Johanna

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*Eu prometo á você
**Case-se comigo

***

Anna sabia que os finais de ano deixavam toda a prole Brounckdorf numa espécie de surto controlado. Claro, não era uma família muito grande. Atualmente se referia aos pais de Hébio, ao próprio marido e o pequeno Rossier — que odiava ser chamado de qualquer adjetivo referente á pequeno, ela tinha anotado isso em algum lugar — então não era a situação mais preocupante do mundo. Os Brounckdorf também odiavam a Páscoa, o Ano Novo e pontos facultativos, mas o Natal era realmente o feriado que menos ansiavam.

Anna gostava de saber os motivos e razões por tudo aquilo, por que sempre tivera uma leve impressão que ao se casar com John, entraria em matrimonio com todos seus segredos que ele nunca revelaria. Não poderia estar mais errada. A maioria das coisas tinha descoberto sozinha. As que não sabia, Hébio tinha as contado de bom grado. Por isso, se sentia orgulhosa em saber que os laços familiares de seu conjugue e os pais eram tão fracos quanto seus pontos X nos bordados, e tradicionalmente o Natal era celebrado como um enlace obrigatório para refazerem suas relações que se desfizeram ao longo do ano. No seu primeiro Natal com a família ministerial, cometera o erro de achar que seria como um feriado comum com histórias engraçadas, bebidas quentes e elogios ao seu prato especial. Afinal, ninguém rira quando contara sobre uma luta que fora obrigada a separar no bar depois de um elfo doméstico se irritar com seu senhoril e partir para a agressão quase arrancando o nariz do sujeito, nenhum deles haviam sequer experimentado os seus Eggnogs que refizera três vezes até estar aceitável, e não teve viva alma que tivesse falando um “a” educadamente sobre sua carne assada com especiarias. Nem Hébio, que em todas as ocasiões era gentil e sociável em sua companhia, havia se manifestado. Era uma pessoa totalmente diferente com os pais por perto.  

E tinha Rossier, que era totalmente espelhado no pai e parecia ter herdado o dom genético de odiar feriados. Geralmente se recolhia cedo, como uma boa criança que precisava manter o sono regulado e dar atenção aos afazeres do dia seguinte, mas tudo soava como uma desculpa para não permanecer na sala por mais tempo do que era necessário. Totalmente sapiêncioso.

Era para seu quarto que estava se dirigindo agora. Os corredores da mansão estavam silenciosos. Anna fizera questão de dispensar a maioria dos empregados. Os elfos ficariam para servir o jantar e depois estariam liberados para sua própria cerimônia natalina, que ela acreditava — poderia apostar sua carruagem nisso — que era bem mais divertida que a estilo Brounckdorf.

O quarto de Rossier era o único ocupado no terceiro andar da casa. Em todo seu tempo morando ali, não se preocupara com gritos de um garotinho amedrontado por pesadelos ou com batidas tímidas na porta do dormitório do casal com uma criança de quatro anos pedindo para dividir a cama com os pais, como ela tanto ansiara algumas vezes. Ela nem sabia se Rossier era capaz de sonhar. Hébio definitivamente não era.

Quando chegou ao fim do corredor, encontrou a porta do quarto de Rossier totalmente escancarada, com um peso na madeira que a impedia de se fechar sem ação humana. A porta de Rossier sempre ficava aberta, como ele tivesse a necessidade de afirmar que não tinha nada a esconder, uma opinião madura demais para um garoto de nove anos.

Anna usou os nós dos dedos para bater na entrada, mais como uma formalidade do que para anunciar sua presença. Da porta da suite dentro do cômodo, ouviu um “Entre” no tom controlado da voz do enteado.

Avançou alguns passos até alcançar a cama dossel no meio do quarto. Não havia muito que observar. As paredes eram brancas, os móveis nus em madeira de carvalho escuro. Na mesa de atividades próxima á janela, livros e cadernos dividiam espaço com o que parecia a única coisa próxima ao que pode se chamar de “brinquedo”. Um pequeno objeto meio montado com peças pequenas, como um pássaro. Avião, na verdade. Uma miniatura de uma máquina que os trouxas usavam para voar. O único hobbie que Rossier praticava por puro prazer, uma palavra um tanto difícil que Anna havia anotado em algum lugar: Aeromodelagem.

M a r r i e dWhere stories live. Discover now