Capítulo 39

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Capítulo 39

O som suave do violino ecoava pelo closet. Victor ouvia a música que Ítalo compôs para ele, enquanto ajustava o nó da gravata. Apreciava-se vestido com um terno preto para dar o passo mais importante da sua vida.
A cerimônia do seu casamento aconteceria dali a algumas horas. Vendo pelo espelho a sua imagem vestido de noivo, Victor contempla a felicidade da realização de um sonho.
Para ele era uma dádiva se unir ao homem que ama em matrimônio. 
Prometeu a si mesmo retribuir a Ivan toda a felicidade que o empresário lhe proporcionava.
No entanto, a lembrança da última vez que estivera com Ítalo, na noite de natal,  ainda se mantia nítida em sua mente.
Quando chegou a entrada do seu condomínio, Ítalo o aguardava vestido com uma calça preta e uma camisa de mesma cor. Os seus cachos estavam molhados caídos sobre a sua testa, o deixando ainda mais sexy.
O cheiro do seu perfume e o toque das suas mãos que produzem músicas tão bonitas fizeram Victor sentir-se o pior dos pecadores por desejar outro homem que não era o seu noivo.
_ O que você quer? Seja breve.
Ítalo notou o nervosismo no loiro, que olhava para todos os lados com medo de ser flagrado.
_ Quero dizer que eu te amo.
_ Ítalo...
Victor sentiu os dedos do violinista tocarem nos seus lábios.
_ Eu não sei o que está acontecendo comigo. Eu não consigo parar de pensar em você. No nosso beijo. Te desejo como louco. Sonho com a sua boca, com o seu corpo e sei que você também me deseja.
'Quero te pedir que não se case com Ivan. Eu sei que há uma voz dentro de ti que grita de desejo por mim. Peço que a ouça. Eu não sou rico como o Ivan. Não posso te oferecer nem a metade do que ele te dá, mas vou fazer o possível para te fazer feliz do jeito que você merece.'
Victor se afastou do violinista, ficando a poucos passos de distância.
_ Eu sei dos meus sentimentos. Tenho certeza que a Ivan que amo. É com ele que vou me casar. Não tem nada a ver com dinheiro. Eu peço que você me compreenda.
'Desejo que você encontre alguém que te ame do jeito que você mereça. Espero que você aceite e não faça mais o que está fazendo. Você pode acabar atrapalhando a minha vida. E se o Ivan entendesse de um jeito errado?'
_ Ivan não te merece. Ele não é uma boa pessoa. Será que  você não vê? Ele destruiu a vida do Gael porque não aceitou uma rejeição. Já parou para imaginar o que ele faria com você se não o agradasse?
Nessa hora, Victor ficou mexido. Percebeu que as palavras de Ítalo faziam algum sentido.
_ Eu já te disse para parar com isso! Não adianta! Eu amo Ivan. Te peço para que se afaste de mim. Eu gostaria muito de manter uma amizade contigo, mas pelo visto não é possível. Já pensou se o Ivan nos pega aqui? Puxa, hoje é uma noite especial pra mim. Estou com o meu noivo e com a minha família. Eu não quero estragar tudo.
_ Eu sei que você gosta de mim.
_ Ítalo, pelo amor de deus!
_ Tudo bem. Ivan não presta e um dia você vai perceber isso. E vai doer. Você vai sofrer muito. Quando isso acontecer, pode me procurar. Não tenha vergonha de me ligar. Eu estarei te esperando e vou te receber de braços abertos.
_ Você está agourando o meu relacionamento?
_ Não. Eu não preciso fazer isso. Algo dentro de mim me diz que Ivan vai te machucar muito e meu coração dói por não poder evitar. Mas, saiba que quando precisar de um ombro. Pode contar com o meu.
Ítalo se despediu dando um beijo no rosto do louro, que o observou partir em sua moto.
_ Você está lindo, meu solzinho. Dá até vontade de pular logo para a noite de núpcias.
Ivan sussurrou essas palavras ao pé  do ouvido do noivo,  enquanto o abraçava por trás.
_ Não dá azar a gente se vê antes do casamento?
_lógico que não! Isso crendice idiota dos héteros.
Victor obervou como o seu noivo ficava lindo vestido de terno azul escuro. Tão perfeito, que o fez suspirar.

