Capítulo 10

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"O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são."

— Friedrich Nietzsche.

Era engraçado o efeito que a paixão tinha sobre nós.

Não era apenas o latejar constante em seu corpo inteiro, ou as ondas frias e quentes em sua barriga. Era a antecipação do sofrimento, a certeza de uma tragédia iminente. Se apaixonar era, sem dúvidas, a forma mais acertada de afirmar que éramos todos, homens e mulheres, um bando de loucos febris e delirantes ansiosos para termos nossos corações dilacerados. O que havia de bom nisso?, me questionei enquanto fingia ouvir a tagarelice de Megan. Sempre haveria um — em certos casos, dois ou mais — corações quebrados, uma mente estragada e rotineiros pensamentos suicidas. Se apaixonar era o caminho mais bonito para a demência. Uma droga em que todos nós um dia seríamos viciados.

A alma velha aqui, naturalmente, já estava alerta sobre isso.

— A Sra. Fernandez acabou de chegar — informou a Sra. Murphy, cortando minha reflexão. — Ela está na sala da orientadora. Você deve ir para lá agora.

— Tudo bem — levantei num solavanco, com Megan ao meu lado.

Nós rumamos para a sala da Sra. Marshall. Através das portas de vidro escurecido, pude ver Amélia sentada em uma das cadeiras acolchoadas cor de grafite, conversando algo com a orientadora. Ao me ver, ela sorriu. Despedi-me de Megan, pedindo que ela me desejasse sorte.

— Oi — dei um beijo na testa de Amélia, logo após adentrar a pequena sala estéril. — Espero não estar roubando seu tempo.

— Está tudo bem, querida — ela sorriu. — Você está bem?

— Perfeitamente bem.

— Olá, Srta. Saccer — a Sra. Marshall disse, sorrindo de um jeito agradável.

Sorri em resposta, embora de um jeito menos amigável.

— Pelo que vejo, você está melhor.

— Não há nada de errado comigo — estava claramente na defensiva.

— Eu sei, não é isso que estamos pensando sobre você. Queremos ajudá-la. Eu quero ajudá-la.

— Acho que não preciso de ajuda, a não ser que seja boa em Cálculo.

— Querida, escute o que ela tem a dizer — Amélia pediu. — Quem sabe você consiga arrancar algo positivo de tudo isso.

Mordi o lábio. Após um momento, respondi:

— Tudo bem — relaxei o maxilar. — Mas vou logo dizendo que não tenho bulimia.

— Então está me dizendo que esses boatos são falsos? — a Sra. Marshall, uma mulher semibonita de vinte e tantos ou trinta e poucos anos, com seus cabelos castanhos meticulosamente arrumados, fitou-me de olhos apertados.

— Sim.

— E porque alguém inventaria isso? Você tem algum palpite?

— Acho que a senhora deve saber como os adolescentes podem ser odiosos. Aliás, nosso comportamento é odioso boa parte do tempo.

Ela riu.

— Hormônios à flor da pele, preocupações com o colégio, família, namorados, popularidade — ela suspirou. — É realmente um fardo grande ser adolescente e...

A Sra. Marshall iniciou seu discurso sobre adolescência, acionando o botão "Desligar" dentro de mim. A Sra. Fernandez percebeu minha falta de atenção, como era habitual, então me acotovelou furtivamente. Pestanejei, me ajeitando sobre a cadeira e voltei minha atenção para a Sra. Marshall mais uma vez.

[DEGUSTAÇÃO APENAS] Do Éden à Luxúria - Trilogia O Círculo dos Imortais Vol.IWhere stories live. Discover now