideia. Eles vasculhariam a até eu estar frita. Eles descobriram quem eu sou e eu estaria de volta às mãos "dele". Balanço a cabeça só de pensar no terror que seria.

- Nada disso. Não ficará com eles, ficará comigo – finaliza. Mesmo não querendo envolve-los, sinto-me aliviada e acolhida como nunca antes desde o falecimento dos meus pais. Richard desiste de suas argumentações e é obrigado a concordar.

- Ela estará liberada após o almoço – diz para a mãe - pode mandar o motorista apanhá-la.

- Certo. Às 15 horas, ele estará aqui – toca meu rosto em sinal de despedida, mas antes  Katarina olha meus trajes e faz uma anotação mental. Ela se despede de nós dois e nos deixa no corretor. Antes de sair, sua atenção se volta para o filho.

- Diga a Vanessa que está nos devendo uma visita – então sai antes mesmo de receber a resposta de Richard. Talvez ela seja sua noiva porque sua expressão relaxada logo enrijece.

- Posso pedir que me levem antes que sua mãe envie o motorista. Assim, você não precisa se estranhar com ela por causa da minha presença. Você já fez muito até aqui – sugiro.

Ele nega com a cabeça e mais uma vez coloca seus olhos azuis sobre os meus:

- Ela tem razão. Se ficar com a gente, a chance de se recuperar é melhor. E pelos exames, acho em no máximo um mês – tenta me consolar, mesmo aparentando desconfortável com a situação, algo que eu entendo perfeitamente.

- Tudo bem – abro um sorriso forçado.

Antes que eu me esqueçaOnde histórias criam vida. Descubra agora