Mesmo correndo contra o tempo, a agência de casamentos conseguiu realizar todo o trabalho com a eficiência e rapidez que Ivan exigiu.
Victor não se incomodava em esperar um pouco mais para realizar o casamento, mas Ivan foi irredutível na sua decisão de se casar o mais depressa possível. Como vivia com medo de perder o amado, não admitia perder tempo.
A celebração foi feita de um jeito simples e sofisticado. O lugar escolhido foi uma mansão bem conservada, construída no século XIX.
Conhecida como centro cultural e por realizar  celebrações de matrimônios de pessoas de alto poder aquisitivo.
A cerimônia civil foi realizada num dos  salões  decorado especificamente para isso, com cadeiras clássicas  de madeira, acolchoadas e estofadas de branco. Flores brancas como Hortênsias  e palmas compuseram  a decoração.
O salão seguinte, foi onde celebraram a festa com mesas  redondas para os convidados, compostas por talheres de prata, pratos de porcelanas e taças de cristais e arranjos de flores brancas enfeitando as mesas.
O bolo  de três  andares reinava sobre a  mesa principal.
A pista de dança era larga e espaçosa o suficiente para que todos pudessem bailar.
A emoção foi inevitável para o casal de noivos. Sorriam com os olhares e lábios, orgulhosos de se unirem em matrimônio. O amor era celebrado de uma forma estupenda, com os seus corações preenchidos de ternuras e desejo de caminharem juntos durante o resto de suas vidas.
As alianças foram trocadas simbolizando um laço de amor entre o casal de amantes. Ouvir o juiz de paz os declararem casados foi para eles uma alegria incomensurável, expressada num longo beijo e bater de palmas dos convidados.
Virgínia e Renato se orgulhavam de serem testemunhas da felicidade dos amigos. A menina agradeceu aos céus por completar dezoito anos algumas semanas antes do casamento.
Renato se orgulhava da felicidade do amigo. Para ele, Ivan era merecedor de tudo de bom que o amor pudesse proporcionar.
Andréia ficou satisfeita em presenciar a felicidade do filho. Apesar de doer vendo o seu passarinho voar, ela suspirava aliviada de Victor viver numa época, onde celebrar o amor não era mais impedido pela lei. Desejava em silêncio que a felicidade reinasse sobre a vida do seu filho e genro.
Adrian se orgulhava do seu sobrinho querido. Com lágrimas nos olhos se recordou da  terrível noite em que o encontrou quase morto na parada do ônibus, do medo desesperador de perder o seu queridinho e agora todo aquele terror estava no passado. Alegrou-se em vê o seu menino feliz se casando com um homem lindo e rico.
Os avós também compartilharam da mesma alegria. Mas, Roseli estranhou o fato da mãe de Ivan não ter sido convidada.
Luíza foi a contra gosto. Não queria magoar o irmão, mas acabou cedendo as insistência da mãe para acompanhá-la. Fernanda comentou com a filha a estranhesa em vê que a cozinheira da casa do casal Matarazzo, Maria, havia sido convidada.
_ Quem diria que Ivan tão esnobe convidaria a cozinheira? O que não é tão espantoso, já que se casou com um rapaz de uma classe social um pouco abaixo da dele. Agora convidar a empregada foi um pouco além do limite.
_  Você também é a empregada dele e está aqui. Por caso se esqueceu que agora é a secretária do Ivan?
_ Mas é diferente. Eu sou da família.
_ O Victor me disse que gosta muito da Maria. A ideia de convidá-la veio dele. Ivan jamais faria isso.
_Está  tudo tão bonito, né minha filha! Bem que poderia ser o seu irmão o noivo. Mas, Gael é burro.
_ Uh, é,  mãe! Você não era toda preconceituosa com as uniões homoafetivas? Agora está aí se lamentando que não é Gael que está no lugar do Victor.
_ Eu era preconceituosa. Graças a deus mudei o meu jeito de pensar. O amor é igual para todas as sexualidades. É bom e todos devem ter direito a serem felizes. Preconceito só serve para tornar as pessoas infelizes.
_ Hum! Parabéns, hein dona Fernanda! Quem te viu quem te vê. Evoluiu  como um Pokémon.
Luíza se negou a entrar na fila para abraçar Ivan, dizendo que não era hipócrita o suficiente para isso. Optando por abraçar Victor mais adiante, quando estivesse distante do marido.
O dia estava lindo do lado de fora, com o céu com poucas nuvens e um calor não tão desconfortável como sempre faz nessa época do ano na cidade maravilhosa.
_ Eu desejo muito que vocês dois sejam muito felizes. E que você, Ivan, cuide muito bem do meu coração. Esse menino vale ouro.
_ Disso a senhora pode ficar tranquila, dona Roseli. O seu coração está muito bem cuidado nas minhas mãos._ disse Ivan beijando o amado.
_ E você,  muito obrigada por tudo que fez e faz pelo meu neto. Nós não somos ricos  e refinados como a sua família, mas te recebemos de braços abertos na nossa.
_ A senhora não sabe o quanto eu fico feliz em ouvir isso.  Eu gosto muito de todos vocês.
_ E dê brinde tem eu, que sou a "madrinha" do casal._ disse Virgínia.
_ Você é um encosto isso sim.
_ Que maldade, dona Roseli. Ah, e também tem o Renato para compor a família, já que vai se casar com a Andréia.
Andréia a olhou de um jeito repressor.
_ Você fala demais, menina.
_ Fala com razão.  Logo, logo seremos nós. _ disse Renato beijando Andréia e todos gritando.
_ Beijo hétero a uma hora dessas?! Isso é uma afronta a moral e os bons costumes._ brincou Victor abraçando o casal.
Ivan admirou a ausência de preconceito da família de Victor, no fundo,  desejando ter tido uma família semelhante.
_ Eu só estou preocupada com essa lua de mel. Tinha que ser tão longe e num lugar tão frio? Victor, vê se agasalha bem, porque o seu nariz sangra no frio.
_ Começou a minha mãe.
_ É verdade. Ou você tá pensando que o frio europeu é como o do Rio de Janeiro? Lá parece um freezer.  Ah, e não esquece de levar a bombinha para asma, tome os seus remédios certinhos. E Ivan, eu fiquei sabendo que você gosta de esquiar, mas não deixe o Victor fazer estripulias , porque  ele não sabe. Pode acabar se machucando e ...
_ Mãe, eu não sou mais um menino. Sou um homem casado.
_ O fato de ser um homem casado não anula o fato de ser o meu filho.
_ Pra nós você continua sendo o nosso menino.
_ Pronto, vovó e mamãe juntas. Socorro!_ Victor disse beijando o rosto das duas mulheres da sua vida.

Verdades secretas Where stories live. Discover now