18 - Prefácio em memória aos vivos

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o ser humano é estranho, 

briga com os vivos e leva flores para os mortos, 

lançam os vivos na sarjeta e pedem um "bom lugar" para os mortos. 

se afastam dos vivos e se agarram desesperados quando estes morrem. 

ficam anos sem conversar com um vivo e se desculpam, 

fazem homenagens quando este morre. 

critica, fala mal, ofende o vivo, mas o santifica quando este morre. 

não liga, não abraça, não se importam com os vivos, 

mas se auto flagelam quando estes morrem. 

aos olhos cegos do homem, 

o valor do ser humano está na sua morte e não na sua vida.

(autor desconhecido)


em pleno século 17, Park Chanyeol perguntou a Byun Baekhyun o motivo por ele roubar flores. 

está tudo em minúsculo nesse curto e estreito tempo, correndo contra o ponteiro e lotando-te de vírgulas. o calendário grita da parede, mas é na sua agenda que a alma recorre a desespero.

eu tenho todos os teus sorrisos, amontoados e enfileirados em estações de felicidade instantânea. me acende e me queima, quero ficar pronto em três minutos e te encher de história. mesmo sem querer, te coloco fones no ouvido, uma canção de melancolia na garganta e lá vem ela, a Tristeza que contagia, rasgando o seu peito e querendo te levar para longe dos que te amam, apontando-lhe falsas acusações unicamente com o intuito de te enterrar aos gritos, te sepultar a sete palmos do coração.

escrevi todos os teus momentos bons em fotos, os teus melhores orgasmos em noites e as suas entregas em forma de eu te amo, não adianta fugir, eu tenho teus segredos mais rebeldes em mãos, alavanco as tuas brigas e as mágoas quando quero, soltando-te no meio da madrugada dentro das cadeias da tua mente, misturando preocupação com pitadas de expectativa e bingo!, o caos está feito.

vou te contar um segredo, ninguém nunca está bem por completo, ninguém é feito de ferro e eu tenho certeza que isso faz parte desse nosso mistério em forma de respiração, nessa pesada leveza de ser quem tu é, sem remorso ou justificação. 

vou te contar uma história, um menino que regava flores se encontrou com um garoto que sempre roubava-as do jardim da frente da casa em que morava, mas um dia, um dia o menino correu á tempo para pegar o garoto com a flor na mão, quase escapando do delito que cometia.

"ladrão!" o menino acusou.

"o que te roubei?" perguntou o garoto.

"a flor." respondeu o delito aparentemente óbvio.

"está para fora do portão, logo, ela pertence ao mundo."

"mas foi plantada na terra de dentro, ela ainda me pertence. estará a matando assim."

"e quem foi que te elegeu como dono dela? veja pelo lado bom, eu arrancarei tuas flores, assim continuará plantando outras mais lindas."

chanyeol estava confuso, baekhyun terminou o curto diálogo com um sorriso e saiu correndo, mesmo sem dar explicação. 

deram o primeiro beijo dois meses depois, a primeira vez foi no terceiro mês, no quarto de chanyeol. contaram para os pais no final do quinto mês, no sexto foram expulsos de casa e construíram um lar juntos, dentro um do outro, alugando uma casa bem aconchegante, mas com tanto amor que o lugar parecia ter ficado pequeno. noivaram em três anos, foi o dia mais feliz da vida deles, casaram-se meses depois e por tantos anos aprenderam, decoraram os costumes mais bobos um do outro. unidos, escreveram a própria história de forma linda mesmo que a caligrafia não ajudasse tanto. ficaram juntos na alegria e na doença, compartilharam dívidas, riquezas, os soluços entre as lágrimas e as risadas mais altas.

baekhyun morreu primeiro, enterrado com a flor que roubara de chanyeol quando jovem, sobre o peito. um ano e meio depois, foi a vez de chanyeol, morreu em silêncio, alguns diziam que sorrindo ou talvez roubado por algo ou alguém, na ponta de seu jardim bibliográfico, porque por fim, baekhyun tinha razão, a flor para fora do portão era do mundo, entregue a ventania de ser levada uma hora ou outra, sem os números exatos e sem segundos a mais. 

a vida passou num sopro e os levou junto, eram doces demais para viver na terra de uma época infértil. mas baekhyun não tinha com o que se preocupar, afinal, havia plantado sentimento, a semente mais valiosa e cultivada de outras vidas, com galhos ainda mais firmes regados a coragem, unicamente para que chanyeol viesse roubá-lo mais vezes, ensinando-o que era vivo que teria chance de doar-se ao mundo, mesmo que este estivesse tentando matar as flores de dentro de si. chanyeol entendeu que era flor, vítima do seu ladrão num crime de Amor.


aqui jaz Chanyeol e Baekhyun: vítima e ladrão.

ANTOLOGIA DE PARK E BYUN  | ChanBaekWhere stories live. Discover now